A Figueira e o Templo - Raul de Amorim

A A
27/05/2016 - 00:15

Mc. 11,11-26 

No evangelho é normal encontrarmos Jesus ensinando, curando perdoando. Mas quando nos deparamos com Jesus amaldiçoando e como que tendo um surto de raiva, soa estranho aos ouvidos e fica difícil de entender. Essa atitude sempre chamou atenção das pessoas que estudam a Bíblia, que se perguntam como é possível que Jesus, um mestre cheio de bondade e misericórdia pudesse tomar uma atitude violenta. Vamos meditar...

Mc. 11,11-14: Um primeiro gesto simbólico: a figueira seca - Jesus está em Jerusalém. Entra no Templo observa tudo ao redor e sai com os doze discípulos para Betânia, porque já era tarde. No dia seguinte, quando saíam de Betânia, Jesus teve fome.  Avistando a distância uma figueira coberta de folhas, foi ver se encontrava algum fruto. Mas não encontrou nada além das folhas, pois não era época de figos. Dirigindo-se a árvore, disse: “Nunca mais alguém coma do seu fruto”.

Como entender este gesto tão violento e tão estranho?  A figueira não tinha culpa e, além disso, não era tempo de fruto! Enquanto ficamos pensando aqui vai uma sugestão: O profeta Miquéias pode nos ajudar: Pobre de mim! Estou na situação de alguém de alguém que recolhe no verão, que colhe depois de acabada a colheita. Não há nenhum cacho de uvas para eu chupar, nem mesmo um figo temporão para me matar a vontade. Não há um só fiel nesta terra. Não sobrou um único homem justo... (Mq. 7,1-2) Parece que a coisa é mais profunda!

Será que a figueira coberta de folhas, mas sem fruto poderia ser as comunidades que se preocupam muito com a aparência, mas não dão frutos, ou seja, não pratica? Temos todo o jeitão, mas não damos frutos? Com esses pensamentos na cabeça vamos pensar no episódio seguinte que fala da expulsão dos vendedores do Templo. Será que tem ligação uma coisa com a outra?

Mc. 11,15-17: Um segundo gesto simbólico: a expulsão do templo: O Templo de Jerusalém, do jeito que estava funcionando, não passava de uma árvore frondosa, bonita, cheia de folhas, mas sem oferecer fruto para o povo faminto que buscava o Deus da vida. Por isso, num gesto violento de autoridade, Jesus declara encerrado o expediente do Templo e põe fim ao culto da maneira como estava sendo realizado. Já não tinha mais sentido. “Nunca mais alguém coma do seu fruto!” O que estava errado no Templo?

A religião era usada para explorar o povo e enriquecer uma elite. Citando o profeta Jeremias, Jesus diz que o Templo virou covil de ladrões (Jr.7,11). E citando outra profecia de Isaias diz: O Templo deve ser casa de oração para todos os povos (Is. 56,7) A realidade, porém,  era outra. Estrangeiros, mulheres e pessoas consideradas impuras não podiam entrar. Eram excluídas. Por meio deste texto de Isaias, Jesus ensina que o Templo não pode ser lugar de exclusão, mas deve estar aberto para todos.

Mc. 11,18-26: Autoridades querem matar Jesus... O novo culto que Jesus deseja e propõe... Os chefes dos sacerdotes, os doutores da Lei e os anciãos, incomodados pelo gesto de Jesus, decidem mata-lo. Mas eles têm medo do povo que estava maravilhado com o ensinamento do Mestre. Diante das ameaças, Jesus sai de novo da cidade e volta para Betânia.

Na manhã seguinte, quando passavam perto da figueira ,viram que ela estava seca até a raiz! Pedro se lembrou e disse a Jesus: “Mestre, olha a figueira que amaldiçoaste. Ela secou”.

A figueira secou, expressando o alcance da ação de Jesus no Templo. Jesus coloca um ponto final no culto antigo e indica três pontos que devem caracterizar o novo Templo, a nova comunidade: 1- A fé sincera, capaz de remover montanhas (Mc. 11,23) 2- A oração confiante. (Mc. 11,24) 3- A misericórdia que perdoa e acolhe todas as pessoas e assim, acaba com a exclusão. (Mc. 11,25)

A Carta de Pedro vai dizer que, agora, a própria comunidade é o Templo de Deus: “Do mesmo modo, vocês também entram como pedras vivas na construção de uma casa espiritual e formam um sacerdócio santo, que oferece sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por meio de Jesus Cristo (1Pd.2,5).