Urgências na Evangelização

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16/11/2016 - 12:15
No dia 12 de novembro, foi realizada a assembleia arquidiocesana de pastoral para a elaboração final do 12º Plano de Pastoral, que terá como foco as “urgências da evangelização na Cidade” e terá vigência de 2017 a 2020.
 
Ao longo de todo este ano, foi feita uma ampla avaliação da animação pastoral e da incidência do 11º Plano na vida da Arquidiocese e no desempenho de sua missão de “testemunha de Jesus Cristo na Cidade”. Temos muito a agradecer pois, ao longo deste último quadriênio, com a graça de Deus e o esforço dedicado de tantos, sacerdotes, leigos, religiosos e diáconos, foi feito muito. Creio que posso afirmar, sem medo de errar, que houve crescimento na consciência geral sobre nossa missão de testemunhar o Evangelho do Reino de Deus na cidade.
 
Mas não fomos perfeitos no desempenho de nossa missão e percebemos que continuam a existir muitas lacunas e insuficiências na evangelização em São Paulo. Continua muito necessária uma profunda “conversão missionária” dos membros da nossa Igreja e das paróquias e demais estruturas e organizações eclesiais e pastorais. Ainda estamos longe de ser uma Igreja “em estado permanente de missão”, como nos pede o Papa Francisco!
 
Temos a urgente necessidade de retomar a catequese sistemática e as demais ações e metodologias voltadas à “iniciação à vida cristã e ao testemunho da fé. O descuido da catequese, em todos os níveis, como processo dinâmico e envolvente de educação na fé e na vivência cristã, seria muito prejudicial à Igreja! Uma catequese apenas superficial, esvaziada ou até inexistente, colocaria em risco o próprio futuro das comunidades que assim o fizessem.
 
Por isso mesmo, também é urgente que continuemos a voltar-nos para a Palavra de Deus e nos deixemos conduzir por ela, para sermos comunidades animadas pela Palavra de Deus. A Igreja não é autorreferencial nem prega a si mesma; se o fizesse, não seria mais que uma ONG. A Igreja é ouvinte e discípula da Palavra de Deus, que é sua referência e fundamento insubstituível: “Senhor, a quem iremos nós? Só tu tens palavras de vida eterna”: assim respondeu Pedro a Jesus, que perguntava aos discípulos se também eles queriam abandoná-lo para procurar outros mestres e guias para suas vidas (cf. Jo 6, 66-69).
 
Assim também a vida cristã requer a vinculação do fiel à comunidade da Igreja, por meio de laços próprios com alguma comunidade eclesial concreta, quer seja a família cristã, comunidade pequena e importante que está na base da Igreja, quer sejam a paróquia ou a diocese. O Apóstolo Paulo já ensinava que a Igreja é como um corpo: apesar dos muitos membros, órgãos e funções, o corpo é um só; e todos dependem uns dos outros e interagem harmonicamente para que o corpo inteiro esteja bem.
 
Comunidade de comunidades, assim é a Igreja de Cristo; por isso, é urgente superar o individualismo, o descompromisso e a tendência “consumista”, própria da cultura do nosso tempo. Ninguém é discípulo de Cristo sozinho e de maneira isolada.
 
Nossa Igreja em São Paulo vê-se desafiada constantemente a colocar-se a serviço da dignidade e da vida plena de tantas pessoas, quer pelos trabalhos sociais, para socorrer aos irmãos que sofrem de muitas formas, quer para testemunhar, defender e promover a justiça e a dignidade de cada filho de Deus. Já se faz muita caridade organizada na Arquidiocese, mas as necessidades ainda são tantas! Portanto, é urgente que a nossa fé se faça concreta através das obras de misericórdia, de justiça e caridade.
 
E não poderia ser feito um planejamento quadrienal de pastoral sem trazer a “questão família” para o centro de nossas atenções e práticas evangelizadoras. A Exortação Apostólica Amoris Laetitia, sobre a alegria do amor em família, do Papa Francisco, nos faz ver quanto temos a fazer para reatar os vínculos entre Igreja e família. É urgente cuidar bem de tudo o que diz respeito à família: ganham a comunidade humana, a própria pessoa humana e a mesma Igreja.
 
A exemplo daquilo que se fez na elaboração, em 2015, das novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, também no nosso novo Plano de Pastoral é mantida a impostação fundamental do Plano anterior. Mas não falta a atualização de diversos aspectos do Plano, que fica enriquecido com as novas referências do Magistério da Igreja. As “urgências” na evangelização foram mantidas e ajustadas e devem orientar a elaboração dos projetos e programas de ação de cada organização eclesial da Arquidiocese. Que Deus nos ajude! São Paulo interceda por nós!
 
 
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano
 
​Publicado no Jornal O SÃO PAULO - Edição 3128 - 16 a 22 de Novembro de 2016