Cardeal Hummes: ‘Dom Paulo falava, com coragem, mas também fazia’

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Sucessor de Dom Paulo, Cardeal Hummes presidiu segunda missa do funeral de Dom Paulo
Publicado em: 15/12/2016 - 01:00
Créditos: Redação

Durante a noite da quarta-feira, 14, com demonstrações de carinho e em clima de comoção, centenas de fiéis estiveram na Catedral da Sé para se despedir do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, que morreu aos 95 anos.

Ao longo do funeral, que segue até a tarde da sexta-feira, 16, na Catedral da Sé, têm sido celebradas missas a cada duas horas. A primeira às 20h, foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, e a segunda, às 22h, pelo Cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, que sucedeu a Dom Paulo à frente da Arquidiocese, entre 1998 e 2006.

Dom Cláudio, na homilia, citando o Papa Francisco, recordou que a Igreja cresce mais por atração do que por doutrinação, em especial quando há o testemunho da misericórdia, algo que Dom Paulo fez em vida e por isso agregou tantas pessoas. 

“Por que nós admiramos tanto Dom Paulo? Por que nós o veneramos, nós o amamos? Por que ele foi um homem que não apenas falava. Ele falava, sim, e com coragem, mas ele também fazia. A palavra só não leva a nada”, disse, destacando a atuação do Cardeal da Esperança na defesa dos direitos humanos e dos mais pobres. “Ele se distinguiu por sua grande preocupação e amor aos pobres nas periferias”, completou, lembrando que Dom Paulo não media esforços para fazer com que toda a Igreja de São Paulo estivesse junto aos que mais precisavam.  

“Ele ia se encontrar essa gente sofrida, abandonada, humilhada. Ele não ia sozinho, mas estimulava seus pares a irem, seus bispos auxiliares a irem com ele, e também os membros das pastorais. A prioridade eram as periferias. Ele pessoalmente ia e o povo o acolhia com grande coração, porque entendia o gesto dele. Claro, ele não podia com uma varinha de mágica mudar a situação deles de um dia para outro, mas o admiravam por estar ali, por não os ter esquecido. Ele os preferia. Ele cuidava de todos, mas com preferencia pelos pobres. Jesus Cristo nos ensinou isto, e Dom Paulo fez isto”, destacou o Cardeal Hummes.

Dom Cláudio também comentou que durante o período militar, Dom Paulo se preocupou em ser solidário às vítimas das diferentes torturas, mas também foi enfático ao denunciar aqueles que as praticavam.

“Ele não tinha medo. Falava, denunciava no mundo, não apenas aqui dentro do Brasil , o que estava acontecendo. Ele sabia que podia sim ser atingido, mas não pensava em si mesmo. Ele estava pensando nessa gente, nessas pessoas que estavam sendo humilhadas, perseguidas, presas e torturadas. E foi isto que a sociedade inteira de São Paulo começou a admirar neste homem”, recordou.

Na conclusão da homilia, Dom Cláudio comentou que ao chegar à Arquidiocese de São Paulo para substituir Dom Paulo, em 1998, procurou manter as principais vias de trabalho do Cardeal Arns. “Foi um grande irmão e um grande amigo. Por isso, também me alegro porque ele hoje está junto de Deus, cumpriu a sua missão, mas por outro lado, sinto uma grande perda”, afirmou.

Edição: Daniel Gomes / Apuração: Larissa Freitas