‘Os santos são os grandes católicos e o melhor fruto da evangelização’

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Nesta entrevista ao O SÃO PAULO, o Cardeal Scherer lembra que há uma numerosa comunidade católica brasileira em algumas cidades dos Estados Unidos
Publicado em: 23/10/2018 - 16:45
Créditos: Redação

Na primeira quinzena deste mês, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, esteve em três atividades no exterior: em Nova York, nos Estados Unidos, presidiu a missa anual pela celebração de Nossa Senhora Aparecida; em Guadalajara, no México, foi ao 1º Encontro Continental da Pastoral Urbana; e no Vaticano, no domingo, 14, participou da cerimônia de canonização de sete santos, entre os quais o Papa Paulo VI, pontífice de 1963 até sua morte, em 1978; e Dom Oscar Romero, Arcebispo de San Salvador, assassinado em 1980 na capital de El Salvador. 

Nesta entrevista ao O SÃO PAULO, o Cardeal Scherer lembra que há uma numerosa comunidade católica brasileira em algumas cidades dos Estados Unidos e comenta que a Igreja no continente americano tem tomado consciência sobre o “grande desafio pastoral representado pelas grandes concentrações urbanas”. Ao referir-se às canonizações, o Arcebispo de São Paulo disse que os santos “são os verdadeiros discípulos-missionários de Jesus Cristo, que muito contribuíram e continuarão a contribuir com a missão da Igreja”.

A seguir, leia a íntegra da entrevista. 

 

O SÃO PAULO - RECENTEMENTE, O SENHOR ESTEVE EM NOVA YORK, ONDE PRESIDIU A MISSA ANUAL PELA CELEBRAÇÃO DE NOSSA SENHORA APARECIDA. QUAIS FORAM AS IMPRESSÕES DO SENHOR SOBRE ESSA COMUNIDADE BRASILEIRA DE FIÉIS CATÓLICOS?

Cardeal Odilo Pedro Scherer - Há uma numerosa comunidade católica brasileira em Nova York, assim como em outras grandes cidades norte-americanas – Boston, Chicago, Miami, Los Angeles e Newark. São comunidades ativas e bem organizadas, com participação na vida da Igreja local. A celebração de Nossa Senhora Aparecida é tradicional em várias cidades. Celebrei na Catedral de São Patrício de Nova York, com numerosos participantes, inclusive os representantes diplomáticos brasileiros locais junto à cidade e à ONU. O Cardeal Timothy Dolan, de Nova York, incentiva as diversas comunidades católicas nacionais presentes na cidade a se expressarem e a participarem da vida daquela Arquidiocese e mostrou-se satisfeito com os brasileiros.

 

TAMBÉM ESTE MÊS, O SENHOR PARTICIPOU DO 1º ENCONTRO CONTINENTAL DA PASTORAL URBANA, NO MÉXICO. QUAIS FORAM OS PRINCIPAIS ASSUNTOS TRATADOS NESTA ATIVIDADE?

O Congresso foi organizado pelo CELAM e pela Arquidiocese de Guadalajara, com o tema “O Evangelho da alegria na grande cidade”. Houve reflexões teológico-pastorais sobre a cidade grande e sobre a missão evangelizadora nesses ambientes desafiadores e também promissores. Foram feitas diversas análises para compreender a lógica da cidade grande e também o significado da missão da Igreja nela. Houve também a partilha de experiências pastorais novas, relativas à presença e ação da Igreja nas metrópoles.
 

NESSE ENCONTRO EM GUADALAJARA, FOI POSSÍVEL PERCEBER DESAFIOS COMUNS NO TOCANTE À EVANGELIZAÇÃO NAS GRANDES METRÓPOLES DO CONTINENTE?

A Igreja do continente vai tomando consciência, mais e mais, do grande desafio pastoral representado pelas grandes concentrações urbanas, que já são muitas na América. Temos de ter uma atenção especial para esse fato novo na história da humanidade e com o qual a Igreja ainda não havia se confrontado antes. A metrópole pode ser uma ocasião promissora para a evangelização; mas também pode representar um momento de grave risco para a Igreja, se ela não souber se inserir de maneira adequada na lógica da cidade grande para o anúncio e o testemunho do Evangelho. É o momento de sermos criativos e de realizarmos aquilo que o Papa Francisco e o Documento de Aparecida nos pedem: conversão pastoral, Igreja em saída, Igreja em estado de missão...

