Belém, capital Eucarística do Brasil

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Legado pontifício, Cardeal Cláudio Hummes preside missa de abertura do XVII Congresso Eucarístico Nacional, no Estádio Olímpico do Pará.
Publicado em: 18/08/2016 - 13:15
Créditos: Jucelene Rocha e Renata Moraes

A força da Eucaristia e a ação missionária da Amazônia levou mais de 35 mil pessoas ao Estádio Olímpico do Pará, popularmente conhecido como Mangueirão, na noite da segunda-feira,15, para a abertura do XVII Congresso Eucarístico Nacional (CEN), em Belém (PA). Depois de seis anos de preparação, a capital paraense sedia pela segunda vez um Congresso Eucarístico, abre suas portas e acolhe toda a Igreja tornandose a capital eucarística do Brasil, até domingo, 21. Com o tema:“Eucaristia e Partilha na Amazônia Missionária”, e o lema “Eles o reconheceram no partir do Pão”, a edição deste ano marca as comemorações dos 400 anos de fundação da cidade de Belém, e o quarto centenário da Evangelização na Amazônia. A capital paraense nasceu em 1616 como parte da estratégia da Colônia Portuguesa para povoar a região e assim evitar a invasão desse território por outros exploradores europeus como holandeses e franceses.

Belém acolhe a Igreja do Brasil

Segundo estimativa da organização, todo o evento deve reunir aproximadamente 500 mil pessoas, entre as quais 300 bispos, 1500 padres, e 50 mil congressistas, para professarem publicamente sua fé na presença real de Cristo na Santíssima Eucaristia. Da Arquidiocese de São Paulo participam o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, seus bispos auxiliares e alguns padres do clero arquidiocesano. A abertura solene contou com a presença de autoridades civis e eclesiásticas, além de milhares de leigos vindos de vários lugares do país, religiosos e religiosas, padres, bispos e cardeais, como também da presença do Núncio Apostólico do Brasil, Dom Giovanni D’Anielo, que leu a carta enviada pelo Papa Francisco ao Cardeal Cláudio Hummes, nomeado pelo pontífice como seu representante pessoal para o CEN 2016, encargo pastoral denominado como Legado Pontifício. A mensagem destaca especialmente a necessidade de colocar em prática o mandato de Jesus Cristo: “Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura, quem crer e for batizado será salvo”. Ainda na mensagem, o Papa exorta a Igreja a fortalecer a fé do povo com a catequese e a oração, lembrando a importância da vivência do amor na vida cotidiana. O pontífice recorda também que a família é uma igreja doméstica, lugar onde nasceram e cresceram gerações de cristãos e missionários.

Por Maria vamos a Jesus

A cerimônia de abertura do CEN coroou a trajetória de preparação para este momento marcante de grande testemunho público da fé. Assim como acontece em todas as iniciativas religiosas no Pará, a devoção a Nossa Senhora de Nazaré, padroeira da Amazônia, abriu as atividades. A entrada da imagem no Estádio Olímpico encheu de luz e emoção o espaço ocupado pelos fiéis nas arquibancadas que foram iluminadas com velas distribuídas aos participantes. Emocionada, a belenense Jaciara Vasconcelos, sintetizou o clima do momento. O Congresso começou com o que, segundo ela, o povo paraense tem de melhor a oferecer, o grande testemunho de fé e comunhão eclesial. “Eu fiz questão de trazer meu filho para este momento lindo! Foi muito emocionante a entronização da imagem da Virgem de Nazaré a nos abençoar”, destaca. De fato, assim como acontece na tradicional procissão do Círio de Nazaré, que se realiza em Belém no mês de outubro e reúne mais de dois milhões de pessoas, a fisionomia da devoção mariana em terras amazônicas também se fez notar na abertura deste que é o maior evento em torno da Sagrada Eucaristia. No meio do povo, histórias de veteranos na fé se misturam com novas experiências nascidas ali mesmo, diante do Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Participando pela primeira vez de um congresso Eucarístico Nacional a jovem Ana Kate, de São Luís (MA) partilha os motivos que a trouxeram à Belém: “Busco aqui um momento de encontro pessoal com Jesus na Eucaristia, vim também para rezar pelo mundo que está tão sedento de Deus, tão necessitado de paz. Foi a certeza na força da Eucaristia como luz para o mundo que me trouxe até aqui”.

