Cristãos leigos: sal da terra e luz do mundo

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21/09/2016 - 09:30

O documento nº 105 da CNBB, fruto da assembleia geral da CNBB de 2016, atualiza a reflexão teológica e pastoral sobre a vida e a missão dos cristãos leigos na Igreja e no mundo, tendo em vista os novos apelos que chegam da realidade eclesial e social, bem como as mais recentes diretrizes do Magistério eclesial, sobretudo do Papa Francisco.

O subtítulo do texto – “sal da terra e luz do mundo”, tomado do Evangelho de São Mateus (cf. Mt 5, 13-14) – aponta para a dimensão missionária da vocação laical, que se realiza especialmente no mundo secular. Participando de todos os âmbitos da família, da vida social, do trabalho, do universo das realidades econômicas e das responsabilidades públicas, os leigos, no ambiente que lhes é próprio, são as testemunhas de Jesus Cristo e os agentes de transformação dessas realidades com a força do Evangelho.

São discípulos de Cristo e membros da Igreja, corpo de Cristo, pela graça recebida no Batismo; enraizados em Cristo e recebendo do Espírito Santo a assistência e a força, os cristãos leigos atuam em todo o tecido social, contribuindo com suas convicções orientadas pelo Evangelho para dar às realidades terrestres o rumo e o sabor do Reino de Deus. Dessa forma, realizam a ordem dada por Cristo aos apóstolos e a toda a Igreja: “Ide por todo mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (cf. Mt 28, 19-20).

Os leigos também participam da missão interna da Igreja e essa participação é muito necessária. Porém, sua missão não se esgota no âmbito eclesial e precisa realizar-se especialmente no mundo secular, espaço privilegiado da vida e da ação dos cristãos leigos, onde eles exercem suas responsabilidades com competência própria e não por delegação da hierarquia da Igreja: são discípulos e missionários de Jesus Cristo, que agem em função da vocação recebida no Batismo e da unção do Espírito Santo, que os faz testemunhas de Cristo. Todo o povo de batizados é um povo missionário.

Em nossos dias, muitos leigos buscam expressar a sua participação na missão da Igreja, sobretudo no desempenho de funções e ministérios intraeclesiais. Estes, sem dúvida, são necessários, mas não dispensam a outra dimensão da missão eclesial, que se realiza no mundo. Enquanto isso, sente-se grande falta de católicos bem formados e atuantes no mundo, em nome da própria fé e de sua pertença à Igreja. Os leigos não precisam esperar uma convocação extraordinária para serem enviados a atuar no mundo.

Quando falamos em atuação dos leigos no mundo, não queremos logo dizer que eles devam, em toda parte e a toda hora, tornar presente ali a dimensão propriamente religiosa e litúrgica da vida cristã. Não se espera que promovam a celebração da missa ou a reza do rosário nos lugares de trabalho, do esporte, da comunicação, da política, da justiça, da educação... Isso até poderá acontecer, quando for oportuno; mas talvez também pode deixar de acontecer nesses âmbitos, onde os leigos católicos estão lado a lado com pessoas de fé diferente e pessoas sem fé.

Mais que tudo, os cristãos leigos são testemunhas de Deus e de Jesus Cristo Salvador, fazendo brilhar a luz do Evangelho que receberam, sem escondê-la, mas agindo em coerência com sua fé e com a moral dela decorrente. Que ajudem a sociedade a discernir e a decidir sobre todas as coisas à luz do Evangelho do Reino de Deus e que lutem para a superação de tudo aquilo que é contrário ao Evangelho do Reino de Deus. Espera-se que o leigo católico tenha conduta íntegra e virtuosa na administração “dos negócios temporais”; que promova uma educação marcada pela compreensão cristã da pessoa humana, do convívio social e das realidades deste mundo. Que realize a sua vida matrimonial e familiar em conformidade com as orientações que brotam da fé e da mística do Evangelho. A família é um lugar privilegiado, onde os leigos podem expressar sua condição religiosa de “Igreja doméstica”.

Para realizar sua grande e desafiadora missão, é indispensável que o cristão leigo tenha uma profunda experiência de Deus e da vida segundo o Evangelho. A alimentação constante na Palavra de Deus, a participação nos sacramentos e o cultivo da oração lhe darão o alimento e o sustento interior necessário. E a participação na vida da comunidade eclesial o ajudará a manter firmes as referências e motivações. Ele não está sozinho, mas é membro de uma comunidade de discípulos missionários de Jesus Cristo.

 

Cardeal Odilo Pedro Scherer

Arcebispo metropolitano de São Paulo