Papa: utilizar Deus para justificar violência é uma blasfêmia

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Ao manifestar pesar pelos atentados em Paris, Francisco reafirmou que o caminho da violência e do ódio não resolve os problemas da humanidade
Publicado em: 16/11/2015 - 10:15
Créditos: Redação com Rádio Vaticano e Rádio Renascença

“Desejo expressar minha profunda dor pelos ataques terroristas que na noite de sexta-feira ensanguentaram a França, causando numerosas vítimas”, afirmou o Papa Francisco durante a oração mariana do Angelus deste domingo, 15, diante de milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro, no Vaticano. Os atentados deixaram 129 mortos e mais de 300 feridos, dos quais, cerca de uma centena em graves condições. Foram seis ataques armados simultâneos, reivindicados pelo grupo autodenominado Estado Islâmico.

O pontífice expressou seu profundo pesar pelos atentados em Paris, externando seus sentimentos ao presidente da República Francesa e a todos os cidadãos, manifestando proximidade particular aos familiares daqueles que perderam a vida e aos feridos. “Diante de tais atos, não se pode deixar de condenar a inqualificável afronta à dignidade da pessoa humana. Quero reafirmar com veemência que o caminho da violência e do ódio não resolve os problemas da humanidade e que utilizar o nome de Deus para justificar esse caminho é uma blasfêmia!”

O Santo Padre convidou todos a se unirem a sua oração, confiando as vítimas indefesas dessa tragédia à misericórdia de Deus. “A Virgem Maria, Mãe de misericórdia, suscite nos corações de todos pensamentos de sabedoria e propósitos de paz”, acrescentou. Após pedir a proteção a Nossa Senhora para a querida nação francesa, a Europa e o mundo inteiro, rezou em silêncio os fieis, e depois uma Ave-Maria.

‘Isso não é humano’

Em entrevista, por telefone, à emissora católica TV 2000, da Itália, o Papa Francisco também falou sobre os atentados. “O sentimento é de comoção e de dor, não entendo, mas essas coisas são difíceis de entender, feitas por seres humanos, e por isso me sinto comovido e condoído, e rezo. Faço-me próximo do povo francês, tão amado, próximo dos familiares das vítimas e rezo por todos eles.”, afirmou o Pontífice que ressaltou que não há justificativas religiosas nem humanas para esses atos. “Isso não é humano. É por isso que me faço próximo de todos aqueles que sofrem e de toda a França, à qual quero muito bem”, completou.

Apoio ao arcebispo de Paris

No sábado, 14, o Santo Padre enviou um telegrama, através do Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, ao arcebispo de Paris, Cardeal André Vingt-Trois.

Na mensagem, o Papa Francisco invoca também a misericórdia de Deus Pai para que acolha as vítimas na paz da sua luz e proporcione conforto e esperança aos feridos e suas famílias. Desta forma, ele assegura sua proximidade espiritual a todas as pessoas que participaram das operações de socorro. Mais uma vez, o Pontífice condena com vigor a violência, que nada resolve, pedindo a Deus que inspire em todos sentimentos de paz e solidariedade. Por fim, concede a sua paternal Bênção Apostólica às famílias provadas e a todos os franceses.

'Coração firme, sem ódio'

O Arcebispo parisiense mostrou-se chocado com os atentados e pediu às paróquias que sigam as medidas de segurança decretadas pelas autoridades e aos católicos para participarem em “jornadas de oração". “O nosso país conhece de novo a dor do luto e enfrenta a barbárie espalhada por grupos fanáticos", referiu o cardeal Vingt-Trois, num comunicado divulgado pela página da Arquidiocese de Paris.

“Que diante da violência dos homens, possamos receber a graça de um coração firme, sem ódio. Que a moderação, a temperança e o controle que todos mostraram até ao presente se confirmem nas semanas e nos meses que aí vêm”, pediu o Cardeal, que, no domingo, presidiu uma missa na Catedral de Notre Dame pelas vítimas dos atentados.

Jubileu da Misericórdia ainda mais necessário

Em nota publicada no sábado, 14, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, respondeu a questionamentos sobre como viver o Ano da Misericórdia, que será aberto em dezembro, diante do clima de apreensão causados pelo terrorismo em Paris. “Atenção! Estes homicidas possuídos por um ódio insensato se chamam terroristas propriamente porque querem difundir o terror. Se nós nos deixarmos amedrontar, já alcançaram seu primeiro objetivo. É uma razão a mais para resistir com decisão e com coragem à tentação do medo”, observou o Porta-voz, acrescentando que, naturalmente, é preciso prudência para tomar racionalmente as precauções cabíveis.

Padre Lombardi afirmou, ainda, que “que o Jubileu da misericórdia se manifesta ainda mais necessário”. “Uma mensagem de misericórdia, ou seja, do amor de Deus que tem como consequência também o amor recíproco e a reconciliação. É exatamente a resposta que é preciso dar em tempos de tentação de desconfiança [...]. Quando o Papa Francisco fala da III Guerra Mundial em capítulos, é preciso a mensagem da misericórdia para tornar-nos capazes de reconciliação, de construir pontes, não obstante tudo, de ter a coragem do amor.”

“Não é tempo de renunciar ao Jubileu ou de ter medo de sua realização. Precisamos dele mais do que nunca”, ressaltou o jesuíta, reforçando que o Ano Santo deve ser vivido com sabedoria, “mas também com coragem e com impulso espiritual, continuando a olhar adiante com esperança, apesar dos ataques do ódio”.