Convidados para a Ceia

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No Natal dos Pobres, da Arquidiocese de São Paulo, que aconteceu no domingo, 17, foram servidas 1.500 refeições em mesas montadas em frente à Catedral da Sé
Publicado em: 22/12/2017 - 12:30
Créditos: Redação

Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

O clima era de festa e as mesas, com toalhas verdes e vermelhas, tornavam a tarde diferente para quem todos os dias, ou pela primeira vez, passava pela Praça da Sé. O evento foi o Natal dos Pobres, no domingo, 17, que além de outras atividades, distribuiu mais de 1.500 refeições, com direito à refrigerante e sobremesa, servidas por 200 voluntários de diferentes comunidades ligadas à Arquidiocese de São Paulo. 

Aliança de Misericórdia, Toca de Assis, Vicariato do Povo da Rua, Fraternidade O Caminho, Mensagem Paz, Comunidade Anawin e outros grupos reuniram-se para o evento, que proporcionou, desde às 13h, atividades de cabelereiro, enfermagem, manicure, música e todo tipo de atendimento direcionado, principalmente, para a população em situação de rua. 

As ações se concentraram na Praça da Sé, e, às 17h, houve uma celebração eucarística dentro da Catedral, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo. O jantar, cujo cardápio era composto por arroz, salada de macarrão, feijão e pernil, foi servido logo após a missa. Outros 300 voluntários ficaram em torno das mesas, em toda a Praça, para garantir que os convidados pudessem comer tranquilamente.

 

Histórias que se cruzam

Petrona Flores estava sentada à mesa com seus quatro filhos: Elen, 11; Taís, 9; Ernando, 5; e o pequeno Jorge, de 1 ano e 8 meses. Eles vieram de Oruro, na Bolívia, no fim de 2015, e moram atualmente em uma ocupação na rua Vitorino Camilo. Ao ser perguntada sobre o motivo da mudança, Petrona disse que sofreu, por muitos anos, com a violência doméstica e depois de passar por um abrigo, na Bolívia, resolveu mudar-se para São Paulo. De ônibus, com os quatro filhos, ela veio de seu país direto para a Capital Paulista e trabalha enquanto os filhos estão na escola e quando surgem oportunidades. 

“Conseguimos regularizar nossa documentação e os quatro estão na escola. Agora que eles estão de férias, eu não posso trabalhar e dependo de doações”, contou a mãe à reportagem do O SÃO PAULO. Petrona e os filhos vieram para o jantar após terem sido convidados por um grupo de missionários que visitou a ocupação onde residem. “Eu fiquei muito mal depois de tudo o que sofremos e todo tipo de ajuda é bem-vinda. Estou muito feliz em trazê-los aqui”, continuou ela. 

O Natal dos Pobres aconteceu em concomitância com a Missão Thalita Kum 2017, que está na sua 16ª edição e é promovida pela Aliança de Misericórdia. Com o tema “Ele está no meio de nós!”, os missionários começaram as atividades na sexta-feira, 15, e estarão em missão até a quinta-feira, 21. 

Yasmim Menezes de Oliveira tem 23 anos e está no 3º ano de formação como membro da Comunidade de Vida da Aliança de Misericórdia. Ao lado da amiga, Bruna Gabriela Vieira, 21, ela participou da celebração eucarística e está em missão pelas ruas do centro de São Paulo, realizando atividades como visitas aos hospitais e acolhida às pessoas em situação de rua. 

Aos 59 anos, Benedito Carlos Cardoso é membro da Fraternidade O Caminho e estava sentado, ao redor das mesas, observando as pessoas sendo servidas. “Estou sóbrio há três anos, graças aos irmãos da Comunidade”, disse. Natural de Santos (SP), ele tem hepatite C e, além do próprio tratamento, acompanha outras pessoas aos hospitais, quando estas chegam da rua à casa onde ele mora, na rua Djalma Dutra, 69. “Foi difícil, mas eu consegui me libertar”, continuou Benedito, que junto à bengala, apoiada na cadeira, segurava mas mãos uma cruz de madeira e um Terço.

 

Servir sempre

Enquanto no palco, montando em frente à Catedral da Sé, apresentações musicais animavam e distraíam as pessoas, Michele Marques servia as mesas, preocupada para que ninguém fosse esquecido. Há cerca de dois meses, ela está trabalhando para que a ceia fosse um momento especial na vida daquelas pessoas. “Chegamos bem cedo para montar a decoração aqui e há muito tempo estamos trabalhando nas lembrancinhas que foram dadas a eles [uma flor colorida feita com balinhas de goma]”, contou a jovem, que participa da Aliança de Misericórdia desde 2012. 

Boa parte das balas utilizadas nas lembrancinhas foram conseguidas por Michele, que é funcionária em um banco e pediu doações aos colegas de trabalho. “Servir é uma experiência linda. Mas, na verdade, nós recebemos muito mais do que damos.” 

A Irmã Mary de Calcutá é membro da Aliança de Misericórdia há 17 anos e foi uma das responsáveis pela organização do evento. “Pela segunda vez consecutiva, servimos os pobres aqui na Praça. E as novidades deste ano foram a decoração, o palco com apresentações musicais e a missa dentro da Catedral”, explicou a Religiosa. 

Uma fila de crianças e adolescentes se formou rapidamente para o show de calouros improvisado em cima do palco. Sara Keterine, 14, mora com a avó e a mãe numa ocupação da rua Benjamim Constant, e estava esperando para cantar “Deus ainda não te esqueceu”, música que ela aprendeu na Igreja Evangélica que participa. “Estou ansiosa e quero que você me assista”, disse Sara, ao ser abordada pela reportagem.

Durante a homilia da missa, que foi celebrada no Domingo da Alegria, o terceiro do tempo litúrgico do Advento, o Cardeal recordou o que “o cristão é aquele que traz sempre a alegria, mesmo quando há sofrimento”. Antes do jantar começar a ser servido, Dom Odilo fez sua saudação e convidou a todos, católicos ou não, a rezarem com ele a oração do Pai Nosso. Ele pediu a todos que cantassem, junto com ele, os parabéns para o Papa Francisco, que aniversariou no dia 17 de dezembro e completou 81 anos de vida. 

 

DOAÇÕES

Principais necessidades:

Alimentos, produtos de limpeza, higiene pessoal e roupas

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