‘Com paixão pela Igreja, você a comunica bem’, afirma novo vice-diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé

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Em entrevista exclusiva ao jornal O SÃO PAULO, o jornalista Greg Burke, fala da função para a qual foi nomeado pelo Papa Francisco
Publicado em: 11/07/2016 - 19:00
Créditos: Jornal O SÃO PAULO - Edição 3091

Atualizado em 11 de julho de 2016

O Papa Francisco acolheu a renúncia apresentada pelo Padre Federico Lombardi SJ do cargo de Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, nesta segunda-feira (11). O novo Diretor nomeado pelo Pontífice é Greg Burke, até agora Vice-Diretor da Sala de Imprensa. Dr. Burke assume o cargo em 1° de agosto. A partir desta data, a Sala de Imprensa terá uma Vice-Diretora, Paloma García Ovejero.

Greg Burke é natural de Saint Louis, nos Estados Unidos e completará 57 anos em novembro. É membro numerário da Opus Dei. Em sua carreira como jornalista, trabalhou em empresas como Reuters, Metropolitan, National Catholic Register, Time e Fox News.

Confira  a entrevista exclusiva de Greg Burke ao Jornal O SÃO PAULO em 04/03/2016.

Por Filipe Domingues, em Roma

O jornalista norte-americano Greg Burke é um dos símbolos da reforma do sistema de comunicação da Santa Sé, que vem sendo realizada pelo Papa Francisco, desde o ano passado. Após décadas de trabalho em grandes empresas de comunicação dos Estados Unidos, entre elas a revista Time e a emissora de televisão Fox News, Burke auxilia desde 2012 a Secretaria de Estado do Vaticano a melhorar a forma como se comunica com o mundo.

No fim de 2015, o Papa o nomeou vice-diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, colocando-o na linha de frente do relacionamento com a imprensa internacional. Ele substitui o passionista italiano Padre Ciro Benedittini, que ocupou o cargo por 20 anos. O atual diretor da Sala de Imprensa é o Padre Federico Lombardi, que já tem 73 anos. No Vaticano, há rumores de que Burke poderá substituí-lo no futuro. Nesse caso, o norte-americano seria o segundo porta-voz leigo da história: durante o pontificado de João Paulo II, o espanhol Joaquín Navarro-Valls foi o homem-referência para a imprensa internacional no Vaticano. Ambos são membros da prelazia pessoal Opus Dei.

Greg Burke é, portanto, um jornalista católico. Participou em 11 de fevereiro de um dos primeiros eventos públicos após assumir a nova posição: uma aula inaugural na Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma, na qual falou de sua experiência a alunos do curso “Master em Jornalismo Digital”.
Após o encontro, ele conversou com exclusividade com O SÃO PAULO sobre jornalismo e comunicação na Igreja. Foi uma de suas primeiras entrevistas desde que se tornou vice-diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, provavelmente a primeira sobre o tema da comunicação. “Ainda não dei muitas entrevistas, mas tudo bem”, disse, com bom humor, quando a reportagem pediu que respondesse a algumas rápidas perguntas. Veja a seguir a íntegra da conversa.

 O SÃO PAULO – Você disse na sua aula que o jornalista deve ter grande paixão pelo seu trabalho. Essa mensagem serve também para a comunicação na Igreja?

Greg Burke - Sim! O meu ex-chefe na Fox News [Roger Ailes] tem um belo livro que é mais ou menos sobre “como falar em público”. Se chama “You are the message” (Você é a mensagem). Mas a mensagem é muito simples: se você acredita realmente em uma coisa, consegue comunicá-la bem. Isso é verdade. Se você tem paixão pela Igreja, você a comunica bem, ou aprende a comunicar bem, porque isso é visível.

Qual é a maior diferença entre o jornalismo de reportagem que você fazia na Fox News e agora de estar do outro lado atendendo os jornalistas na Sala de Imprensa da Santa Sé? E qual é a diferença entre um jornalista comum e um jornalista católico?

Eu diria que o jornalista é sempre jornalista. No entanto, agora estou do outro lado em relação aos jornalistas, o que é certamente diferente, porque respondo às perguntas em vez de fazê-las. De todo modo, o jornalista de um jornal católico e o jornalista de um outro meio, para mim, são muito parecidos. Os sujeitos [sobre quem escrevem] podem ser um pouco diferentes. Porém, deve existir sempre aquela mesma paixão, aquele mesmo desejo de encontrar coisas interessantes para as pessoas. Como encontro alguma coisa que faz as pessoas lerem meu artigo do início ao fim? Isso vale para a televisão, vale para um jornal secular e para um jornal católico.

Pensando nas pessoas das paróquias, no Brasil é muito comum a Pastoral da Comunicação, muitas vezes feita de pessoas comuns, mas apaixonadas pela comunicação. Não são necessariamente profissionais, mas escrevem sobre a Igreja, publicam jornais paroquiais. O que você diria a elas?

A minha mensagem é: não é que todos nascemos jornalistas, mas, como cristãos, todos nascemos comunicadores. Como diz sempre o Papa Francisco, temos uma mensagem que não permanece conosco, mas deve ser compartilhada. No fundo, como se faz isso? Essa mensagem é compartilhada na comunicação.

Na última mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, ele destacou que a maneira, a forma, como se comunica uma mensagem é tão importante quanto o conteúdo...

Sim, comunica-se também com o modo. Isso é interessante, porque é uma coisa que com as novas mídias se torna algo perigoso. Às vezes, é muito fácil ter falta de caridade por causa da velocidade! A velocidade das redes sociais pode levar a fazer coisas que você não faz se parar para pensar. É útil pensar sobre isso. Quando alguém lhe manda um e-mail e você fica um pouco nervoso, com a cabeça agitada, melhor esperar um dia! Como cristãos, buscamos viver a caridade com todos, também com aqueles que não gostam da gente. Caridade sempre.