Cardeal Scherer: ‘Onde nos posicionamos no drama da Paixão?’

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<p>Este é o único dia do ano em que não se celebram missas em nenhuma parte do mundo.</p>
Publicado em: 04/04/2015 - 16:00
Créditos: Redação

Por Fernando Geronazzo
Fotos: Rejane Guimarães

O silêncio tomava conta da Catedral da Sé na tarde desta Sexta-feira Santa, 3, para  a Ação Litúrgica da Paixão de Nossa Senhor Jesus Cristo. Pontualmente às 15h, mesmo horário em que, segundo as Sagradas Escrituras, Jesus morreu na Cruz, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, acompanhado de alguns padres e ministros, aproximou-se silenciosamente do altar desnudado e prostrou-se por uns instantes.

Este é o único dia do ano em que não se celebram missas em nenhuma parte do mundo. Na cerimônia – que faz parte do Tríduo Pascal iniciado na noite de quinta-feira, 2, com a Missa da Ceia do Senhor – , é proclamado o Evangelho da Paixão de Cristo segundo São João.

Jesus foi até o fim

Na homilia, Dom Odilo explicou que o relato de São João, rico em detalhes dos últimos momentos de Jesus antes da ressurreição, trata-se de uma catequese para que não somente saibam o que aconteceu com Jesus, mas também o conheçam e creiam “em Jesus que foi crucificado e é o filho de Deus, nosso Salvador”.  “O relato da Paixão não é simplesmente o relato de uma crônica de um jornalista que olhou e relatou o que aconteceu. Mas transmite o convite a aderir com fé a Jesus Cristo que assim entregou sua vida por nós, assim se manifestou nosso salvador, que nos remiu do pecado, mostrou a misericórdia de Deus para conosco entregando sua vida por nós”, afirmou o Cardeal. 

“Diante da narração da Paixão, quais são as nossas atitudes? Onde nos posicionamos no drama da Paixão?, indagou Dom Odilo, lembrando ainda há quem defenderia Jesus até o próprio martírio. “Ainda ontem (dia 2), ouvimos que numa universidade no Quênia, mais de 140 cristãos morreram simplesmente por serem cristãos. Estes se posicionaram no drama da paixão, não renegaram o nome de Cristo”, salientou.

Dom Odilo ainda disse que Jesus poderia ter escapado, poderia ter se defendido das acusações. “Porém, Jesus foi ao encontro daqueles que o vieram prender jesus sabendo que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus até o fim, até a morte e morte de cruz”.

Testemunho da verdade

“Jesus podia mentir diante de Pilatos para se salvar, mas testemunhou a verdade até o fim. A verdade de Deus se manifesta no caminho da retidão, da justiça e dignidade, das escolhas feitas segundo a consciência reta.”, acrescentou o Arcebispo, chamando a atenção para a “corrupção moral” a corrupção da consciência, que existe antes da corrupção administrativa e do dinheiro.

“A corrupção moral, dos costumes, quando não se quer olhar a verdade das coisas e da natureza, e se justifica qualquer ato mal como se fosse normal, contra a verdade. Somos também nós testemunhas da verdade?”, também perguntou Dom Odilo.

Referindo-se ao trecho da Carta aos Hebreus proclamado na celebração, o Cardeal explicou que o exto é um convite para que todos e aproximem do crucificado, “o grande sacerdote, que no momento da paixão realiza o ato supremo do sacerdócio, da oblação feita a Deus, da sua própria vida”. 

“Que a celebração da Sexta-feira Santa, mais do que simplesmente algo do passado, seja um convite para todos nós nos colocarmos dentro do drama da Paixão do Senhor, para nos aproximarmos do trono da graça e da misericórdia de Deus que se manifestou na Cruz de Cristo”, concluiu.

Oração Universal e adoração da cruz

Após a Oração Universal  – que consiste em preces pela Igreja pelo Papa, por todas as ordens e categorias de fiéis, pelo catecúmenos, pela unidade dos cristãos, pelos judeus, pelos que não creem em Cristo, pelos que não Creem em Deus, pelos podres públicos e por todos que sofrem provações –, outro momento marcante da Ação Litúrgica da Paixão é a adoração da cruz.

A cruz coberta é trazida pelo corredor central da Igreja por um diácono, que vai descerrando-a aos poucos, enquanto entoa-se o refrão “Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo!”, e o povo aclama: “Vinde, adoremos!”. Diante do altar a cruz é adorada pelo arcebispo, com um beijo, em seguida pelos demais fiéis em um momento de profunda piedade.

O momento conclusivo da Ação Litúrgica é a comunhão, feita com a reserva eucarística da Missa da Ceia do Senhor. Nesta celebração também é feita em todo mundo a coleta para os lugares santos, como gesto concreto de solidariedade para com as comunidades cristãs que vivem na Terra Santa. A celebração é concluída com uma oração sobre o povo, uma vez que a bênção final  só será novamente proferida ao término da solene Vigília Pascal, na noite do Sábado Santo, 4.

Após celebração, os jovens da Comunidade Católica Shalom realizaram uma encenação da Paixão de Cristo nas escadarias da Catedral. Em seguida, aconteceu a tradicional procissão pelas ruas do centro de São Paulo com a imagem do Senhor morto e de Nossa Senhora das Dores.