Cristãos leigos: novo documento da CNBB

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14/09/2016 - 00:15

Quem são os cristãos leigos e qual é sua missão na Igreja e na sociedade? Este é o tema do documento nº 105 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), fruto da assembleia geral da Conferência realizada em Aparecida, em abril de 2016.

A abordagem do tema situa-se no contexto da comemoração dos 50 anos do Concílio Vaticano II (1962-1965), que consolidou uma nova compreensão da Igreja como “Mistério divino-humano”, através do qual Deus realiza a obra da salvação do mundo, e como “povo de Deus”, integrado por todos os batizados, chamados à mesma graça e à missão comum de testemunhar do Evangelho do reino de Deus no mundo.

O Concílio trouxe um grande avanço na compreensão do laicato: não são membros secundários, nem apenas os beneficiários da ação da Igreja; são seus membros e participantes da mesma dignidade de filhos de Deus; e também são participantes da mesma missão da Igreja, exercida por eles de maneira própria ao seu estado. Por sua vez, os ministros da Igreja têm um chamado e dons especiais a servir a Cristo e ao Evangelho na Igreja, da qual eles também fazem parte, junto com os leigos.

A doutrina do Concílio sobre os leigos aparece especialmente na Constituição Dogmática Lumen Gentium, sobre a Igreja, nos capítulos 2 e 4, e no inteiro Decreto Apostolicam Actuositatem, dedicado à missão e vida apostólica dos leigos; destaca-se que a missão prioritária dos leigos realiza-se no “mundo secular”, sem deixar de lado a sua colaboração na vida e na missão interna da própria Igreja.

Logo após o Concílio, houve um grande fervilhar de iniciativas voltadas à formação dos leigos e ao incentivo para a sua colaboração na missão da Igreja. Quase não há documento do Magistério da Igreja, durante os 50 anos posteriores ao Concílio, que não dê uma atenção especial aos leigos. Foi importante o Sínodo sobre os leigos, do qual veio a extraordinária Exortação Apostólica Christifideles laici (1988), de São João Paulo II. Esse documento ainda conserva sua validade e vem citado com abundância também no novo Documento da CNBB.

Durante a preparação do Grande Jubileu do terceiro milênio cristão, a CNBB emitiu um documento sobre a “missão e ministérios dos cristãos leigos e leigas” (Documento 62, 1999), destacando mais uma vez a participação dos leigos na vida e na missão da Igreja. O desenvolvimento pós-conciliar da teologia do laicato avançou muito; mas a atuação dos leigos cresceu sobretudo no âmbito interno da vida eclesial e isso levou, nos documentos sucessivos, a incentivar sempre mais a missão dos leigos no “mundo secular”, onde eles são os “missionários da linha de frente”.

Essa orientação aparece fortemente na breve, mas importante, Carta Apostólica Novo Millennio ineunte, (“No Início do Novo Milênio, 2001), de São João Paulo II. A Conferência Geral de Aparecida, do Episcopado da América Latina e do Caribe (2007), vai por essa mesma linha: os cristãos leigos são as testemunhas do Evangelho no vasto campo da vida, da organização da sociedade e das responsabilidades públicas. Sem a ação deles, a Igreja e o mundo caminham como duas realidades paralelas e o Evangelho do Reino de Deus permanece como o sal ou o fermento guardados no depósito, em vez de irem para o meio dos alimentos...

A preocupação com a “nova evangelização”, presente na Igreja há muito tempo, mas explicitada sempre mais após o Concílio e na virada do milênio, trouxe mais uma vez a preocupação com a participação dos leigos na vida e na missão da Igreja: sem eles, a evangelização não vai para frente. Por isso, o Sínodo sobre “a nova evangelização para a transmissão da fé cristã” (2012) concentrou mais uma vez a sua atenção sobre os leigos. Na Exortação Apostólica pós-sinodal Evangelii Gaudium (“A Alegria do Evangelho”), feita pelo Papa Francisco (2013), mais uma vez, a atenção ao papel dos leigos na evangelização está no centro do documento.

Nesse contexto, situa-se também o novo Documento da CNBB sobre os “Cristãos Leigos e leigas na Igreja e na sociedade – sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13-14)”, que precisa ser lido e estudado com muito interesse.

Cardeal Odilo Pedro Scherer

Arcebispo metropolitano de São Paulo