Ano da Miserícordia: Da publicidade à recepção

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09/11/2016 - 00:15

Cartazes, faixas e banners sobre o Ano da Misericórdia multiplicaram-se em muitas comunidades. Cartilhas populares, artigos científicos ou obras de referências foram publicados. O hino do Ano Jubilar ou outras canções que evocam a misericórdia foram amplamente entoadas de forma ordinária em Igrejas e assembleias. Em síntese, divulgou-se, ensinou-se e  celebrou-se  a misericórdia em profusão ao longo do ano que a ela foi dedicada.

Como programado,  já contemplamos  no horizonte o encerramento do ano Jubilar. Nos dias 13 de novembro  nas dioceses particulares e  20 do mesmo mês em Roma celebra-se a clausura desse ano. O  Jubileu   da Misericórdia da gestação à sua abertura, realização e encerramento cumpriu um longo processo.  Atos simbólicos, como jubileus específicos com sacerdotes, acólitos, crianças  religiosas, canonizações, a  Jornada mundial da  Juventude  e a inédita abertura do jubileu na Catedral de Bangui,  delimitaram a tônica  que se  acredita que  esse  ano quis imprimir à igreja: A misericórdia   ao alcance de  todos,  particularmente os sofredores e excluídos.

 Doravante tem-se a   missão   de fazer com  que aquilo que o Papa Francisco, citando São João XXIII, propôs com   esse tempo,  “uma Igreja dada mais ao remédio da Misericórdia que da severidade”(MV, 4), se perpetue nas ações concretas dos agentes de pastoral, das autoridades eclesiásticas e de  todos os homens e mulheres de boa vontade.  Estima-se que os atos e ações que revelem a misericórdia  do senhor sejam  a ordem do dia, atividade ordinária entre  crentes e que isso convença os não crentes. Urge, portanto,  a necessidade de  migrar de uma  mentalidade propagandista à uma ideia de recepção, apropriação continua  e  ordinária  da ação misericordiosa.

Nesse sentido, é oportuno refletir os desdobramentos necessários para que se consume um ideário de efetiva recepção dos postulados da misericórdia na prática ordinária da pastoral da Igreja.  Deve-se acentuar  que a passagem pela porta santa, as orações  a ela associadas e a caridade  implicada nessa ação para lucrar  indulgências, deve transformar-se num compromisso de rezar pelos que sofrem e  agir em favor  dos  indefesos(inclusive politicamente); Que iniciativas como  as vinte quatro horas para o Senhor, torne-se, no  ordinário da vida dos  fieis a  capacidade  de perdoar, superar rivalidades, preconceitos ou bairrismos( tão aflorados nestes tempos); Que  os jubileus  específicos que puseram em foco inúmeras categorias de seres humanos, ajude a reconhecer que  todos, homens e mulheres, por mais forte que sejam,  necessitam da misericórdia de Deus para serem melhores, mais humanos, mais solidários e mais compassivos uns para com outros. Enfim, que o sentimento  ou a ideia de misericórdia torne-se palpável e comum na vida das pessoas.

Roga-se, por fim,  que a  opção pela misericórdia quer  entre  os fieis, quer entre  as autoridades eclesiásticas, seja cada vez mais  amplamente  acolhida. Que ele, corporifique, um testemunho  eficaz da missão da Igreja em nossa sociedade  contemporânea. Que a  misericórdia seja o critério de autenticidade  da vida cristã no mundo de hoje.