O SÃO PAULO por dentro do Sínodo (IV)

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<p>Para concluir a série sobre o relatório final da III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, ocorrida entre 5 e 19 de outubro.</p>
Publicado em: 13/11/2014 - 10:15
Créditos: Jornal O SÃO PAULO – Edição 3027

Para concluir a série sobre o relatório final da III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, ocorrida entre 5 e 19 de outubro, O SÃO PAULO publicou a tradução em português dos principais trechos, entre os parágrafos 41 e 62, da terceira parte do relatório, o “Agir”.

O resumo dos conteúdos entre os parágrafos 29 e 40, que também compõem esta parte do documento, foram publicados na edição da semana passada. Anteriormente, o jornal apresentou a síntese do diagnóstico dos principais problemas que afetam as famílias no mundo atual (Parte I - Olhar) e o referencial analítico teológico e de fé sobre a família segundo o plano de Deus (Parte II - Julgar),  sempre com comentários explicativos do Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano e Padre Sinodal.

O texto original do relatório se encontra no site do Vaticano somente em italiano. A tradução dos trechos publicados no Semanário é de autoria e responsabilidade do diretor e editor do jornal, assim como os subtítulos que antecedem os trechos traduzidos. 

Leia também: 

Relatio Synodi (I) Comentário de Dom Odilo sobre o relatório do Sínodo (I) Relatio Synodi (II) Comentário de Dom Odilo sobre o relatório do Sínodo (II) Relatio Synodi (III) Comentário de Dom Odilo sobre o relatório do Sínodo (III) Comentário de Dom Odilo sobre o relatório do Sínodo (IV) Página especial do Sínodo dos Bispos Relatio Synodi da 3ª Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos: “Os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização”.

Parte III

(Continuação)

 

Cuidado pastoral com as pessoas que vivem no matrimônio civil ou em convivência

Dialogar para transformar

“Ao mesmo tempo em que continua a anunciar e promover o Matrimônio cristão, o Sínodo encoraja o discernimento pastoral sobre as situações de tantos que não vivem mais essa realidade. É importante entrar em diálogo pastoral com tais pessoas para evidenciar os elementos de suas vidas que possam conduzir a uma maior abertura ao Evangelho do Matrimônio na sua plenitude. Os pastores devem identificar elementos que possam favorecer a evangelização e o crescimento humano e espiritual. Uma sensibilidade nova da pastoral de hoje consiste em acolher os elementos positivos presentes nos matrimônios civis, e, consideradas as devidas diferenças, nas convivências”. (N.41)

Tratar das famílias feridas

A necessária ajuda da Igreja aos casais em crise de relacionamento

“Quando os esposos experimentam problemas em seu relacionamento, devem poder contar com a ajuda e o acompanhamento da Igreja. A pastoral da caridade e da misericórdia tendem à recuperação das pessoas e dos relacionamentos. A experiência mostra que com uma ajuda adequada e com a ação reconciliadora da graça, um grande percentual de crises matrimoniais se superam de modo satisfatório”. (N.44)

O perdão: garantia do amor que não passa

“Saber perdoar e sentir-se perdoado é uma experiência fundamental na vida familiar. O perdão entre os esposos permite a experiência de um amor que é para sempre e que não passa nunca (cf 1 Cor 13,8)”. (N.44)

Necessidade de caminhos novos e de opções pastorais corajosas

“No Sínodo, ressoou clara a necessidade de escolhas pastorais corajosas. Reconfirmando com força a fidelidade ao Evangelho da família e reconhecendo que separações e divórcio são sempre uma ferida que provoca profundos sofrimentos aos cônjuges que os vivem e aos filhos, os Padres sinodais advertiram à urgência de caminhos pastorais novos, que partam da efetiva realidade das fragilidades familiares, sabendo que essas, frequentemente, são ‘incorridas’ mais como sofrimento do que como escolhas em plena liberdade”. (N.45)

A arte de acompanhar

“Toda família seja, em primeiro lugar, ouvida com respeito e amor fazendo-se companheiros de caminho como o Cristo com os discípulos na estrada de Emaús. Valem de maneira particular (…) as palavras do Papa Francisco: ‘A Igreja deverá iniciar os seus membros – sacerdotes, religiosos e leigos – nesta arte do acompanhamento’, para que todos aprendam sempre a tirar as sandálias diante da terra sagrada, o outro (cf. Es 3,5)”. (N.46)

Acompanhamento pastoral de separados: discernimento e valorização da dor de quem foi injustiçado

“Um discernimento especial é essencial para acompanhar pastoralmente separados, divorciados, abandonados. Seja acolhido e valorizado especialmente o sofrimento daqueles que sofreram injustamente separação, divórcio ou abandono, ou que foram forçados por maus-tratos de um cônjuge a romper a coabitação”. (N.47)

A Graça torna o caminho para o perdão possível

“O perdão para a injustiça não é fácil, mas é um caminho que a graça faz com que seja possível. Daí a necessidade de um ministério de reconciliação e da mediação, também através de centros de aconselhamento especializados a serem estabelecidos nas dioceses”. (N. 47)

