O Advento e a evangelização

A A
30/11/2016 - 14:15

A liturgia da Igreja Católica conclama os discípulos (as) missionários (as) a se voltarem para a festa da encarnação de Deus entre nós, significado profundo do Natal. Esse fato traz uma alegria que ultrapassa aquela da festa de consumo, pois Deus estende sua tenda em meio à humanidade e lhe oferece a possibilidade de transformação de situações que obstaculizam a vida. Isso anunciam os textos bíblicos proclamados na liturgia do período.

O profeta Isaías, a partir de sua experiência de fé veterotestamentária, anunciou a superação de diferenças inimagináveis pela razão humana: “O lobo e o cordeiro viverão juntos... o bezerro e o leão comerão juntos” (11, 6-7). Por isso, pode também aludir para a “transformação de espadas em arados e lanças em foices” (Is 2,4) ou para um processo de concórdia e paz.

Certamente, essas palavras do profeta fizeram seus conterrâneos erguerem os olhos e vislumbrarem um horizonte do qual não mais se recordavam ou no qual não mais acreditavam, em virtude dos percalços da história e aridez dos corações. Esse perigo ronda as pessoas em nossa sociedade e pode induzi-las a um processo de fechamento nos próprios objetivos e desafios enfrentados, como, também, à estreita busca de realização pela via do bemestar e consumo.

João Batista também reavivou a esperança de seu povo ao anunciar: “O Reino dos Céus está próximo”; “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas” (Mt 3,2-3); “Produzi frutos que provem a vossa conversão” (Mt 3,8). Esse anúncio sensibilizou seus conterrâneos, que, de todos os lugares da Judeia, acorreriam ao profeta do deserto, confessavam seus pecados (Mt 3, 5-6) e assumiam compromissos edificantes.

Esses profetas cumpriram a missão de anunciar Deus na história da humanidade como Aquele que está presente, Aquele que é próximo, providente, santo e misericordioso (MV 6), e conduziram seu povo a aderir livremente ao Reino de Deus. Eis a missão da Igreja e de seus discípulos(as) missionários(as) no Advento: testemunhar uma presença misericordiosa capaz de transformar as pessoas e a realidade, mesmo em um contexto que dificulta a acolhida dessa mensagem. A Igreja no Brasil aproveita a ocasião para a realização da Campanha para a Evangelização, entre a Solenidade de Cristo Rei e o 3º Domingo do Advento. Essa iniciativa “deseja suscitar um renovado amor missionário nos fiéis. Assim, seguindo o exemplo do Pai das Misericórdias, que saiu ao encontro dos dois filhos que necessitavam de acolhimento e compreensão, todos anunciarão ao mundo que, não obstante nossas faltas e desmerecimentos, somos profundamente amados pelo Pai e podemos fazer a experiência da presença do Senhor no meio de nós” (CE 2016, 16).

A evangelização requer “uma verdadeira disponibilidade e entrega generosa, de forma pessoal e comunitária”. O processo evangelizador não tem outra via que não aquela da entrega da própria vida aos outros (Jo 12,24). “Quando a Igreja faz apelo ao compromisso evangelizador, não faz mais do que indicar aos cristãos o verdadeiro dinamismo da realização pessoal” (EG 10). Que os discípulos(as) missionários (as) vivam na alegria este tempo de doação para a evangelização.


Dom Luiz Carlos Dias

Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Belém

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - Ed. 3130/ 30 de novembro a 7 de dezembro de 2016