Deus visível aos nossos olhos

A A
21/12/2020 - 12:30

No Natal, celebramos o sublime mistério da encarnação do Filho de Deus, “a humanidade do nosso Deus”. Fazemos festa, cantamos, damos presentes e saudamos os outros com votos de feliz Natal. Procuramos viver em paz e harmonia com todos e abrimos o coração aos pobres. Que bom que tudo isso acontece! A festa cristã acaba contagiando também a quem não crê como nós, nem conhece o motivo.

A Igreja proclama e celebra no Natal um mistério inaudito, imensamente grande e, ao mesmo tempo, próximo de nós, que choca e deixa incrédulos a muitos. Cabe aos cristãos recordar e testemunhar sempre de novo o motivo de tanta festa. Mais ainda: cabe-nos convidar todos a acolher o grande mistério celebrado: o Filho de Deus, Jesus Cristo, nosso Salvador, nascido humanamente da Virgem Maria. Esta verdade, tão grande e bela, não pode ficar esquecida, encoberta por exterioridades ou pelos simbolismos que a envolvem.

Na fé cristã, nós proclamamos sem meias palavras que o Filho de Deus veio ao mundo e nasceu de uma mulher, a Virgem Maria. Professamos em nossa fé que a segunda Pessoa da Santíssima Trindade uniu a si nossa natureza humana, sem deixar de ser o Filho eterno e permanecendo inseparavelmente unido ao Pai e ao Espírito Santo. Proclamamos que o Filho eterno, nascendo de Maria, tornou-se “Deus visível aos nossos olhos”, uniu a nossa pobre condição humana à sua natureza divina!

Mais ainda: o Filho de Deus, vindo ao mundo, uniu em sua pessoa o céu à terra, a divindade à humanidade. Nele, o grande Deus, imensamente poderoso, tornou-se próximo da humanidade, de cada pessoa, e assumiu também a nossa fragilidade e pequenez e viveu a precariedade de nossa existência humana. Ninguém mais precisa procurar Deus nas nuvens, nem na imaginação abstrata: cada um pode se achegar a Ele, acolhendo a humanidade do Filho de Deus na humanidade de cada irmão, igual à do Filho de Deus.

 É por isso que cantamos, com os anjos, as glórias de Deus que se manifestaram entre nós no nascimento de Jesus! Por isso, também, convidamos a todos, cantando: “Ó vinde todos, adoremos!” É por isso, também, que cada ser humano é tão precioso, pois possui uma dignidade altíssima: o Filho de Deus tornou-se semelhante a cada pessoa humana e lhe deu uma dignidade que somente Deus podia dar.

E também é por isso que convido todo o povo de São Paulo a viver, com intensa alegria e gratidão a Deus, este dia da fraternidade universal. Em Cristo, somos “Fratelli tutti’ – todos irmãos’”! Ninguém mais nos pode ser indiferente ou parecer desprezível. É por isso que os cristãos têm uma proposta para a vida em sociedade: edificar um mundo irmão, em que cessem injustiças, violências, preconceitos, ódios, indiferenças, egoísmos.

Que a celebração do Natal renove em todos o propósito de edificar um mundo de irmãos nesta casa comum, na qual Deus também fez morada para estar no meio de nós. Desejo feliz e santo Natal a todos! E que o novo ano venha com bênçãos abundantes e nos traga esperança e coragem para testemunhar a boa mensagem do Natal!

Cardeal Odilo Pedro Scherer 
Arcebispo de São Paulo