Testemunho que agrada a Deus e converte o coração

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O ato de “abrir as mãos” ao dar esmolas é considerado um remédio eficaz contra o vício da avareza
Publicado em: 02/04/2019 - 16:45
Créditos: Redação

Unida à prática do jejum e da oração, a esmola sempre foi um meio de santificação dos fiéis aconselhado pela Igreja. O Catecismo da Igreja Católica ressalta que “a esmola dada aos pobres é um testemunho de caridade fraterna; é também uma prática de justiça que agrada a Deus” (nº 2462).

No entanto, esse termo muitas vezes é compreendido como o simples fato de ofertar dinheiro às pessoas necessitadas, sem valorizar as virtudes necessárias para que este seja um ato genuinamente cristão.

 

NA BÍBLIA

São muitas as passagens das Sagradas Escrituras que ressaltam o valor da esmola: “Quem se apieda do pobre empresta ao Senhor, que lhe restituirá o benefício” (Pr 19,17); “Dá esmola de teus bens, e não te desvies de nenhum pobre, pois, assim fazendo, Deus tampouco se desviará de ti” (Tb 4,7); “A esmola será para todos os que a praticam um motivo de grande confiança diante do Deus Altíssimo” (Tb 4,12); “Encerra a esmola no coração do pobre, e ela rogará por ti a fim de te preservar de todo o mal. Para combater o teu inimigo, ela será uma arma mais poderosa do que o escudo e a lança de um homem valente” (Eclo 29,15-16).

No Novo Testamento, também se encontram citações dessa prática: “Quem tiver duas túnicas, reparta-as com aquele que não tem, quem tiver o que comer, faça o mesmo” (Lc 3,11); “Dai o que tendes em esmola, e tudo ficará puro para vós” (Lc 11,41); “Se um irmão ou uma irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o necessário para a subsistência de cada dia, e alguém dentre vós lhes disser: ‘Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos’, e não lhes der o necessário para manutenção, que proveito haverá nisso?” (Tg 2,15-16).

 

OBRAS DE MISERICÓRDIA

As chamadas obras de misericórdia são as ações caritativas pelas quais o cristão socorre o próximo em suas necessidades corporais e espirituais.

Em sua mensagem para a Quaresma de 2016, no contexto do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco ressaltou que as obras corporais e as espirituais nunca devem ser separadas. O Pontífice acrescentou que “é precisamente tocando, no miserável, a carne de Jesus crucificado, que o pecador pode receber, em dom, a consciência de ser ele próprio um pobre mendigo”, isto é, necessitado da misericórdia de Deus.

 

CONTRA A AVAREZA

O ato de “abrir as mãos” ao dar esmolas é considerado um remédio eficaz contra o vício da avareza. Quanto mais apegado alguém for ao dinheiro, tanto mais deve fazer o exercício de “dar” boas e generosas esmolas.

Segundo São João Crisóstomo, quem dá esmola, como convém, aprende a desprezar as riquezas. “Quem aprende a desprezar as riquezas arranca a raiz de todos os males. Desse modo, não tanto faz o bem quanto recebe, não somente em consideração do proveito e recompensa da esmola, mas, também, porque sua alma se torna sábia, elevada e rica”, continuou.

 

DOM DE SI

A prática da caridade cristã também implica renúncia e abnegação, isto é, dar a vida, dar-se aos outros. “A abnegação cristã não se limita em fazer sacrifícios [...]. São abnegados os que se entregam ao próximo com alegria, sem dar importância à sua dedicação. Este é o espírito de Cristo”, explica o Padre Francisco Faus, em seu livro “A sabedoria da Cruz”.

São João Paulo II, na Carta Apostólica Salvifici Doloris, de 1984, apresentou a parábola do bom samaritano como um paradigma da caridade cristã, quando ele põe todo o seu coração, sem poupar nada, para socorrer o homem ferido à beira da estrada. Em outras palavras, dá a si próprio ao outro. “O homem não pode encontrar a sua própria plenitude a não ser no dom sincero de si mesmo”, disse o Santo.

Pode-se também dar esmolas, ou oferecer qualquer sacrifício, pelas almas do purgatório, por exemplo.

 

AMOR AO PRÓXIMO

Nesse aspecto, a prática quaresmal da esmola vai além da oferta material. “Se realmente nada podemos dar, mostremo-nos, pelo menos, afáveis para com os pobres. Deus premia o coração quando não há algo para dar. Ninguém diga: ‘Não tenho nada; a caridade não é só pão’”, afirmou Santo Agostinho.

Já São João Maria Vianney ressaltou que “a esmola não consiste somente em dar de comer a quem tem fome e em vestir o que está nu; mas são todos os favores que se prestam ao próximo, seja para o corpo, seja para a alma”, quando feitos “com espírito de caridade”.

O cristão não pode perder de vista que o critério da caridade deve ser sem pre o bem absoluto, a salvação eterna do necessitado. Nesse sentido, a caridade nunca deve ser feita para agradar o outro custe o que custar, mas para fazer o bem ao outro.

Por essa razão, muitos optam por, em vez de dar esmola diretamente às pessoas que pedem nas ruas, ajudar instituições e obras que promovem a caridade de maneira organizada na sociedade.

 

OLHAR E TOCAR

Em uma mensagem em vídeo enviada em 2013 para os argentinos, por ocasião da Festa de São Caetano, o Papa Francisco chamou a atenção para a maneira como as pessoas dão esmolas.

O Pontífice indagou os fiéis se, quando dão esmola, olham nos olhos da pessoa ou simplesmente jogam a oferta e vão embora. Para ele, é importante olhar, tocar e encontrar a pessoa.

“Isto é aquilo que Jesus ensina: ir ao encontro dos mais necessitados, como Jesus que ia sempre ao encontro do povo. Ele ia para encontrá-lo; ir ao encontro dos mais necessitados”, afirmou o Papa.

 

FRUTOS

A esmola atrai a bênção de Deus e produz frutos abundantes: cura as feridas da alma, que são os pecados; é “escudo da esperança, suporte da fé, remédio do pecado; está ao alcance de quem quiser praticá-la, e é tão grande como fácil; constitui a coroa da paz sem risco algum de perseguição; é o verdadeiro e o maior dom de Deus; é necessária aos fracos e cumula de glória os fortes. Por meio dela, o cristão recebe a graça espiritual, ganha méritos diante de Cristo juiz, e passa a ter a Deus como seu devedor”, destaca São Cipriano.

AS OBRAS DE MISERICÓRDIA

OBRAS CORPORAIS

1ª Dar de comer a quem tem fome;

2ª Dar de beber a quem tem sede;

3ª Vestir os nus;

4ª Dar pousada aos peregrinos;

5ª Assistir os enfermos;

6ª Visitar os presos;

7ª Enterrar os mortos.

 

OBRAS ESPIRITUAIS

1ª Dar bons conselhos;

2ª Ensinar os ignorantes;

3ª Corrigir os que erram;

4ª Consolar os tristes;

5ª Perdoar as injúrias;

6ª Sofrer com paciência as fraquezas do próximo;

7ª Rogar a Deus por vivos e defuntos.