Cartazes, faixas e banners sobre o Ano da Misericórdia multiplicaram-se em muitas comunidades. Cartilhas populares, artigos científicos ou obras de referências foram publicados. O hino do Ano Jubilar ou outras canções que evocam a misericórdia foram amplamente entoadas de forma ordinária em Igrejas e assembleias. Em síntese, divulgou-se, ensinou-se e celebrou-se a misericórdia em profusão ao longo do ano que a ela foi dedicada.
Como programado, já contemplamos no horizonte o encerramento do ano Jubilar. Nos dias 13 de novembro nas dioceses particulares e 20 do mesmo mês em Roma celebra-se a clausura desse ano. O Jubileu da Misericórdia da gestação à sua abertura, realização e encerramento cumpriu um longo processo. Atos simbólicos, como jubileus específicos com sacerdotes, acólitos, crianças religiosas, canonizações, a Jornada mundial da Juventude e a inédita abertura do jubileu na Catedral de Bangui, delimitaram a tônica que se acredita que esse ano quis imprimir à igreja: A misericórdia ao alcance de todos, particularmente os sofredores e excluídos.
Doravante tem-se a missão de fazer com que aquilo que o Papa Francisco, citando São João XXIII, propôs com esse tempo, “uma Igreja dada mais ao remédio da Misericórdia que da severidade”(MV, 4), se perpetue nas ações concretas dos agentes de pastoral, das autoridades eclesiásticas e de todos os homens e mulheres de boa vontade. Estima-se que os atos e ações que revelem a misericórdia do senhor sejam a ordem do dia, atividade ordinária entre crentes e que isso convença os não crentes. Urge, portanto, a necessidade de migrar de uma mentalidade propagandista à uma ideia de recepção, apropriação continua e ordinária da ação misericordiosa.
Nesse sentido, é oportuno refletir os desdobramentos necessários para que se consume um ideário de efetiva recepção dos postulados da misericórdia na prática ordinária da pastoral da Igreja. Deve-se acentuar que a passagem pela porta santa, as orações a ela associadas e a caridade implicada nessa ação para lucrar indulgências, deve transformar-se num compromisso de rezar pelos que sofrem e agir em favor dos indefesos(inclusive politicamente); Que iniciativas como as vinte quatro horas para o Senhor, torne-se, no ordinário da vida dos fieis a capacidade de perdoar, superar rivalidades, preconceitos ou bairrismos( tão aflorados nestes tempos); Que os jubileus específicos que puseram em foco inúmeras categorias de seres humanos, ajude a reconhecer que todos, homens e mulheres, por mais forte que sejam, necessitam da misericórdia de Deus para serem melhores, mais humanos, mais solidários e mais compassivos uns para com outros. Enfim, que o sentimento ou a ideia de misericórdia torne-se palpável e comum na vida das pessoas.
Roga-se, por fim, que a opção pela misericórdia quer entre os fieis, quer entre as autoridades eclesiásticas, seja cada vez mais amplamente acolhida. Que ele, corporifique, um testemunho eficaz da missão da Igreja em nossa sociedade contemporânea. Que a misericórdia seja o critério de autenticidade da vida cristã no mundo de hoje.
Pe. Reuberson Rodrigues Ferreira, mSC - Mestrando em Teologia pela PUC /SP. Vigário na Paróquia São Miguel Arcanjo