Dom Bernardo Rodrigues Nogueira

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1º Bispo Diocesano (1746-1748)

 

BIOGRAFIA

Nascido em 11 de abril de 1695, foi batizado no dia 16 do mesmo mês e ano. Era o décimo primeiro filho do casal Manuel Rodrigues Nogueira e Maria Rodrigues. Fez seus primeiros estudos em sua cidade natal, Santa Marinha (Portugal), com o reverendo Manuel Saraiva, de quem recebeu noções de literatura e latim. Aos 13 anos de idade, ingressou na Universidade de Coimbra para cursar filosofia. Graduou-se em cânones pela mesma universidade, concluindo seus estudos em 1718.

 

PRESBITERADO

Ordenado sacerdote em 5 de julho de 1722,  retornou a sua cidade natal. Foi convidado para ser arcipreste em Coimbra e professor de Direito Canônico. Ocupou o cargo de vigário geral e provisor do bispo de Funchal. Em 1725, recebeu de dom João V, uma cadeira de cônego em Funchal. Exerceu também os cargos de mestre-escola e arcediago. Aquela diocese praticamente estava sob sua responsabilidade, já que o bispo, devido às dificuldades de locomoção daquela época, pouco prestava assistência àquela ilha.

Dom Manuel Coutinho foi bispo de Funchal (1722-1739) na ilha da Madeira e depois de Lamego (1739-1749), no norte de Portugal, e, ao se ausentar em 1740, o então cônego Bernardo Rodrigues Nogueira governou o bispado de Lamego até a morte do bispo. Foi nomeado vigário capitular pelo bispo e recusou a função, tendo que aceitá-la mais tarde, por obrigação de um decreto do Rei. Ao justificar sua recusa, o Rei aceitou que ele retornasse a sua terra natal (Santa Marinha), onde permaneceu junto aos seus familiares. Foi convidado por dom José Bragança, arcebispo de Braga e primaz das Espanhas, para ser seu vigário geral, recebendo do bispo inúmeros elogios.

 

EPISCOPADO

Dom Bernardo Rodrigues Nogueira teve sua nomeação decretada pelo Rei, para ser o primeiro bispo da diocese de São Paulo no dia 22 de abril de 1745, antes da ereção canônica da nova diocese, que só ocorreu em 06 de dezembro de 1745. A nomeação do bispo foi confirmada pela bula papal de Bento XIV, em 15 de dezembro de 1745.

O novo bispo foi sagrado na Igreja patriarcal de Lisboa, no dia 13 de março de 1746, segundo domingo da quaresma. Foi sagrante dom Tomas de Almeida, patriarca de Lisboa, sendo consagrantes, dom José Dantas Barbosa (arcebispo de Lacedemônia) e dom João da Cruz (antigo bispo do Rio de Janeiro).

Antes mesmo de partir de Portugal, em direção ao Brasil, dom Bernardo procurou definir a situação da nova diocese. Foram despachados inúmeros alvarás com todos os pedidos de dom Bernardo relativos ao bispado de São Paulo, junto ao rei, de forma a organizar a diocese administrativamente. Dom Bernardo embarcou em Lisboa, com destino ao Brasil, em 09 de maio de 1746, para tomar posse de sua diocese.

Três dias após sua chegada ao Rio de Janeiro, dom Bernardo enviou procuração a São Paulo para que o reverendo doutor Manuel José Vaz tomasse posse em seu lugar. No dia 07 de agosto de 1746, o padre compareceu para tomar posse do bispado na catedral, mediante a leitura da bula papal e da procuração outorgada. Neste período, São Paulo convivia com as turbulências da falta de um bispo capaz de ordenar a vida na nova diocese.

Dom Bernardo residia no Rio de Janeiro e de lá trabalhava para organizar a diocese, atingindo os lugares mais distantes através de seus escritos e de missionários que percorriam o vasto território diocesano que se estendia por Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e parte de Minas Gerais. O governo pastoral de dom Bernardo foi marcado pelo bom relacionamento com o governador da capitania de São Paulo.

Antes de vir para São Paulo, dom Bernardo residiu em Santos, onde criou o cabido de São Paulo, com a nomeação de 14 cônegos. A primeira sessão do cabido foi realizado em 25 de janeiro de 1747, na Sé Catedral, que naquele tempo, estava estabelecida na antiga Igreja da Misericórdia, hoje demolida.

