Paulo VI e Oscar Romero: amigos de Deus e promotores da vida

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Esses dois personagens da história da Igreja no século XX têm muitas coisas em comum que os fazem modelos de santidade
Publicado em: 18/10/2018 - 16:30
Créditos: Redação

No domingo, 14, na Praça São Pedro, o Papa Francisco canonizará sete beatos, dentre os quais, o Papa Paulo VI e Dom Oscar Romero. Esses dois personagens da história da Igreja no século XX têm muitas coisas em comum que os fazem modelos de santidade a serem seguidos, especialmente por sua identificação com a pessoa de Jesus Cristo e a defesa da vida humana. 

 

PAPA MONTINI

Giovanni Battista Montini nasceu em Bréscia, na Itália, em 26 de setembro de 1897. Foi ordenado sacerdote em 1920. Doutor em Filosofia, Direito Civil e Direito Canônico, serviu a diplomacia da Santa Sé e a pastoral universitária italiana. Foi colaborador direto do Papa Pio XII e, durante a 2ª Guerra Mundial, ocupou-se da ajuda aos refugiados e aos judeus no Vaticano. Em 1954, foi nomeado Arcebispo de Milão. Criado Cardeal por São João XXIII em 1958, participou nos trabalhos preparatórios do Concílio Vaticano II. 

Em 21 de junho de 1963, foi eleito o 262º pontífice da Igreja Católica, adotando o nome de Paulo VI. Coube a ele dar continuidade aos trabalhos do Concílio, que foram concluídos em 8 de dezembro de 1965. Ele foi o primeiro pontífice a peregrinar para a Terra Santa, o primeiro a falar com as Nações Unidas e o primeiro a viajar pelos cinco continentes. 

O postulador de sua causa de canonização, Padre Antonio Marrazzo, afirmou que, desde quando era jovem sacerdote, Montini sempre se preocupou com os últimos, com uma atitude de misericórdia, e sempre falou de “civilização do amor”, baseada na compreensão e na recuperação do ser humano, porque “em cada homem permanece o traço de Deus, que devemos tentar fazer sair fora, desabrochar.”

 

DEFENSOR DA VIDA E DA FAMÍLIA

Paulo VI se destacou como um ardoroso defensor da vida e da família ao publicar, em 1968, a Encíclica Huma nae Vitae , na qual reflete sobre a doutrina da Igreja em relação ao Matrimônio, a abertura à vida, a contracepção e a paternidade e maternidade responsáveis. Como o próprio Pontífice afirmou ao tratar da encíclica em uma audiência geral após sua publicação, esse documento pontifício “não é a declaração de uma lei moral negativa, isto é, a exclusão de qualquer ação que se proponha tornar impossível a procriação, mas é, sobretudo, a apresentação positiva da moralidade conjugal para a sua missão de amor e de fecundidade”. 

Para o Padre Marrazzo, Paulo VI deveria ser proposto como o santo “defensor da vida nascente”, uma vez que tanto o milagre apresentado para sua beatificação como o para sua canonização ocorreram com fetos: a cura de um bebê no ventre materno nos Estados Unidos, em 2001, e a semelhante cura de uma menina no 5º mês de gestação, na Itália, em 2014. 

Além da Humanae Vitae, Paulo VI escreveu outros documentos de destaque, como as encíclicas Populorum Progressio (1967), Sacerdotalis Caelibatus (1967) e a Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, sobre evangelização no mundo contemporâneo. 

 

‘TUDO ERA DOM’

“Certamente, eu gostaria, quando tudo acabar, de me encontrar na luz… Quanto a mim, quereria ter finalmente uma noção resumida e sábia do mundo e da vida: penso que esta noção deveria expressar-se em reconhecimento: tudo era dom, tudo era graça”, escreveu o Pontífice antes de sua morte, após um retiro espiritual, em um ensaio intitulado “Meditação diante da morte”. Parecia prever a sua partida, que aconteceu em 6 de agosto de 1978, na festa litúrgica da Transfiguração do Senhor, aos 80 anos. Acamado havia dias devido a uma crise de artrite, ele morreu em decorrência de um ataque cardíaco enquanto participava de uma missa celebrada ao lado do seu leito por seu secretário pessoal, Dom Pascual Macchi. 

