Cardeal Scherer: ‘Ser de Jesus é estar a serviço uns dos outros e da humanidade’

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Celebração da instituição da Eucaristia foi presidida pelo Arcebispo Metropolitano no Seminário de Teologia Bom Pastor e transmitida pelas mídias sociais
Publicado em: 10/04/2020 - 09:00
Créditos: Redação

Na noite desta quinta-feira, 9, teve início o Tríduo Pascal com a celebração da Ceia do Senhor, na qual se faz memória da instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Neste ano, em virtude da pandemia do novo coronavírus, esta acontece de modo diferente, sem a presença dos fiéis, que são convidados a vivenciar este momento da “semana maior” em suas casas e em comunhão com toda a Igreja.

O Arcebispo Metropolitano de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, presidiu a missa na capela do Seminário Arquidiocesano de Teologia Bom Pastor, no bairro do Ipiranga. A celebração foi transmitida pelas mídias sociais do Cardeal, da Arquidiocese e pela rádio 9 de Julho.

MEMORIAL

Na homilia, Dom Odilo explicou que a celebração da Quinta-feira Santa recorda os muitos dons que Jesus entregou à sua Igreja, rememorando que o Cristo celebrava com os apóstolos a ceia judaica, mas, que naquela noite, Ele instituiu a ceia da nova e eterna aliança, presente nos dias atuais com a Eucaristia.

“Nós nos reportamos ao cenáculo da última ceia, àquela mesa sagrada, onde Jesus sentou com seus apóstolos e instituiu a Eucaristia e, com a eucaristia, o sacerdócio para servir à comunidade dos fiéis em nome de Jesus Cristo”, afirmou o Arcebispo.

O Cardeal lembrou que as leituras que contemplam esta celebração fazem memória não somente no aspecto de uma lembrança, mas de forma que a assembleia participe dos fatos que são recordados.

PASSAGEM

A primeira memória meditada por Dom Odilo foi o significado da Páscoa Judaica narrada na primeira leitura, no livro do Êxodo, quando Deus ordenou ao povo, por meio de Moisés, que todas as famílias realizassem a ceia e que marcassem sua porta com o sangue do cordeiro para que assim “o povo estivesse pronto para passar pelo mar vermelho e pelo deserto. Depois da passagem do Senhor, se deu a origem ao nome de Páscoa”.

Dom Odilo recordou que essa memória foi celebrada por muitos séculos pelas famílias em seus lares, para que os povos nunca se esquecessem que foi por meio desta passagem que Deus os fez livres da escravidão e para que “pudessem também se sentir parte disso, ‘Deus passou por mim, isto é, me libertou’”.

INSTITUIÇÃO PERPÉTUA

Já na segunda leitura, Paulo narra a memória da última ceia de Jesus com seus apóstolos. Este memorial é o próprio amor de Jesus por toda a humanidade.  

“A Eucaristia fala da entrega de Jesus para a nossa salvação e da sua passagem deste mundo para o Pai, para a glória. Por isso, Jesus celebrando a Páscoa Judaica, tomando o pão, lhe deu um sentido novo, dizendo: ‘Este pão é meu corpo, façam isso em memória de mim’. Este cálice é o meu sangue derramado por vocês. Sou eu quem me entrego por vocês, significado neste cálice”, afirmou Dom Odilo.

Dom Odilo falou, também, que Paulo, ao revelar a mensagem que lhe era transmitida, indicou que este rito se tornaria uma instituição perpétua, por meio da missa e da Eucaristia, que faz memória da misericórdia de Deus que salva a toda  humanidade.

MISSÃO

No Evangelho de São João, o Cardeal reiterou que Jesus tinha consigo tudo o que lhe iria acontecer e sabia que havia chegado a hora de sua Páscoa: “Tendo amado os que estavam neste mundo, os amou até o fim, até a sua morte na cruz, o derramamento do seu sangue”.

Dom Odilo continuou dizendo que na mesma noite, Jesus institui o gesto do lava-pés, que neste ano, devido ao isolamento social, foi omitido da celebração.

“Lavar os pés significava se colocar, humildemente, a serviço uns dos outros. O terceiro memorial é quando Jesus entrega aos apóstolos esta missão: façam vocês a mesma coisa. Ser de Jesus é estar a serviço uns dos outros e da humanidade. Ele colocou toda a sua vida a serviço da humanidade e quer que nós façamos os mesmo em sua memória, até que nós tenhamos dias neste mundo”, salientou.

EU VOS DOU UM NOVO MANDAMENTO

A quarta memória é conservada pela Igreja como um testamento: “Amai-vos uns aos outros como Ele nos amou. Amar com o coração generoso, até mesmo de dar a vida se for preciso”, recordou o Arcebispo.

“Na última ceia nasceu a Igreja com a instituição da Eucaristia, sacerdote, e este memorial do serviço e amor uns com os outros. A Eucaristia é o sacramento de Jesus e da Igreja reunida como corpo de Cristo. A Eucaristia faz a Igreja, pois, ao celebrá-la, a Igreja fica claramente representada, ali está Jesus na pessoa do celebrante, o povo de Deus - membros do corpo de Cristo - a Palavra de Deus, nossas preces e nossa ação de graça”.

CONFIANÇA EM DEUS

Dom Odilo afirmou que a Igreja nasce para ser sinal da presença de Jesus e de esperança ao seu povo, por meio da caridade fraterna. Por isso, neste tempo de aflição, é preciso renovar a confiança de que Deus não abandona o seu povo, mas com ele caminha.

“Que Deus nos ajude a celebrar a Eucaristia com fé, devoção e com grande gratidão, pois é um sagrado mistério da fé que nunca conseguiremos agradecer. Que a nossa participação alegre e contente na Eucaristia seja o sinal da nossa adesão a tudo que Cristo deixou para nós”.

O Arcebispo rezou, no momento da oração dos fiéis, por todas as pessoas que estão sofrendo com a COVID-19, e por todos os que estão cuidando da vida neste período de preocupação.

SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Outra mudança adotada em decorrência da pandemia foi a de não realizar a adoração e oração do Santíssimo Sacramento em um ostensório. As hóstias consagradas foram depositadas no tabernáculo, onde o Arcebispo permaneceu, juntamente com os padres, diáconos e seminaristas em adoração.