No dia 08 de dezembro de 1746, o bispo de São Paulo deixou a cidade de Santos para tomar posse de sua diocese, a qual estava sendo administrada por procuração desde agosto do mesmo ano.  Foi recebido na porta da cidade pelas principais autoridades e conduzido em procissão para a catedral provisória, onde foram realizadas as celebrações e o solene Te Deum.

A primeira divisão do território paroquial das Igrejas ocorreu sob o bispado de dom Bernardo, que em 28 de outubro de 1747, convocou os párocos de cada uma das Igrejas para estabelecer as divisões. Não foi uma tarefa fácil, tendo em vista que o bispo encontrou resistência por parte dos sacerdotes.

Durante seu bispado, escreveu diversas cartas pastorais, tratando dos mais diversos temas, destacando-se as seguintes cartas: saudação e apresentação aos sacerdotes diocesanos de São Paulo; carta pastoral reservada ao clero; carta pastoral sobre os livros de tombo e sobre as fábricas de igrejas matrizes; carta pastoral sobre a benção e indulgência plenária na hora da morte. Tratou de todos os assuntos que lhe competiam: organizou o clero e sua atuação, delimitou os espaços das freguesias paroquiais, ordenou o tombamento dos bens das igrejas e da diocese, redigiu estatutos e restaurou o recolhimento de Santa Teresa. Apesar das dificuldades financeiras da época, fazia questão de realizar visitas pastorais em toda a diocese.

Homem atento e honesto, viveu modestamente no tempo em que permaneceu em São Paulo. Sua experiência colaborou muito com a organização do bispado. Em dois anos de trabalho, organizou a diocese administrativamente criando o cabido e a cúria, além de normas administrativas. Preocupado com a formação do clero, ao morrer, deixou sua “livraria” como herança. Faleceu aos 54 anos, no dia 07 de novembro de 1748. Seus funerais duraram três dias. Primeiramente, foi sepultado na capela-mor do Colégio Jesuíta. Atualmente, seus restos mortais repousam na cripta da catedral da Sé, onde pode ser lido em sua lápide:

 
“PAX.CHRISTI.
COLENDI.PASTORIS.BERNARDI.RODRIGVES.NOGVEIRA.
OLISPONE.AVCTI.SACERDOTII.PLENITVDINE.
IN.PAVLOPOLITANVM.SOLIVM.ASCENSVRI.PRIMI.
OVE.MODERANTE.CREATI.SVNT.PRIMI.CANONICI.
SETIMO.ID.NOV.AN.MDCCXLVIII.
VITAM.CUM.MORTE.PIE.PLACIDOVE.COMMVTANTIS.
HOC.IN.MONVMENTO.LACET.EXVIAE.”1
 

1 Paz de Cristo. Neste jazigo encontram-se os despojos do venerável pastor Bernardo Rodrigues Nogueira, que em Lisboa recebeu a plenitude do sacerdócio, destinado a ser o primeiro ocupante da Sé Paulistana. Sob seu governo foram instituídos os primeiros cônegos. Aos 7 de novembro de 1948. Piedosa e placidamente, trocou a vida pela morte.

 

BRASÃO

 

Descrição: Escudo eclesiástico, partido: o 1º de jalde com cinco flores-de-lis de goles, postas em sautor – Armas dos Rodrigues; o 2º de jalde, com uma banda xadrezada de sinopla e argente, de cinco ordens, a do meio coberta por um filete de goles – Armas dos Nogueiras. O escudo está assente em tarja branca. O conjunto pousado sobre uma cruz trevolada de ouro, entre uma mitra de prata adornada de ouro, à dextra, e de um báculo do mesmo, a senestra, para onde se acha voltado. O todo encimado pelo chapéu eclesiástico com seus cordões em cada flanco, terminados por seis borlas cada um, tudo de verde.

Interpretação: O escudo obedece as regras heráldicas para os eclesiásticos. Os campos representam as armas familiares do bispo, nascido da nobreza lusitana. No 1º, o metal jalde (ouro) simboliza: nobreza, autoridade, premência, generosidade, ardor e descortínio; e a cor goles (vermelha) simboliza o fogo da caridade inflamada no coração do bispo, bem como valor e socorro aos necessitados. O No 2º, o metal jalde (ouro) tem o significado já descrito acima; a cor sinopla (verde) simboliza esperança,liberdade, abundância, cortesia e amizade; e o metal argente (prata) simboliza a inocência, a castidade, a pureza e a eloquência, virtudes essenciais num sacerdote.