Com qual personagem da Paixão de Jesus Cristo você se identifica? Em torno desta pergunta, o Cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, conduziu seu sermão durante a Celebração da Paixão do Senhor, na tarde desta Sexta-feira Santa (14/4). Dom Odilo explicou que acompanhar a Semana Santa com assiduidade e respeito é recordar de maneira trágica e também gloriosa a “entrega de Jesus por nós”.

Depois de refletir sobre a presença de Jesus no mundo e sua injusta condenação, Dom Odilo passou a falar sobre as características de cada um dos personagens envolvidos na Paixão e Morte de Jesus na Cruz. O cardeal destacou, ainda, cinco atitudes que os fiéis devem ter hoje, diante da celebração da Paixão de Cristo. A primeira é de profundo respeito, recordando que o que Jesus viveu pelo homem não foi pouco e não foi fácil.

A segunda é de orgulhar-se por pertencer ao grupo de Jesus. Reconhecer que foi pela humanidade que Jesus carregou os pecados e a culpa dos homens. Para o cardeal, a terceira atitude deve ser de arrependimento e agradecimento. Segundo dom Odilo, as pessoas devem pedir perdão por também fazerem parte da história e agradecer que Deus tenha se tornado homem para livrar a humanidade da condenação eterna.

Renovar os propósitos da própria fé e da adesão a Jesus Cristo deve ser, segundo o cardeal, uma quarta atitude diante da Paixão de Cristo. E, por ultimo, o arcebispo pediu que os fiéis façam da recordação da morte de Jesus ocasião oportuna para renovar a perseverança no discipulado. “Não devemos esconder que somos discípulos do crucificado”, disse, lembrando que na Cruz de Jesus está a salvação do homem.  

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Com qual personagem da Paixão você se identifica?

Judas

Dom Odilo explicou que Judas era o discípulo que Jesus chamava de amigo. Seguia Jesus por interesse, sempre procurando vantagem. Gostava de dinheiro, era ganancioso, avarento e ainda por cima ladrão. É corrupto e falso. O amor ao dinheiro é a origem dos grandes males que vivemos no Brasil, destacou o cardeal, lembrando que é esse apego ao dinheiro que faz perder a dignidade e a moral. Portanto, o dinheiro não pode ser patrão, mas estar a serviço do homem.

Pedro

Também apóstolo, Pedro era sincero, mas fraco, explicou Dom Odilo. Era um discípulo cheio de boa vontade, mas impulsivo e não conhecia a própria fragilidade. Na hora da provação, negou a Jesus para garantir a própria vida. O galo que canta é a voz da consciência, Pedro se arrepende e pede perdão. Misericordioso, Jesus tem compaixão. “Representa muito de nós”, disse dom Odilo. Corajosos, até na hora da prova. Mas Pedro também é exemplo de arrependimento e da importância de reconhecer a própria fraqueza.

João

Também acompanha o sofrimento de Jesus, enquanto outros fogem. É o discípulo amado, a quem Jesus confia sua mãe. Não abandona Jesus. Corresponde ao amor de Jesus com fidelidade. “Representa aqueles que são capazes de preservar”, disse dom Odilo. João representa aqueles que conseguem manter a integridade da sua fé, da sua consciência e aguentam até o escárnio, sofrem junto com Jesus.

Autoridades religiosas

As autoridades religiosas que participam do processo de condenação de Jesus recorrem a autoridade civil para fazer prevalecer aquilo que interessa a elas. Segundo dom Odilo, usam mal seu poder religioso para tirar proveito em causa própria. O cardeal destacou que isso é muito grave e é preciso estar atento para que, em nome de Deus, não se esteja agindo contra a vontade de Deus. Ele lembrou as autoridades religiosas que instrumentalizam a religião para alcançar benefícios políticos e ou econômicos. Também pediu cautela para lideranças religiosas que apresentam um caminho fácil, não testemunhando a Cruz e o sofrimento de Jesus.

Pôncio Pilatos

Era a autoridade civil mais próxima da revolta contra Jesus. Segundo dom Odilo, parece um homem bom à primeira vista, mas é corrupto e está apegado ao seu poder. Preocupado com a pressão da multidão, lava suas mãos, mesmo sabendo que Jesus era inocente e que era seu dever julgá-lo com justiça. Representa autoridades que não se preocupam com a verdade e a justiça e usam do ofício, que deveria ser em favor do povo, a seu próprio favor. O cardeal lembrou que as autoridades devem governar em favor do povo e rezou para que Deus livre os governos atuais de novos Pôncio Pilatos, que usam seu poder para corromper.

Rei Herodes

Desdenha de Jesus. Quer que ele realize milagres na sua frente. Não reconhece sua pequenez diante de Deus. Não colocou seu poder a serviço. Conta a história (não está na Bíblia) que morreu corroído por vermes e sofrendo de consciência por ter sido responsável pela condenação de um inocente.

Barrabás e a multidão

Barrabás era assassino e ladrão. A multidão preferiu soltar um homem violento a Jesus, que era inocente. Será que às vezes, as multidões também hoje não se deixam corromper e manipular, questionou o cardeal. Porque demorou tanto para os brasileiros reclamarem da corrupção? Porque custa tanto uma tomada firme de posição quando se trata da dignidade de toda a vida humana?

Soldados

Fazem seu papel e se divertem. Vestem Jesus como rei, zombam dele e incentivam seu escárnio. Logo, concluiu o cardeal, pode-se lembrar das pessoas que logo jogam pedras nos outros. Hoje as mídias sociais facilmente fazem o papel de condenar as pessoas, refletiu. Com que facilidade se julga e se condena? Quantas vezes as pessoas não fazem o papel dos soldados que zombaram de Jesus, se aproveitando de condenações injustas para expor as pessoas e prejudicá-las. O cardeal pediu para que se pense melhor nas consequências de cada ação.

Mãe de Jesus

A mãe está junto até o fim. Ela não abandona. Enfrenta e encara o vexame público com firmeza. Para o cardeal, a postura de Maria e de outras mulheres que seguiram Jesus no calvário pode representar a postura daquelas pessoas que no meio das contradições da vida, se mantém firmes na sua fé, na sua moral. A postura de Nossa Senhora também faz pensar naquelas pessoas que abandonam com facilidade a sua fé, a Jesus, a Igreja. Dom Odilo lembrou daqueles que deixam de seguir a Igreja por uma palavra que não gostam e pediu que se lembre de Maria e de João, que permaneceram com Jesus no seu escárnio.