Papa quer valorizar a presença dos leigos na Cúria Romana

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adre Alexandre contou com ao O SÃO PAULO sobre sua nomeação como secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida
Publicado em: 27/06/2017 - 16:30
Créditos: Redação

Nomeado para ser o secretário do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida – organismo da Cúria Romana criado em setembro do ano passado e que, entre outras funções, acompanha a organização das Jornadas Mundiais da Juventude –, o Padre Alexandre Awi conheceu o Papa Francisco em 2007, durante a Conferência de Aparecida. O Sacerdote, que é um missionário de Schoenstatt e estava atuando no território da Arquidiocese de São Paulo, exercia a função de secretário da comissão de redação do documento final da assembleia, presidida pelo Cardeal Jorge Mario Bergoglio – então arcebispo de Buenos Aires (Argentina). Já ali, Padre Alexandre se impressionou com a simplicidade e humildade do futuro Papa e sua capacidade de trabalhar em equipe. Trocaram algumas cartas antes e depois da eleição de Bergoglio ao Papado. Atualmente, conversam por e-mail. “Me impressiona muito seu amor por Nossa Senhora, que ele real- mente tem como sua mãe”.

Confira a íntegra da entrevista:

 

O SÃO PAULO – COMO O SENHOR RECEBEU A NOMEAÇÃO?

Padre Alexandre Awi – No final do ano passado, o Santo Padre entrou em contato com o meu superior geral e ali já havia alguns rumores de que algo poderia acontecer. Mas, ainda nada certo. Até que eu tive a possibilidade de ir a um encontro da Jorna- da Mundial da Juventude em Roma e pude conversar com o Cardeal Farrel [Dom Kevin Joseph Farrel, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida] e ele me disse que havia sugerido meu nome ao Santo Padre. Naquela ocasião, eu também tive a oportunidade de conversar com o Santo Padre sobre isso. Foi em abril que terminamos de fechar, inclusive a questão dos prazos da nomeação. De fato, meu trabalho só começa em setembro. Mas, eu precisava de uns meses para estudar italiano. Foi nesse sentido que combinamos de no final de maio publicar a nomeação. O Papa achou bonito a data ser o 31 de maio, dia da visitação de Nossa Senhora, e ele já me conhece pelo lado mariano.

 

O QUE O PAPA FALOU SOBRE O QUE ESPERA DO SENHOR NA FUNÇÃO DE SECRETÁRIO DESTE DICASTÉRIO?

Ele tem a intenção de que seja parte de todo esse processo de reforma da Cúria. Por um lado, se reduz a quantidade de dicastérios. Por outro, também, deve ser valorizada a presença dos leigos. Os subsecretários provavelmente serão leigos. A própria tarefa que eu terei, mais para frente pode ser exercida por um leigo. Então, a intenção é a de uma participação cada vez maior, uma abertura, uma mudança de estilos. Por exemplo, toda a perspectiva que os sínodos tem trazido, de uma consulta mais ampla, de conversar mais com as pessoas, de ter uma presença maior das bases. Tudo isso, sem dúvida, é parte desse processo de reformas. A reforma não é só organizacional, como a gente está vendo, mas também é pastoral.

 

PESSOALMENTE, O QUE ESPERA DA FUNÇÃO?

Eu diria que é um grande desafio, pois é um trabalho novo. O próprio dicastério é novo – é uma junção de várias áreas muito importantes da Igreja. Eu acredito que vai ser uma experiência muito grande de contato com a Igreja universal, na qual a gente vai pode levar um pouco da nossa experiência. Eu acho que se espera um trabalho de equipe. Trabalhar junto, a serviço da Igreja. Acho que é também esse o espirito que o Papa espera.

 

COMO A ESPIRITUALIDADE E O CARISMA PRÓPRIOS DO MOVIMENTO DE SCHOENSTATT PODEM AJUDÁ-LO NA NOVA MISSÃO?

A experiência com o movimento de Schoenstatt ao longo destes 15 anos que eu sou padre e mais os dez de for- mação tem, em primeiro lugar, preparado o coração no sentido do serviço à Igreja. O nosso fundador pediu que se escrevesse no seu túmulo “amou a Igreja”, e ele tinha estado 14 anos exilado pela própria Igreja e esteve em campo de concentração, mas tudo que ele viveu foi por amor à Igreja. Em segundo lugar, a família de Schoenstatt é um movimento federativo são mais de 20 comunidades que procuram se coordenar. E eu também coordenei, em âmbito nacional, esse trabalho e, por isso, acredito muito no trabalho em unidade, em equipe, valorizando o que é próprio de cada pessoa. Por fim, há também as dimensões mariana e pedagógicas próprias do movimento. Eu tenho certeza que o “mariano” é algo na Igreja que abarca todos os outros carismas. Uma Igreja mariana, com perfil mariano, é uma Igreja que parte do amor, que parte da ternura – como é o próprio Papa Francisco. E a dimensão pedagógica que é tão importante nos trabalhos com leigos. Schoenstatt é um movi- mento de educação e de educadores. Espero que isso, de alguma maneira, possa me ajudar nesse trabalho.

 

AS DIFICULDADES FINANCEIRAS PARA DIOCESES SEDES DA JMJ ABREM A POSSIBILIDADE DE MUDANÇAS NO FORMATO DO EVENTO? O PAPA FALOU ALGO COM O SENHOR SOBRE ISSO?

O Papa não falou nada sobre mu- danças no formato da JMJ. Na última Jornada, o pessoal da Polônia não manifestou uma preocupação financeira especificamente. Sem dúvidas, para o Panamá será mais pesado, mais difícil. Mas eles estão muito empolgados, estão muito animados e conseguiram contagiar todos, convocando toda a juventude. E eles esperam que toda a América Latina assuma junto. Deus queira que a gente possa marcar uma presença grande.

 

COMO O SENHOR VÊ OS DESAFIOS DE DIÁLOGO DA IGREJA COM OS LEIGOS, SOBRETUDO COM OS JOVENS?

Com a juventude, nós vamos ter agora uma grande oportunidade com o Sínodo [o tema da próxima assembleia sinodal, que será realizada em 2018, é juventude]. O Papa pediu que houvesse um envolvimento muito grande e não só dos jovens católicos. Por isso, há uma pesquisa online para que outros jovens não católicos, de outras denominações, inclusive ateus, possam participar [a pesquisa está no ar e pode ser acessada através do site do Vaticano].

O SENHOR VAI PARA A CÚRIA ROMANA NUM MOMENTO DE REFORMAS... QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE AS MUDANÇAS EM CURSO?

A necessidade das mudanças é evidente. De fato, foi um pedido dos cardeais ao próximo Papa já nas congregações prévias [à realização do Conclave que elegeu o Papa Francisco, em 2013]. Já ali, se notava e se pedia que era importante realizar mudanças. Mas, não se trata de mu- dança pela mudança. Por inventar algo novo. Se trata de uma reforma de atitudes em primeiro lugar. Isso   é o que o Papa tem insistido    muito novas atitudes, uma conversão pastoral, inclusive do Papado. Então, se trata de uma conversão pessoal – das pessoas que estão ali trabalhando. Mas também a mudança na perspectiva missionária da Igreja. Uma conversão pastoral que faz com que toda a Igreja esteja em atitude de missão. Isso muda muito – quando o objetivo é levar a alegria do Evangelho para todos, certos fatores, os mais burocráticos, não têm a prioridade no anúncio. Os novos dicastérios devem ter essa atitude missionária.