A Igreja e os jovens

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25/07/2018 - 10:30

A “nova evangelização” não poderia deixar de interessar-se pelos jovens, que são o futuro da Igreja e de sua missão, mas também são o rosto de esperança atual da mesma Igreja. As perguntas iniciais que precisamos fazer são essas: a ação evangelizadora e pastoral que fazemos hoje envolve os jovens? Há jovens em nossas paróquias e em qual medida eles estão sendo ajudados a sentir a nossa Igreja como sua também? 

O Concílio Vaticano II, em 1965, fez uma bela mensagem aos jovens e, ao longo das décadas pós- -conciliares, surgiram muitas iniciativas fecundas de evangelização da juventude, como os movimentos eclesiais e as pastorais da juventude. E são ainda agora, em geral, essas organizações e suas iniciativas que conseguem ter mais êxito na evangelização da juventude. Nossas paróquias, geralmente, estão em contato com uma minoria dos jovens das mesmas paróquias. E isso representa uma grave preocupação para o presente e o futuro da Igreja. Se os jovens não são inseridos hoje na vida das comunidades paroquiais, será que estarão inseridos no futuro, quando já adultos? 

As Jornadas Mundiais da Juventude, iniciadas com o Papa São João Paulo II, realizadas a cada três anos, em média, sinalizam para aquilo que deveria acontecer de maneira constante em nossas Igrejas particulares e comunidades eclesiais. A “opção preferencial pelos jovens”, feita na Conferência Geral do Episcopado da América Latina de Puebla (1979), e renovada na Conferência de Santo Domingo (1992), ainda precisa ser muito mais implementada em nossa Igreja. Ocupar-se com os jovens não é tarefa opcional e facultativa para a Igreja, mas é parte da sua própria razão de ser na história. Sem alcançar e envolver a juventude, a missão da Igreja estaria incompleta e ficaria comprometida, sobretudo diante da questão crucial da transmissão da fé às novas gerações.

Em outubro deste ano, teremos a 15ª. Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, inteiramente dedicada ao tema - “jovens, fé e discernimento vocacional”. O Papa Francisco convoca a Igreja a se ocupar dessa questão tão relevante para a evangelização; na preparação da Assembleia, os jovens do mundo inteiro, crentes ou não crentes, foram convidados a se manifestar sobre o tema do Sínodo. Bispos de todas as Conferências Episcopais, com representantes dos principais Organismos eclesiais, e muitos jovens estarão reunidos por três semanas, com o Papa Francisco, para a reflexão sobre o assunto. 

O tema da próxima Assembleia do Sínodo dos Bispos envolve três focos: os jovens, a fé e o discernimento vocacional. Naturalmente, fé e discernimento vocacional estão relacionados com o primeiro foco – os jovens. A Igreja põe-se à escuta da realidade dos jovens, para fazer um discernimento evangélico sobre essa realidade imensamente variada na atualidade. A pós-modernidade globalizada exerce forte influência sobre os jovens. Diversamente daquilo que acontecia em tempos passados, quando os jovens estavam muito mais em contato com a família e a sua comunidade de origem, os jovens encontram-se hoje rapidamente desenraizados do ambiente familiar e da influência das suas comunidades de origem, como também da própria Igreja. 

Bem depressa, eles encontram- -se diante dos desafios de sua inserção num ambiente cultural que pouco lhes dá ajuda para cultivarem e aprofundarem os valores aprendidos na infância, em família, quando não lhes é francamente hostil. O mundo concorrido do trabalho e da economia e as pressões ideológicas presentes com frequên- cia nos ambientes da educação e da formação profissional exigem deles um discernimento e uma maturidade que ainda lhes faltam. Os desafios dos jovens relacionam-se, em boa parte, aos valores da fé, da moral e da sua relação com Deus e a Igreja. Dizem respeito às escolhas que precisam fazer nesse momento da vida, como a sua vocação, a profissão e as que dizem respeito à sua vida afetiva. 

O Sínodo de outubro se propõe a ouvir os jovens em profundidade e a discernir sobre as questões postas por eles, a partir do bem dos próprios jovens, à luz do Evangelho e da missão da Igreja, que precisa e quer estar mais com os jovens e ao lado deles no discernimento que precisam fazer sobre as questões cruciais de sua vida e de seu futuro. Propor aos jovens a vida na fé e no caminho de Jesus e do Evangelho faz parte da missão da Igreja, que não poderia deixar de fazê-lo em vista do bem maior dos próprios jovens. Ao voltar-se para eles, antes de apelar para a sua conversão, é a própria Igreja que se propõe a fazer um caminho de “conversão pastoral e missionária”. E isso requer mudança de atitudes e posturas pastorais em relação aos jovens. Ficaremos atentos às indicações do “sínodo dos jovens”.

 

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 25/07/2018