Sínodo arquidiocesano: Comunhão com o Sucessor de Pedro

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27/06/2018 - 09:30

No dia 29 de junho, a Igreja celebra a solenidade dos apóstolos Pedro e Paulo, os dois “príncipes” ou principais entre os apóstolos. Ambos terminaram sua vida em Roma, como mártires de Cristo. Pedro, como centro da unidade e da comunhão da Igreja em torno de Cristo; Paulo, como missionário entre os povos, levando-os para Cristo. Por isso, essa festa está relacionada especialmente com Roma, centro de referência da unidade e da catolicidade missionária da Igreja. 

Na festa de São Pedro e São Paulo, comemoramos o Dia do Papa, Sucessor de Pedro. O Papa também pode ser considerado “sucessor de Paulo”, pois também lhe cabe a responsabilidade maior pela dimensão missionária da Igreja. A unidade e a comunhão, assim como a missão, são duas dimensões complementares e inseparáveis da Igreja. Em 2007, a Conferência de Aparecida expressou isso de alguma forma, ao afirmar que nossa Igreja precisa ir além de uma “pastoral de conservação”, passando a uma pastoral decididamente missionária. 

No Dia do Papa, lembramos também a apostolicidade da nossa Igreja – “uma, santa, católica e apostólica”. Somos herdeiros da fé e do testemunho dos apóstolos, testemunhas primeiras da pessoa, da vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Os Atos dos Apóstolos apresentam as características fundamentais da primeira comunidade cristã: “eram perseverantes no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (At 2,42). Na sua fé e nas orientações para a sua vida e ação, a Igreja nunca poderá estar em contradição com o ensinamento dos apóstolos, nem com as demais notas essenciais da comunidade cristã. Por ser “apostólica”, nossa Igreja, ao longo do tempo, sempre se conformou com essa regra fundamental: o “ensinamento dos apóstolos”. E o Papa é o responsável principal e último por manter a comunhão na Igreja e também a “veracidade apostólica” do ensinamento da Igreja. 

Essa é uma missão imensa e difícil. Por isso mesmo, a Igreja reza pelo Papa, pedindo que o Espírito Santo o inspire e assista em tudo o que ele faz, ensina e decide em ordem à vida e à missão da Igreja. O Papa Francisco não se cansa de pedir: rezem por mim, por favor, não se esqueçam de rezar por mim. No Dia do Papa, rezemos especialmente pelo Sucessor de Pedro à frente da Igreja de Roma, que preside a todas as Igrejas locais e as serve na verdade, na unidade e na caridade. 

Nossa comunhão com o Papa não deve ser apenas a expressão da simpatia ou de um gosto subjetivo, mas deve estar enraizada na nossa fé. Não podemos ter uma “comunhão seletiva” com o Papa, escolhendo aquilo que nos agrada e rejeitando o que nos desagrada. Isso seria falta de verdadeira fé eclesial. Como católicos, estamos em comunhão com o Papa em vista da autoridade e do carisma especial que ele possui na Igreja para confirmar a todos na fé e apontar os caminhos da missão da Igreja em cada época.

Um dos objetivos do nosso sínodo é aprofundar a comunhão de nossa Arquidiocese com o Papa e a universalidade da Igreja. Trata-se da comunhão de fé e da nossa adesão plena e fiel “ao ensinamento dos apóstolos”, conforme confirmado e ensinado pelo Papa e os bispos em comunhão com ele. Precisamos refletir se nossa fé pessoal e comunitária está plenamente em sintonia e comunhão com a fé da Igreja presidida pelo Papa e os bispos em comunhão com ele. O mesmo vale para o ensinamento moral dado pelo Papa e, com frequência, rejeitado por quem se considera membro da Igreja. Por outro lado, a comunhão com a catolicidade da Igreja, presidida pelo Papa e pelos bispos em comunhão com ele, também se expressa através da acolhida das normas e orientações da disciplina da Igreja no Direito Canônico e nas normas litúrgicas. 

Enfim, a comunhão na Igreja e com o Papa, que a preside junto com os bispos em comunhão com ele, expressa-se pelo esforço comum em favor da evangelização e da missão da Igreja. A ação missionária não pode ter duas alas: a dos que abraçam a missão e a dos beneficiados com a ação missionária e evangelizadora. De fato, todos somos parte da Igreja missionária e somos chamados a nos empenhar na missão. E todos também somos beneficiados com ela. Através do sínodo arquidiocesano, nossa Arquidiocese deseja aprofundar a dimensão da comunhão eclesial e missionária, para permanecer fiel ao “ensinamento dos apóstolos” e para corresponder melhor à sua missão.
 

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 27/06/2018