O sínodo dos discípulos de Emaús

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18/04/2017 - 19:00

O relato sobre o encontro de Jesus ressuscitado com os dois discípulos de Emaús está entre o mais belos do Evangelho de São Lucas (Lc 24,13-35). Os acontecimentos da paixão e morte de Jesus, em Jerusalém, haviam deixado esses discípulos profundamente abatidos e desanimados, a ponto de abandonarem tudo e voltarem para casa, tristes e decepcionados.

Enquanto caminham juntos (sínodo), recordam os belos momentos que passaram com Jesus, seu encantamento pelo Mestre e o tempo em que caminharam com ele (sínodo) pela Judéia e a Galiléia, durante a sua vida pública, ouvindo sua pregação, vendo seus milagres e deixando-se contagiar pelo entusiasmo que Jesus despertava por toda parte. Mas agora tudo isso havia acabado. As autoridades de Jerusalém condenaram Jesus à morte e todo aquele sonho havia caído por terra. Triste, mas não havia mais o quê fazer, senão voltar pra casa e retomar a vida de antes!

Enquanto assim refletiam, caminhando juntos (sínodo) para Emaús, mais um peregrino se juntou a eles, compartilhando o seu caminho (sínodo). Primeiro quer saber por qual motivo estão tão tristes e desanimados. Caminhando com eles, vai ouvindo (sínodo). Depois tenta acordá-los do seu torpor e desânimo, explica-lhes as Escrituras e mostra como os sofrimentos e a morte do Messias já haviam sido anunciados pelos profetas. Como não tinham percebido isso?

No final do caminho feito juntos (sínodo), o trecho até pareceu mais curto e eles se sentiram mais leves; gostaram do desconhecido e o convidaram a permanecer na casa deles durante a noite. Estar juntos na escuridão da noite, deixa todos mais confiantes e seguros... Talvez, esperavam continuar a conversa ao redor da mesa e desfrutar por mais um pouco da companhia desse novo amigo, feito ao longo do caminho (sínodo). Mas, ao redor da mesa da hospitalidade (sínodo), Jesus se revela ao partir o pão, como havia feito na última ceia. Seus olhos se abrem e eles se dão conta daquilo que seu coração já havia percebido pelo caminho (sínodo), ao lhes explicar as Escrituras! Era ele, o próprio Jesus! Não foi sem razão que seu coração estava novamente confortado e inflamado!

Imediatamente, sem ligar para o cansaço, eles percorrem juntos o caminho de volta (sínodo) para Jerusalém, para contar aos outros discípulos sobre o encontro com Jesus ressuscitado. Foi uma experiência tão impactante, uma alegria tão grande, uma luz tão grande, que sua fé, suas forças e seu entusiasmo por Cristo se refizeram imediatamente! Não havia como deixar para o dia seguinte: era preciso correr juntos logo (sínodo), para encontrar os outros e lhes anunciar essa boa nova! Em Jerusalém, encontraram os outros reunidos (sínodo), que também tinham belas experiências para compartilhar sobre seus encontros com o Senhor ressuscitado!

Escrevendo estas linhas, estou pensando no sínodo que nos propomos a realizar na arquidiocese de São Paulo. Talvez nos encontramos na condição dos discípulos de Emaús: perda do encantamento pela vida cristã e pela missão da Igreja; desmotivação paralisante, que leva à apatia diante dos desafios enfrentados pela Igreja; tudo parece difícil e que não vale a pena tentar mais nada. Pode ser que nos fixamos em esquemas mentais, pastorais ou até teológicos algo equivocados ou, pelo menos, não adequados para os tempos e as circunstâncias atuais e nos fixamos no passado, com medo do novo e do surpreendente de Deus no caminho dinâmico da Igreja...

Os discípulos de Emaús estavam caminhando para suas casas, abandonando o envolvimento com Jesus e o Evangelho. Faziam o “anti-sínodo”: cheios de lamúrias e amargura, talvez até envergonhados por terem sido discípulos de Jesus, eles somavam suas mágoas e isso os desanimava cada vez mais. Voltavam para casa e se distanciavam da comunidade dos discípulos, da Igreja. Azedume, negativismo e desânimo são contagiosos e levam a perder o amor àquilo que se faz. Podem mesmo levar a perder a motivação profunda de nossa fé e a procurar formas alternativas de fé e de religião... Não é isso que muitas vezes acontece?

Jesus fez caminho com os discípulos de Emaús; explicando as Escrituras, reanimou seu coração. Jesus faz um sínodo com eles. Sínodo significa caminhar juntos, na mesma direção. E eles o reencontram nas Escrituras, no convívio fraterno e no partir do pão (Eucaristia e caridade). Queremos celebrar um sínodo em nossa Arquidiocese para contar nossa situação, perscrutar as Escrituras e deixar que se aqueçam nossos corações. Vamos perceber que Ele não abandonou sua Igreja mas caminha com ela, renova-a na alegria de crer e de proclamar à Cidade de São Paulo a Boa Nova.

Cardeal Odilo Pedro Scherer

Arcebispo metropolitano de São Paulo

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - Edição 3147 - De 19 a 25 de abril