Tratar de maneira leal e construtiva as consequências da separação: as crianças não podem ser objeto de lutas

“Da mesma forma, se enfatizou que é essencial cuidar de maneira leal e construtiva das consequências da separação ou divórcio sobre as crianças, inocentes vítimas da situação. Elas não podem ser um ‘objeto’ de luta e faz-se necessário buscar as melhores maneiras para que elas possam superar o trauma de crescer em uma família dividida, da maneira mais serena possível”. (N.47)

Famílias monoparentais: ajuda às mulheres abandonadas

“Deve ser dada especial atenção ao acompanhamento de famílias monoparentais, de modo particular sejam ajudadas as mulheres que têm de carregar sozinhas a responsabilidade da casa e de educar os filhos”. (N.47)

Verificação da veracidade do vínculo: simplificação dos procedimentos

“Um número grande de Padres sinodais destacou a necessidade de tornar mais acessíveis e ágeis, possivelmente totalmente gratuitos, os procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade. Entre as propostas, foram indicadas: a superação da necessidade de dupla sentença conforme; a possibilidade de determinar uma via administrativa sob a responsabilidade do bispo diocesano; a adoção de um processo sumário nos casos de nulidade notória”. (N.48)

“Alguns Padres sinodais se dizem, contudo, contrários a essas propostas porque não garantiriam um juízo confiável. Seja reiterado que em todos esses casos se trata da verificação da veracidade sobre a validade do vínculo”. (N.48)

Pessoas divorciadas, mas não recasadas, busquem a força na Eucaristia e contem com a assistência das comunidades

“As pessoas divorciadas, mas não recasadas, que são testemunhas da fidelidade matrimonial, sejam encorajadas a encontrar na Eucaristia o alimento que lhes sustentem em seu estado. A comunidade local e os Pastores devem acompanhar essas pessoas com solicitude, sobretudo quando há filhos ou é grave a sua situação de pobreza”.  (N.48)

Pessoas divorciadas e recasadas: respeito e acolhimento

“Também as situações dos divorciados recasados exigem discernimento e um acompanhamento de grande respeito, evitando linguagens e posturas que lhe façam sentirem-se discriminados e promovendo a sua participação na vida da comunidade”.(N.51)

Admissão de divorciados e recasados à Penitencia e à Eucaristia

“Se refletiu sobre a possibilidade de os divorciados e recasados terem acesso aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia. Diversos Padres sinodais insistiram em favor da disciplina atual, em razão da relação constitutiva entre a participação na Eucaristia e a comunhão com a Igreja e o seu ensinamento sobre o Matrimônio indissolúvel. Outros se expressaram a favor de um acolhimento não generalizado à mesa eucarística, em algumas situações particulares e sob condições bem precisas, sobretudo quando se trata de casos irreversíveis e ligados a obrigações morais em relação aos filhos sobre os quais incorreriam sofrimentos injustos. (Nestes casos), o eventual acesso aos sacramentos deverá ser precedido por um caminho penitencial sob a responsabilidade do bispo diocesano. A questão seja ainda aprofundada tendo bem presente a distinção entre a situação objetiva de pecado e circunstâncias atenuantes, dado que a ‘imputabilidade e a responsabilidade de uma ação podem ser diminuídas ou anuladas’ por diversos ‘fatores psíquicos ou mesmo sociais’ (Catecismo da Igreja Católica 1.735)” .(N.52)

“Alguns Padres defenderam que as pessoas divorciadas e recasadas ou conviventes podem recorrer frutuosamente à comunhão espiritual. Outros padres se perguntaram porque, então, não podem ter acesso àquela sacramental? Foi, portanto, solicitado um aprofundamento temático em grau de fazer emergir a peculiaridade das duas formas (de comunhão) e a sua conexão com a teologia do Matrimônio” . (N.53)

Atenção pastoral para com pessoas com tendências homossexuais

“Algumas famílias vivem a experiência de ter dentro delas pessoas com orientação homossexual. Nesse sentido, temos sido questionados sobre qual cuidado pastoral seria oportuno diante dessa situação, referindo-se a quanto a Igreja ensina: Não há nenhum fundamento para assimilar ou estabelecer, até mesmo remotamente, analogias entre as uniões homossexuais e o casamento e a família no plano de Deus. No entanto, os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos com respeito e delicadeza. Em relação a eles, devem ser evitados todo e qualquer sinal de discriminação injusta (Congregação para a Doutrina da Fé, Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais, 4)”. (N.55)

A transmissão da vida e o desafio da baixa natalidade

“Não é difícil ver a difusão de uma mentalidade que reduz a geração de vida a uma variável da projeção individual ou de casal. Os fatores econômicos exercem um peso decisivo, por vezes, contribuindo para a queda acentuada da taxa de natalidade, o que enfraquece o tecido social, compromete o relacionamento entre as gerações e faz com que pareça mais incerto sobre o futuro”.(N.57)

“A abertura à vida é uma exigência intrínseca do amor conjugal. Sob essa luz, a Igreja apoia as famílias que acolhem, educam e circundam de seu amor as crianças com deficiência”. (N. 57)