Em curso, padres aprofundam temas de moral e bioética

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ardeal Odilo Pedro Scherer participou da abertura do Curso de Atualização de Sacerdotes, realizado entre os dias 18 e 21, em São Paulo
Publicado em: 28/07/2017 - 13:15
Créditos: Redação

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Com o tema Antropologia Moral e Questões de Bioética, a 9ª edição do Curso de Atualização de Sacerdotes (CAS), reuniu 110 padres de 43 dioceses entre os dias 18 e 21, no Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS), na Bela Vista, região central de São Paulo. O curso foi organizado pela Associação Presbíteros, voltada para a promoção da formação de sacerdotes e para a captação de recursos para favorecer a formação de seminaristas e a pós-graduação de padres.

Padre Carlos Eduardo Olivieri, um dos organizadores do curso, explicou ao O SÃO PAULO que o CAS tem o objetivo de oferecer para os padres diocesanos a oportunidade de formação permanente. Segundo ele, há muitos congressos para tantas áreas da ciência humana, mas poucas oportunidades para a formação do clero e para a troca de experiências e saberes sobre sua atuação pastoral, como é o caso do tema proposto para este ano. “Nós estamos lidando continuamente com situações que exigem de nós um posicionamento a respeito da bondade ou da maldade de nossas ações, e as pessoas nos questionam sobre isso. Sem dúvida, os princípios todos estão contidos nas Sagradas Escrituras, no Magistério da Igreja, mas nessas fontes não há respostas específicas para essas situações incomuns que se manifestam na atualidade”, explicou.

Para o Padre Carlos, as questões que o Papa suscitou na Exortação Apostólica Pós-sinodal Amoris Laetitia geraram uma série de debates, por se tratar de um documento pastoral. “O curso também tem o objetivo de projetar um pouco mais de luz para que, dentro da linha proposta pelo Papa Francisco, possamos aderir e promover aquilo que é a finalidade da Igreja, que é levar as almas para o céu”, disse.

O Vigário Regional da Prelazia da Santa Cruz e Opus Dei, Monsenhor Vicente Ancona, destacou que o CAS também é um “momento de fraternidade sacerdotal muito intenso, em que nos apoiamos e nos animamos a sermos bons padres para o serviço em nossas dioceses”. 

 

CRISE ANTROPOLÓGICA 

A abertura do curso contou com a presença do Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, que manifestou seu apreço pela iniciativa e pela escolha do tema. “Existe uma crise antropológica e é importante perceber em que isso consiste. O ser humano não sabe mais quem ele é e por isso não saberá mais dizer qual é o seu agir”, destacou. 

Para aprofundar o tema foi convidado o Padre Arturo Bellocq, Doutor em Teologia Moral e Professor de Moral Fundamental e Doutrina Social da Igreja na Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma. Ele iniciou sua conferência apresentando a história da Teologia Moral desde o Concílio Vaticano II até hoje, em diferentes etapas, chegando ao momento presente, no qual, afirmou, há muitas pessoas que, embora se digam cristãs, possuem uma mentalidade que não corresponde ao Cristianismo, pois foram formadas pela cultura atual. 

 

DISCERNIMENTO PASTORAL

Para realizar o discernimento pastoral, o Teólogo destacou três ideias principais divididas em três conferências. A primeira, sobre as normas morais, suas origens, seu papel, seus diferentes tipos. Em seguida, uma reflexão sobre os atos que constroem ou destroem as virtudes cristãs. “A vida cristã não só se compõe de intenções e atitudes boas, mas que essas atitudes podem ser confirmadas nos atos. A moralidade cristã tem uma unidade entre atos e intenções boas”. A última aula tratou da formação da consciência moral: “Até que ponto a pessoa é responsável pela formação da sua própria consciência, como pode se formar uma consciência reta, até que ponto isso depende da cultura geral, e como podemos ajudar os nossos fiéis a formarem a consciência boa?”

Padre Arturo explicou ao O SÃO PAULO que a intenção de suas conferências foi dar ideias gerais sobre como funciona a conduta humana e como a fé transforma essa conduta para saber “o que podemos esperar dos nossos fiéis e como podemos conduzi-los à plenitude da santidade cristã, que é a felicidade, como nos pede o Papa Francisco”, disse. 

“Temos que ser fiéis à verdade cristã, mas também temos que ser fiéis a essa pessoa concreta, na sua fragilidade, ao bem possível que ela pode fazer, para, a partir de onde ela estiver, tentar levá-la à plenitude, não só repetindo normas”, acrescentou o Teólogo. 

Recordando São João Paulo II, Padre Arturo apontou que é impossível para o ser humano entender a moral cristã sem viver uma vida sobrenatural, de graça, de oração, dos sacramentos, da leitura do Evangelho. “A moral cristã é específica, é fruto de uma revelação. Tem continuidade com a moral humana, mas não pode se reduzir à racionalidade humana da pessoa sem fé”.