‘Cristo aponta para a Amazônia'

A missa de abertura foi presidida pelo Legado Pontifício, Cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, e Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB. Na homilia, Dom Cláudio reforçou a importância da Sagrada Comunhão. “A Eucaristia é fonte de toda a Evangeliza- ção. A Eucaristia é o centro da Igreja”. Ao falar sobre os desafios da Igreja na Amazônia, o Cardeal Hummes destacou a necessidade do cuidado com a Casa Comum e a preservação da natureza, defendidos e incentivados pelo Papa Francisco na encíclica Laudato Si’. Ainda falando sobre o tema Eucaristia e Partilha na Amazônia Missionária, recordando os Discípulos de Emaús que reconheceram Cristo ao partir o Pão, Dom Cláudio enfatizou: “Os povos da Amazônia reconhecerão o Cristo se repartimos com eles o nosso pão: o pão material e o Pão Espiritual”. Ao citar o Beato Paulo VI, o Cardeal Hummes recordou a necessidade de se renovar a urgência missionária e o cuidado com os povos indígenas e ribeirinhos ao reafirmar: “Cristo que aponta para a Amazônia”. 

Origem e motivos do Congresso

O primeiro Congresso Eucarístico foi celebrado em 1881 em Lille, na Fran- ça por iniciativa de um grupo de leigos apoiados por São Pedro Julião Eymard. No Brasil, o primeiro Congresso aconteceu em 1933, em Salvador (BA), com o tema: “Vinde, adoremos o Santíssimo Sacramento”. O texto-base para esta 17ª edição descreve os objetivos de um Congresso Eucarístico: “Aprofundar a doutrina cristã sobre a Eucaristia; prestar culto público e solene ao Santíssimo Sacramento; manifestar a universalidade e a unidade da Igreja e sua dimensão missionária. Irradiar para a Igreja e a sociedade os frutos da Eucaristia na ação social; e realizar seminários temáticos públicos específicos, com temas ligados a teologia da Eucaristia”.

Ostensório do CEN 2016

A Arquidiocese de Belém conseguiu tornar ainda mais solene a exposição pública da Sagrada Eucaristia ao apresentá-la em um ostensório que traz em sua estrutura a síntese da identidade amazônica e brasileira. A peça que é uma verdadeira obra de arte mede 1,60m de altura e foi adornada com pedras preciosas da Amazônia. Na base apresenta quatro anjos que trazem no rosto características da população que forma o povo brasileiro. A grande estrutura que parte da base e forma o resplendor simboliza a Samaumeira, uma das maiores árvores do mundo e conhecida entre os povos indígenas como a árvore da Vida. Na natureza esta árvore pode atingir mais de 60m de altura, com diâmetro de até dois metros. Esta inspiração da natureza trouxe ao ostensório do CEN todo simbolismo presente na cultura dos povos da floresta. Como explica o vigário geral da arquidiocese de Belém e idealizador da obra, Monsenhor Raimundo Possidônio da Mata, “transformada emblematicamente em custódia ou ostensório do Congresso, a Samaumeira acolhe em seu seio e manifesta de um modo sublime a nossa realidade natural, histórica, humana e eclesial em profunda comunhão com o mistério eucarístico. Aos pés do ostensório estão representações de nossa sócio diversidade nos rostos de indígenas, afrodescendentes, brancos e mestiços que seguram, em profunda adoração e comunhão, o Deus humanado na Samaumeira sustentada por uma Vitória-Régia, a flor símbolo da Amazônia”.

Publicado no Jornal O SÃO PAULO / Edição: 3115 /17 a 23 de agosto de 2016