Para o Postulador de sua canonização, Paulo VI deixou como legado a centralidade de Cristo e a atenção a Ele. “Ao ler Cristo homem universal, nós encontramos nele também essa pessoa que não somente, como diz o próprio Montini, permite nos conectarmos diretamente ao Deus Uno e Trino, mas também de considerar-nos todos como gênero humano, sem exceção, abolindo qualquer discriminação. Um sentido profundo de Igreja, a Igreja comunidade, a Igreja corpo místico”, enfatizou.

 

O MÁRTIR

Oscar Arnulfo Romero Y Gadamez nasceu em 15 de agosto de 1917, em Ciudad Barrios, em El Salvador. Foi ordenado sacerdote em 1943. Dedicou boa parte de sua vida como pároco. Visitava os doentes, lecionava religião nas escolas, foi capelão de um presídio. Conta-se que os pobres carentes faziam fila na porta de sua casa paroquial, pedindo e recebendo ajuda.

Foi o Papa Paulo VI que, em 1970, o nomeou Bispo Auxiliar de San Salvador, tornando-se Arcebispo em 1977. Dois anos depois da posse de Romero, instaurou-se uma ditadura militar no País, o que provocou diversos conflitos e mortes, inclusive de sacerdotes. Dom Romero se posicionou duramente contra os atos violentos e se esforçava para que a paz fosse restabelecida. 

Ele chegou a expressar sua preocupação com o próprio Paulo VI, em um encontro no Vaticano, em 1978. Ele relatou ao Pontífice que, em suas denúncias, mostrava-se compassivo com as pessoas que sofrem, com as famílias das vítimas e, ao mesmo tempo, “denunciava o pecado e chamava os pecadores à conversão”.  Em resposta, o Santo Padre prometeu suas orações por Dom Romero e pelo povo salvadorenho, convidando-o a fazer todo esforço possível pela unidade.

No dia 24 de março de 1980, Dom Romero foi assassinado por um atirador de elite do Exército salvadorenho, enquanto celebrava uma missa na capela do Hospital da Divina Providência, em San Salvador, capital do País. 

Em 2015, o Papa Francisco reconheceu o martírio de Oscar Romero, abrindo caminho para sua beatificação, ocorrida em 23 de maio do mesmo ano. O Pontífice reconheceu que o então Arcebispo de São Salvador foi assassinado por ódio à fé. “No momento da sua morte, enquanto celebrava o santo sacrifício do amor e da reconciliação, recebeu a graça de se identificar plenamente com Aquele que entregou a vida pelas suas ovelhas”, afirmou Francisco na ocasião. 

 

HOMEM DE DEUS

Dom Vincenzo Paglia, Postulador da causa de canonização de Dom Oscar Romero, definiu-o como um homem de Deus, de oração, de obediência e de amor ao povo. Sobre sua espiritualidade, destaca-se sua vida de penitência e sacrifícios. Como Dom Paglia relata, “ele era muito rígido consigo mesmo” e encontrava repouso, paz e força na oração. “Quando devia tomar decisões complicadas, difíceis, ele se retirava em oração.” 

O Postulador também salientou sua fidelidade à Igreja. Em uma homilia feita 20 dias antes de sua morte, Romero afirmou: “Irmãos, a maior glória de um pastor é viver em comunhão com o Papa. Para mim, o segredo da verdade e da eficácia da minha pregação é estar em comunhão com o Papa”.

Durante uma visita a El Salvador, em 1983, São João Paulo II destacou o testemunho do “pastor zeloso e venerável” que lutou pelo fim da violência e por estabelecer a paz. “Ao recordá-lo, peço que sua memória seja sempre respeitada e que nenhum interesse ideológico pretenda instrumentalizar seu sacrifício de pastor entregue ao seu rebanho”.