Inspiradas em Dom Paulo, elas estão a serviço da Igreja e do povo

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Maria Angela, Anita Gomes e Rosina Azevedo (foto), Helena Corazza, Mirian Kolling, Ana Flora Anderson participaram do velório do Cardeal Arns
Publicado em: 16/12/2016 - 10:30
Créditos: Redação

Maria Angela, Anita Gomes e Rosina Azevedo (foto), Helena Corazza, Mirian Kolling, Ana Flora Anderson. São mulheres que na quinta-feira, 15, logo pela manhã foram à Catedral da Sé rezar ao lado do corpo do Cardeal Arns, arcebispo emérito de São Paulo, que morreu na quarta-feira, 14, e será sepultado nesta sexta-feira, 16, na cripta da Catedral, após a missa das 15h.

Embora elas tenham convivido com Dom Paulo por motivos diferentes, o que as une é a gratidão por terem tido a oportunidade de conviver com este homem que marcou profundamente a Igreja, a sociedade e a vida de pessoas de uma forma concreta e cheia de significado.

São mulheres fortes, que continuam a luta pela justiça e pelos direitos humanos. E, embora hajam muitas outras como Marina Bandeira, que foi coordenadora da Comissão Justiça e Paz Nacional; Margarida Genevois, a única mulher que trabalhava na Comissão Justiça e Paz de São Paulo; Ruth Maria de Carvalho, uma das primeiras leigas consagradas de São Paulo ou ainda Ana Dias, a esposa de Santo Dias, assassinado durante a ditadura militar, algumas contaram suas experiências à reportagem do O SÃO PAULO.

Irmã Helena Corazza, religiosa paulina

“Trabalhei com Dom Paulo de 1977 até 1980 coordenando um Setor da Arquidiocese. Naquele tempo, tínhamos um empenho de articular as religiosas na pastoral. Uma vez por mês, havia um encontro de todas com ele. Uma preocupação que ele tinha já naquela época era a respeito das migrações, que a Igreja se fizesse presente na vida dos migrantes, evitando o anonimato. Ele também se preocupava muito com a formação para a comunicação do clero. Lembro-me ainda de uma missa na Catedral da qual eu participei, em que ele falou sobre a ditadura e as muitas noites que passou no Departamento de Ordem e Política Social (Dops) para conseguir ver ou falar com algum preso que queria ajudar.”

Irmã Miria Kolling, compositora e cantora

“Ele foi o profeta da esperança. Fico muito comovida porque, quando ele celebrou o Jubileu, o Frei Fabretti e eu compusemos uma missa com a letra do padre Lucio Floro, “De esperança em esperança”. Dom Paulo, defensor dos pobres, amigo do povo como Jesus, deixa para nós essa marca do compromisso e da misericórdia para o mundo.

Maria Angela Borsoi, secretária de Dom Paulo durante 40 anos

“Estou muito alegre e serena em ação de graças, aqui pertinho do nosso Dom Paulo. Agradeço a Deus o privilégio de conhecê-lo a pelo menos 50 anos atrás e ter trabalhado com ele em Santana, quando ele era bispo auxiliar, na equipe de evangelização. Dom Paulo ateou fogo missionário naquele grupo, composto de leigos, religiosos e padres. E fiquei sendo secretária dele, pois naquela época eu era uma das únicas que sabia datilografar e tinha uma máquina portátil. Eles perceberam que eu tinha facilidade para escrever e por isso me convidaram. Quando ele foi nomeado arcebispo de São Paulo, eu então fui me despedi dele, pois achava que não iria continuar o trabalho. Mas ele disse: ‘Como não? Só se você não quiser.’ E eu continuei. São os caminhos de Deus! Hoje, aos 77 anos, percebo tudo o que me foi dado para viver e estou ainda mais feliz, porque a vida de Dom Paulo é de domínio público e a todos os que me perguntarem, essa velha tem muita história para contar.”

Ana Flora Anderson, biblista

“Dom Paulo tinha uma visão à frente do seu tempo. A questão da mulher na Igreja, por exemplo, seja na Comissão de Justiça e Paz, sejam as Consagradas e leigas consagradas. Desde que foi publicada a notícia de sua morte, amigos ingleses que trabalharam na época da ditadura têm me telefonado para saber sobre a vida de Dom Paulo. Ontem recebi um e-mail do diretor no National Catholic Reporter, dos Estados Unidos da América, que foi um jornal que enviou repórteres ao Brasil durante a ditadura dúzias de vezes, para conversar com Dom Paulo.

Irmã Anita Gomes, religiosa vicentina, que trabalhou, a pedido de Dom Paulo, no  Amparo Maternal

“Quando ele me mandou para lá, encontrei uma casa que estava desmoronando. Então eu pensei: o que vou fazer aqui? Mas, Dom Paulo me chamou, pôs a mão no meu ombro e nunca mais tirou. Ele arrumou tudo o que podia. Em primeiro lugar, precisava pintar. Então eles chamou um grupo de seminaristas, que ficou um mês pintando e renovou um pouco a estrutura. Dom Paulo viajava muito, mas sempre trazia aquilo que podia para ajudar. Foi uma força, pois sem essa força eu não poderia fazer nada, porque o Amparo Maternal era mal visto pela sociedade, e com ele, aos poucos, essa visão foi mudando. As pessoas não gostavam porque o Amparo acolhia moças pobres que engravidavam e não tinham onde ficar. Lá fiquei por 34 anos, com sua mão sobre meu ombro. Dom Paulo foi um grande pai para o Amparo.”

Maria Helena Lima de Freitas, da ordem franciscana secular e uma das iniciadoras do Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo

“O que eu quero dizer como mãe, mulher e avó é que, quando profetas históricos, como Dom Paulo, têm como apoio os leigos, as mulheres e o povo, nós aprendemos qual o caminho para sermos acolhidos. Eu tive a experiência pessoal de perceber que, quando a instituição abre as portas, nós ajudamos a construir a história do país. Participei do Movimento Constituinte e fui convidada pela Ruth Maria de Carvalho para participar do Conselho de Leigos e isso nos ajudou muito a atuar na cidade. Eu, por exemplo, só fui para os Conselhos de saúde, porque participei destes movimentos dentro da Igreja.”

 

(Redação: Nayá Fernandes)