Pelas ruas da cidade, crianças e adolescentes dão testemunho público da fé

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Na sexta-feira, 7, a Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo realizou a Via Sacra da Criança e do Adolescente
Publicado em: 11/04/2017 - 15:45
Créditos: Redação

Por Renata Moraes/ Portal ArquiSP

A Praça da Sé, marco zero da cidade de São Paulo, foi o cenário escolhido para reunir centenas de crianças e adolescentes vindos de diversas creches, abrigos, centros educacionais comunitários e profissionalizantes, para participarem na sexta-feira, 7, da Via Sacra da Criança e do Adolescente promovida pela Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo. Neste ano refletindo sobre o tema da Campanha da Fraternidade 2017: “Fraternidade e Biomas Brasileiros”.

A iniciativa que começou na década de 80 por Dom Luciano Mendes de Almeida, na época bispo auxiliar da Região Belém, com a proposta de motivar as crianças e adolescentes para a vivência da Semana Santa, e também de refletir sobre as realidades sociais que atingem a vida deles. “Foi o método que nós tínhamos de educar, formar, orientar as crianças, utilizando a proposta da Campanha da Fraternidade revivendo a paixão, morte e ressureição de Jesus. A via sacra passou a ser um marco histórico, onde temos a oportunidade de viver o anúncio e a denúncia”, afirmou Sueli Camargo, coordenadora da Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo, em entrevista ao Portal ArquiSP.

Em memória de João Victor

Atuando na defesa dos direitos humanos das crianças e adolescentes há mais de 40 anos, a Pastoral do Menor, já no início da Via Sacra, manifestou por meio da leitura de uma carta, sua indignação e repúdio pela morte do adolescente João Victor Souza de Carvalho, de 13 anos, no último dia 26 de fevereiro, em frente a uma lanchonete da rede Habibs, na Vila Cachoeirinha, zona norte de São Paulo.

“Na verdade João Victor, como tantos outros jovens, vivia uma morte anunciada de total ausência do Estado, pela redução, inexistência e fragilidade de políticas públicas de atendimento a criança e ao adolescente”, dizia um dos trechos da carta.

A carta também era um alerta para a realidade de morte e violência de crianças e adolescentes, sobretudo nas periferias. “A Pastoral do Menor se solidariza com a dor família e pede a Deus o consolo desta perda irreparável, e ao mesmo tempo clama que se faça justiça, que o ocorrido não caia no esquecimento e que os verdadeiros culpados sejam responsabilizados”.

Leia aqui a Carta Manifesto

O nome de João Victor e de outras crianças e adolescentes que morreram vítimas da violência foram trazidos em quatro cruzes, carregadas pelas crianças. “Lembramos João Wilson, Ezra Liam Joshua Finck, Douglas Rodrigues, Vinicius Ribeiro, Maria Eduarda Mota, morta recentemente no Rio de Janeiro, vítima de bala perdida, William e Cleiton e tantos outros que não caberiam nessas cruzes que vão caminhar conosco durante mais uma via sacra”, expressou Sueli.

Lucas Augusto Martins Júnior, 15, indígena da tribo Guarani Mbya, com uma coroa de espinhos na cabeça e um manto vermelho nas costas, carregava a cruz, ajudado por um irmão indígena, Nilson e por uma garota negra Ana Luiza da Silva Bento Vieira,14, representando as minorias, que muitas vezes sofrem preconceitos, em procissão eles iniciaram a Via Sacra pelas ruas da centro da cidade.

Assim como na paixão, morte e ressurreição de Cristo, caminhando nesta Via Sacra, estava a Mãe de Jesus, sob o título de Nossa Senhora Aparecida, em várias imagens dispostas em estandartes, que eram carregadas pelas crianças.  No ano Mariano Nacional, recordando o tricentenário das aparições da Virgem Negra de Aparecida.

Biomas brasileiros e defesa da vida

Refletindo sobre o tema da CF 2017 “ Fraternidade: Biomas brasileiros e defesa da vida”, como de costume, a Via Sacra contou com três paradas (Praça da Sé, Igreja Santo Antônio, na praça do Patriarca e Largo São Francisco). A cada estação, por meio de encenações foram apresentadas as situações dos biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Pampas, Mata Atlântica. Em cada um dos biomas, os adolescentes chamavam a atenção sobre como a exploração indevida destes ambientes atinge a vida da população que ali habitam.

Toda a caminhada foi animada pelo Padre Luiz Cláudio Braga, assistente eclesiástico da Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de São Paulo, junto com músicos e amigos da Pastoral do Menor.

Dom Luiz Carlos Dias, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo na Região Belém, esteve presente durante toda a Via Sacra. O bispo comentou que ficou admirado e contente com tudo que vivenciou na caminhada, afirmando que a Via Sacra era um momento de chamar a atenção das pessoas que passavam pelo centro da cidade sobre o início da Semana Santa e levando a todos um sinal de esperança.

Ao citar o tema da CF 2017, o bispo também alertou os adolescentes sobre o cuidado com a natureza. “ Refletindo sobre algo que nos preocupa tanto que é a destruição da natureza, representando nossos biomas do Brasil, nós podemos ter esperança. Esperança que passa também por atitudes novas nossas e atitudes, atitudes de cuidado com a nossa natureza”, comentou.

Ao final da Via Sacra, Dom Luiz concluiu sua mensagem encorajando a todos de que há possibilidade de reconstrução do que foi destruído, que há possibilidade de um mundo novo. “ Jesus Cristo morre e ressuscita, com sua força e inspiração, todos nós sejamos cuidadores da vida, das nossas relações, da família, da comunidade, dos amigos, do mundo e da natureza, para que cada vez mais tenhamos vida”.

A Ressurreição

A Via Sacra se encerra nas escadarias da Catedral da Sé, eis que surge Ana Luiza, agora vestida de Nossa Senhora Aparecida, recordando a presença silenciosa e amorosa de Maria, que rezou e caminhou com seu povo.  Com tendas, palhas e tecidos sob o chão, relembrando o seu habitat natural, o garoto Lucas  retorna  já com suas vestes próprias indígenas, simbolizando por meio da ressurreição de Cristo, todos também ressuscitam para uma vida nova.

Revivendo os passos de Jesus, em sua paixão, morte e ressurreição, as crianças e adolescentes deram testemunho público da fé. “Anunciamos Cristo ressuscitado, que é capaz de formar tudo isso e também anunciamos que no nosso dia a dia temos muitos meninos e meninas que são vítimas como Cristo, vivem essa paixão e essa vida de morte”, encerrou Sueli.