 

ALGUMAS DAS CONFERÊNCIAS DO REFERIDO ENCONTRO TRATARAM SOBRE COMO ‘VIVER A FÉ NA GRANDE CIDADE’; ‘CONSTRUIR A CIDADE A PARTIR DA RECONSTRUÇÃO DO TECIDO SOCIAL’, ‘A CIDADE QUE REVELA SEUS ROSTOS OCULTOS’; E ‘O DESAFIO DE EVANGELIZAR COM ALEGRIA AS GRANDES CIDADES’. QUAIS ASPECTOS DESSAS TEMÁTICAS TÊM PROXIMIDADE COM AS REFLEXÕES DO SÍNODO ARQUIDIOCESANO?

Nosso sínodo já parte da preocupação de sermos Igreja na metrópole, tanto que o lema do sínodo nos convida a sermos “testemunhas de Deus na metrópole”... O sínodo arquidiocesano traz essa proposta de fazermos um “caminho de comunhão conversão e renovação pastoral e missionária” em nossa Arquidiocese inteira, de cada um de nós, em cada comunidade e em todas as expressões de vida eclesial. Temos uma ocasião propícia para tomarmos consciência da nossa situação eclesial na metrópole, dos acertos e das lacunas, dos métodos mais adequados e também, se preciso for, da organização pastoral, para que corresponda melhor aos desafios postos à nossa missão em São Paulo. Eu espero muito do sínodo arquidiocesano!

 

APÓS O EVENTO NO MÉXICO, O SENHOR PARTICIPOU DA CERIMÔNIA DE CANONIZAÇÃO DOS BEATOS PAULO VI E OSCAR ROMERO NO VATICANO. O QUE REPRESENTAM ESSAS CANONIZAÇÕES DO PAPA E DO ARCEBISPO QUE DIFUNDIRAM INTENSAMENTE A DEFESA DA VIDA?

Na verdade, foram sete os novos santos do domingo, 14 de outubro. Foi um momento memorável e uma celebração participada por muitos cardeais, bispos, padres e uma multidão imensa de povo. Os santos são os grandes católicos e o melhor fruto da evangelização. São os verdadeiros discípulos-missionários de Jesus Cristo, que muito contribuíram e continuarão a contribuir com a missão da Igreja. A canonização de São Paulo VI foi o reconhecimento do trabalho gigantesco desse grande pontífice, que assumiu com muita competência a continuidade do Concílio Vaticano II após o falecimento de São João XXIII. Ele também teve o trabalho da implementação das decisões do Concílio no período imediatamente posterior a este, o que não foi nada fácil. Destacou-se por sua qualidade teológica, pelo diálogo ecumênico, pela abertura aos tempos novos na Igreja e na sociedade, pelo seu ensinamento social. Foi um grande pastor da Igreja! Santo Oscar Romero, mártir da fé, é testemunho de lucidez e firmeza na fé em tempos difíceis e de caridade heroica, exercida e mantida sobretudo na defesa do povo simples e pobre, ameaçado pelos poderes dominantes e pelo regime de força. Ele honra o episcopado latino-americano e, com seu testemunho, continuará a dar coragem e perseverança na fé a tantas pessoas que também hoje expõem a sua vida em testemunho do Evangelho.
 

TAMBÉM FOI CANONIZADO UM JOVEM DE 19 ANOS DE IDADE?

Foi muito significativo que, justamente, durante a realização da assembleia do Sínodo dos Bispos sobre o tema “os jovens, a fé e o discernimento vocacional” tenha sido canonizado também um jovem italiano, Nunzio Sulprizio. O Papa Francisco quis, assim, passar a mensagem para todos os jovens e para a humanidade inteira que o caminho da santidade é para todos e, em particular, para os jovens. Essa canonização já é parte da mensagem do Sínodo “dos jovens”