O que devo fazer, Senhor?

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25/01/2021 - 19:15

Celebramos hoje a festa da conversão do grande apóstolo São Paulo e, nesta ocasião, dirigimo-nos a ele, como padroeiro de toda a nossa Arquidiocese, que leva o nome do Apóstolo. Ele também é o padroeiro do nosso município e do Estado, por disposição do Papa Pio XII, após pedido do Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, em 1958.

Temos muito a aprender de São Paulo, homem cheio de ardor, generoso e dedicado ao extremo àquilo que acreditava. Ele se deixou interpelar pela voz que o chamou no caminho de Damasco - “Saulo, por que me persegues?” Logo em seguida, foi saber que era a voz do próprio Jesus: “Eu sou Jesus, o Nazareno, a quem estás perseguindo” (At 22,8).

O soberbo e muito convencido Saulo cai em si e pergunta: “Quem és tu, Senhor?” Deixa-se abalar nas suas certezas pela voz que lhe vem do alto e muda o rumo de sua vida, acolhendo o que pede essa voz: “O que devo fazer, Senhor?” Diante desse encontro inesperado com Jesus, ele aceita que precisa abandonar o que fazia, rever suas certezas e mudar de direção. É o processo de conversão.

Se Paulo não tivesse dado importância e atenção àquela voz, pensando tratar-se de uma fantasia ou um momento de ilusão e fraqueza, não teria sido o grande missionário do Evangelho, e sua história e a da pregação do Evangelho teriam sido outras. Paulo ouviu, deu importância à voz interior, obedeceu humildemente e se voltou inteiramente a Cristo. De perseguidor de Cristo e do Evangelho, tornou-se o maior pregador da Boa Nova e o missionário que mais fez, pelo menos daquilo que sabemos, em favor do Evangelho de Cristo no início do Cristianismo.

Paulo valorizou a voz de Cristo, que o chamou, e passou a dedicar todas as suas capacidades e energias humanas em favor de Cristo e do Evangelho. E isso lhe custou muito, como ele mesmo testemunha em vários momentos dos seus escritos e pregações: calúnias, perseguições, ameaças de morte, prisões, torturas e, finalmente, o martírio. Ele compreendeu, porém, que tudo isso valia muito a pena por causa de Cristo e do Evangelho. Ele reconheceu o significado altíssimo do amor de Deus, manifestado a ele quando ainda era perseguidor soberbo de Cristo e da Igreja.

Da festa de nosso padroeiro, neste ano, aprendamos a ouvir e dar valor à voz de Deus, que nos fala de muitos modos, e nós, em geral, estamos surdos ou lhe damos pouca importância. Deus nos fala na palavra da Escritura, que a Igreja lê e anuncia; na voz da própria Igreja, do Papa e do episcopado unido ao Papa; na voz dos irmãos, ao nosso redor, sobretudo daqueles que sofrem e com os quais Jesus se identifica; na voz das circunstâncias e do tempo que vivemos. Quanto mais Deus poderia fazer por meio de nós, como fez com São Paulo, se fôssemos mais atentos à sua voz!


Cardeal Odilo Pedro Scherer
 Arcebispo de São Paulo