Ato Inter-religioso em memória ao Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns

A A
Ato inter-religioso reuniu líderes de diversas religiões na Catedral da Sé, no domingo (22), em memória ao Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns
Publicado em: 23/01/2017 - 16:00
Créditos: Renata Moraes/ Fotos: Luciney Martins

Aconteceu na tarde do domingo (22), na Catedral da Sé, um ato inter-religioso em memória ao Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, falecido em 14 de dezembro de 2016, aos 95 anos. Promovido pela Casa da Reconciliação, organismo da CNBB, referência para o Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso, administrada pela Arquidiocese de São Paulo, a celebração reuniu representantes de diversas religiões cristãs e não cristãs. Através de testemunhos, salmos e preces foram recordados momentos da a vida e da atuação pastoral do Cardeal Arns, quinto arcebispo e terceiro Cardeal de São Paulo.

No comentário inicial foi lembrado que durante o seu arcebispado (1970-1998), Dom Paulo participou de inúmeros eventos acadêmicos, pastorais, religiosas, ecumênicas e inter-religiosas e sociais. Dom Paulo ficou reconhecido pela defesa do ecumenismo e por incentivar o respeito e a união entre as religiões. Certa vez, o cardeal citou que a promoção da paz no mundo é “intrinsecamente ecumênica e inter-religiosa”.

A oração de São Francisco de Assis que Dom Paulo, frei franciscano, tanto gostava foi cantada pela Irmã Maria Sandrejania da Silva, FAP, das Irmãs Franciscanas da Ação Pastoral, congregação fundada pelo Cardeal Arns.

Dom Paulo, promotor do diálogo da Paz

Dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, fez o primeiro testemunho e recordou diversos momentos de sua amizade e os primeiros contatos com o Cardeal da Esperança, quando o atual arcebispo ainda era seminarista na década de 70. “Dom Paulo foi não somente aberto ao diálogo com as diversas comunidades cristãs, mas também as diversas religiões não cristãs. Promovia o diálogo de paz, o diálogo da participação de todos em função do bem-estar das pessoas e também da preservação da natureza”, disse o Cardeal.

Ao longo de sua fala, o arcebispo contou diversos momentos em que esteve junto com o Cardeal Dom Paulo: “Minhas visitas a Dom Paulo em sua casa eram regulares, encontrava-o sempre com algum livro por perto. Certa vez, ele me disse que lia todos os dias textos da Patrística, em grego, ou latim para exercitar a memória. Estava sempre informado sobre os acontecimentos da Igreja e da sociedade”, confidenciou.

O rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista, reafirmou o legado do Cardeal Arns em favor dos mais pobres e excluídos.

“Dom Paulo trabalhou para que aqueles que não tinham sua voz ouvida, fossem escutados, fossem ajudados e fossem levantados. E por isso o nome de Dom Paulo Evaristo Arns será sempre lembrado como um sacerdote de bem que ajudou quem mais precisava”, destacou o rabino.

O bispo anglicano e presidente do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil) Flávio Irala destacou a coragem e a resistência de Dom Paulo em denunciar a violência durante a ditadura militar e sua luta em favor da justiça e da paz.

Cardeal da Esperança, Amigo do Povo

Marcelo Leandro Garcia de Castro, pastor da Igreja Presbiteriana Unida, comparou o Cardeal Arns ao Bom Pastor, citado na leitura bíblica do Evangelho de São João. “ ‘Eu sou o bom pastor, o bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas’. O Cardeal da Esperança, o amigo do povo, mas sobretudo o Bom Pastor”. Pastor Marcelo trouxe a memória o ato inter-religioso que Dom Paulo presidiu, em 1975, na Catedral da Sé, ao lado do rabino Henry Sobel e do pastor Jaime Wright, por ocasião do assassinato do jornalista Vladimir Herzog.

O reverendo José Carlos de Souza, da Igreja Metodista fez uma prece de gratidão e reafirmação da esperança que Dom Paulo trazia como lema. “Graças te rendemos Senhor pela vida do teu servo Dom Paulo Evaristo Arns, um Cardeal com alma de pastor, que cuidou dos indefesos da cidade de São Paulo. Um coração ecumênico que uniu gente diferente da luta pela vida, um profeta para a nossa cidade, para o nosso país e para o mundo”.

Ao falar do homenageado, Mãe Carmem de Oxum, da Tradição das Religiões de Matriz Africana, ressaltou a capacidade de diálogo de Dom Paulo com as religiões não cristãs. “Dom Paulo tratava todos da mesma forma, sem diferenças, lutando para que todos pudessem ter dignidade. Pobres com amor próprio e autoestima. Lutava contra o racismo, de todas as formas, sempre colocando a ética em todas as ações que favorecessem as pessoas de todos os níveis. Lutava para que todos fossem iguais”.

O último a se pronunciar, membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, o advogado Belisário dos Santos, endossou os testemunhos anteriores: “Cardeal da esperança, o bom pastor, ele era um estrategista do bem, ele era um homem de ações corajosas, mas ele era o homem das ações que ficavam para sempre”.Também participaram da cerimônia e fizeram uso da palavra o monge Ryozan, da Tradição Budista ZEN, e o Padre Gregório Teodoro, da Igreja Ortodoxa Antioquina.

Um coro infanto – juvenil da Legião da Boa Vontade, entrou em procissão e entoaram cantos em homenagem a Dom Paulo. Também participaram da cerimônia os corais da USP e da Catedral da Sé.

(Colaboraram: Larissa Freitas e Millena Guimarães)