Gestos missionários concretos

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16/10/2019 - 11:00

Todos os anos, a Igreja inteira comemora, no terceiro domingo de outubro, a “Jornada Missionária Mundial”, ou Dia Mundial das Missões. Este ano, porém, essa comemoração ganha um significado muito especial, uma vez que, a pedido do Papa Francisco, os católicos de todo o mundo celebram o “Mês Missionário Extraordinário”, também em outubro.

Os objetivos do Dia Mundial das Missões são diversos e destaco dois principais: manter viva a consciência sobre a natureza missionária da Igreja e o dever missionário de todos os cristãos; e oportunizar gestos concretos de solidariedade para com os missionários no mundo inteiro.

A Igreja, de fato, nunca pode esquecer, ou deixar em segundo plano, a sua natureza missionária. Ela foi querida e fundada por Jesus para ser seu “corpo missionário” no mundo e para prolongar no tempo e no espaço o anúncio do Evangelho e o testemunho da vida nova suscitada pela acolhida do Evangelho. A natureza da Igreja é missionária por excelência e, se ela deixasse de ser missionária, estaria descumprindo o mandato de Jesus: “Ide por todo o mundo, anunciai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).

Um dos deveres do Papa e dos bispos, pastores da Igreja, é reavivar constantemente a consciência sobre o dever missionário em todos os fiéis. Pelo Batismo, fomos todos agraciados com imensos dons de Deus, que devemos fazer frutificar em nossa vida e, ao mesmo tempo, compartilhar com os outros. A ação missionária vem como consequência da fé alegre e amadurecida e mediante a consciência do dom recebido. É por isso que o Papa Francisco, a exemplo daquilo que fizeram seus predecessores, incentiva novamente toda a Igreja a ser missionária também em nosso tempo. 

O católico que ama a sua fé e a sua Igreja torna-se missionário, e isso pode se dar de muitos modos. Nem todos partem para terras distantes; nem todos precisam ser religiosos e religiosas ou sacerdotes. Mas todos são chamados a ser missionários na condição em que se encontram: todos podem rezar e oferecer seus sacrifícios pelas missões e pelos missionários; podem ser fervorosos e virtuosos, dando bom exemplo de vida, segundo o Evangelho, no ambiente em que vivem e exercem sua profissão. Os pais e avós podem transmitir aos filhos e netos a fé, o amor a Deus e ao próximo. Aqueles que desempenham responsabilidades sociais e públicas podem se empenhar por uma vida pessoal e social reta, conforme princípios e valores cristãos. Cada um pode dar atenção ao próximo em situação de sofrimento e necessidade com palavras e ações. Enfim, somos todos missionários, não importando a condição na qual nos encontramos.

O Dia Mundial das Missões, contudo, também tem o objetivo de conclamar todos os católicos a fazer gestos concretos de solidariedade em apoio às obras missionárias da Igreja e ao trabalho daqueles que estão nas “frentes missionárias”. Nem todos podem dedicar sua vida inteira ao trabalho missionário em “terras de missão”, a trabalhos missionários onde a Igreja ainda está carente de recursos e de pessoas. Mas os católicos todos são chamados a colaborar concretamente com o trabalho missionário daqueles que o realizam em nome de toda a Igreja. Por isso, neste Domingo das Missões é feita a coleta missionária em todas as igrejas católicas do mundo. Com o dinheiro que se recolhe, o Papa, por meio de seus colaboradores para o serviço missionário, pode ajudar os bispos das dioceses missionárias da África, Ásia e América Latina. Pode ajudar a construir igrejas onde elas faltam nas terras de missão, formar sacerdotes e religiosos naquelas regiões, prestar ajuda concreta a missionários em situação de necessidade, cuidar da saúde deles...

Na minha viagem a Moçambique, em agosto passado, pude constatar de perto os imensos desafios e carências das dioceses e paróquias naquele país, onde o povo em geral é pobre e não tem muito para poder ajudar a manter o trabalho missionário. Os padres precisam de carro, combustível, casa, medicamentos, seguro para sua saúde. Precisam manter obras sociais para ajudar os pobres, fundar e manter escolas, pagar pessoas para o serviço, construir e manter igrejas... Sem a nossa ajuda, os missionários não têm condições de exercer seus trabalhos.

Por isso, conclamo todos os católicos a fazer um gesto generoso de apoio ao trabalho missionário na coleta de todas as celebrações do Domingo das Missões, no dia 20 de outubro de 2019. Esta também é uma forma concreta de sermos missionários. Se nós não partimos em missão, alguém outro partiu ou partirá... Apoiemos, portanto, de forma concreta esse trabalho missionário, feito também em nosso nome.

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 16/10/2019