O banquete da vida

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O Sacramento da Eucaristia como banquete da vida. Dom Cláudio Hummes almoça com pessoas em situação de rua, durante o Congresso Eucarístico Nacional.
Publicado em: 26/08/2016 - 16:45
Créditos: Jucelene Rocha e Renata Moraes/ Fotos Luiz Estumano- Jonal Voz de Nazaré

 

Por Jucelene Rocha e Renata Moraes/Especial em Belém (PA)

Uma das motivações para a realização de um Congresso Eucarístico Nacional é a possibilidade de aprofundar teologicamente o sacramento da Eucaristia, neste sentido, o 17º CEN promoveu diversas reflexões a partir do Simpósio Teológico que entre as discussões refletiu sobre a dimensão da Eucaristia como banquete ou sacrifício. O tema geral do Congresso, “Eucaristia e partilha na Amazônia missionária” foi materializado em muitos momentos, um deles, porém marcou mais profundamente os participantes: a missa e o almoço comunitário com os moradores de rua. 

A celebração aconteceu na Catedral Metropolitana de Belém, um dos patrimônios do Pará também do ponto de vista histórico, cultural e arquitetônico, já que a construção data de 1748. A missa foi presidida pelo arcebispo emérito de São Paulo, presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, cardeal Cláudio Hummes, que neste Congresso foi o legado pontifício do Papa Francisco e em todos os momentos em que participou dos eventos compartilhou com os fiéis a mensagem do Santo Padre em defesa da Casa Comum, assim como apresenta na sua encíclica Laudato si’. Na homilia, uma pergunta de Dom Cláudio ressoou profundamente na Catedral: “O que é mais importante para a Igreja que os pobres?”


Após a celebração da missa os moradores de rua foram convidados para um almoço comunitário na praça da Igreja do Carmo que fica a aproximadamente 800m da Catedral de Belém. O espaço foi preparado com mesas, palco com música ao vivo e uma marmita servida pelos missionários de diversas instituições que atuam junto à população em situação de rua em Belém. 

Entre os bispos, padres e religiosos que participaram do almoço estava dom Cláudio Hummes, que ressaltou o momento e manifestou sua alegria pela iniciativa. “Tudo que o Papa Francisco tem falado a respeito da Amazônia, e que a Igreja precisa se envolver com a evangelização e também com os grandes problemas da região. Estamos refletindo, rezando e assumindo compromissos nesses dias. A missa e o almoço foram momentos especiais porque vão ao encontro com o tema, de fato. A Eucaristia deve nos levar à partilha, a capacidade de partilhar é um grande fruto da nossa identidade eucarística” afirmou o Cardeal.


Entre os desafios pastorais da Arquidiocese de Belém está a situação da população de rua. Dados de uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Pará (UFPA) em 2015 apontam que existem mais de 600 moradores de rua na região metropolitana de Belém, o número pode parecer pequeno diante das somas gigantescas encontradas em São Paulo, que no mesmo ano, segundo dados da Prefeitura Municipal, ultrapassaram 15 mil, mas percebe-se a gravidade do problema em Belém diante do número de pessoas vivendo em situação de pobreza ou extrema pobreza em toda região metropolitana. De acordo com o censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), esta é a situação de metade da população que vive em bairros da periferia da capital paraense. 


A maior parte da população de rua que vive em Belém tem entre 18 e 29 anos e mais de 80% das pessoas pesquisadas, segundo o IBGE, queriam deixar as ruas. É o caso do jovem, Fabrício Reis, que vive em situação de rua há seis anos e participou da missa e do almoço. “Eu não pretendo viver o resto da minha vida nas ruas, quero procurar alguma coisa melhor pra mim. É muito difícil conviver com a discriminação e a exclusão que a rua traz para nós. As drogas me trouxeram para as ruas, mas creio que Deus vai abençoar e vou conseguir sair dessa situação”, afirma.