AGRICULTORES GANANCIOSOS E ASSASSINOS - Raul Amorim

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02/03/2018 - 08:00

Os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo questionam Jesus. Querem saber quem lhe deu autoridade para falar e realizar as coisas que Ele estava fazendo. Eles se consideravam donos de tudo inclusive da religião e achavam que ninguém podia fazer nada sem a licença deles. 
Mt.21,33-34: “ Escutem outra parábola. Um proprietário plantou uma vinha. Cercou-a com um muro, construiu nela um tanque para pisar a uva e ergueu uma torre de vigia. Arrendou a vinha a uns agricultores e viajou. Quando chegou o tempo da colheita, enviou seus servos aos agricultores, para receber sua parte dos frutos”.
É bom lembrar que o texto faz parte da resposta de Jesus ao questionamento dos chefes dos sacerdotes e anciãos do povo: “Com que autoridade fazes essas coisas”?  Para responder à questão Jesus conta duas parábolas: Parábola dos dois filhos (Mt.21,28-32) e a parábola do proprietário da vinha que é o texto de hoje.
O começo da leitura faz memória do livro do profeta Isaias: “Meu amigo tinha uma vinha em fértil colina. Capinou a terra, tirou as pedras e plantou nela videiras de uvas vermelhas. No meio, construiu uma guarita e fez um tanque de pisar uvas... A imagem da vinha era aplicada ao povo eleito. Os sacerdotes e anciãos do povo conheciam bem a Sagrada Escritura. O que Jesus pretendia ensinar?
Mt.21,35-36: “Mas os agricultores agarraram os servos, espancaram um, mataram outro e apedrejaram o terceiro. Enviou de novo outros servos, em número maior que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma”.
O grupo de agricultores que matam os enviados representa a infidelidade daqueles que no tempo de Jesus e no nosso tempo fecham os ouvidos aos apelos do Pai e tornam a história lugar de violência. A Campanha da Fraternidade deste ano nos convoca para superar a violência pois “somos todos irmãos”! 
Não tem como não lembrar dos nossos irmãos do campo que sofrem violência constante e muitos são assassinados.
Mt.21,37-39: “Finalmente, enviou-lhes o seu próprio filho, pensando: Ao meu filho eles respeitarão. Mas os agricultores, ao verem o filho, disseram entre si: Esse é o herdeiro. Vamos matá-lo, e a herança dele será nossa! Então o agarraram, o arrastaram para fora da vinha e o mataram”.
Jesus com essas palavras faz lembrar o profeta Jeremias: “Desde o dia em que seus pais saíram da terra do Egito até hoje, todos os dias, estou mandando para eles, sem cansar, meus servos, os profetas. Mas não obedeceram a eles, nem me deram ouvidos; ao contrário, endureceram ainda mais a nuca e tornaram-se piores que seus pais”. (Jr.7,25-26)
O herdeiro é o próprio Jesus que morreu fora da cidade. A carta aos hebreus nos diz: “Por isso, também Jesus, para santificar o povo com seu próprio sangue, padeceu fora das portas de Jerusalém” (Hb.13,12)
As autoridades de Jerusalém, em geral eram grandes proprietários de terra. Jesus os denuncia como aqueles agricultores que se mostram gananciosos e assassinos que avançam a qualquer custo sobre o que não lhes pertence. 
Também os chefes dos sacerdotes e anciãos do povo são denunciados porque além de proprietários gananciosos se apresentavam como conhecedores da Sagrada Escritura e na prática exploravam e enganavam o povo. Eram hipócritas (fingidos).
Também hoje, às vezes, os que exercem o poder, tanto na sociedade como na Igreja, querem controlar tudo como se fossem os donos de todos os aspectos da vida do povo.  
Mt.21,40-41: “Quando o dono da vinha vier, o que fará com esses agricultores? Responderam-lhe: Mandará matar de modo violento esses malvados, e arrendará a vinha a outros agricultores que lhe entregarão os frutos no tempo certo”.
Por meio desta parábola, Jesus dá uma resposta indireta ao questionamento das autoridades: Com que autoridade fazes essas coisas? 
 a) revela a origem da sua identidade: ele é o herdeiro!  b) denuncia o abuso da autoridade dos agricultores, isto é, dos sacerdotes e anciãos que não cuidavam do povo. 
c) defende os profetas enviados por Deus, mas massacrados pelos sacerdotes e anciãos.           d) desmascara as autoridades que manipulam a religião e matam o filho, porque não querem perder a fonte de renda que conseguiram acumular. 
Mt.21,42-43: Jesus lhes disse: “Vocês nunca leram isto nas Escrituras: A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra que sustenta a construção; pelo Senhor foi feito isso, e é maravilhoso aos nossos olhos? Por isso eu lhes digo: O Reino de Deus será tirado de vocês e será entregue a um povo que o fará frutificar”.
Mais uma vez Jesus cita uma passagem da Sagrada Escritura o Salmo 118, 22-23 para sustentar a sua pregação. O evangelista salienta a formação de um novo povo, formado agora não por uma nação particular, mas por todos aqueles que acreditam, comprometendo-se com Jesus.
Mt.21,45-46: Os chefes dos sacerdotes e os fariseus, ouvindo essas parábolas, compreenderam que Jesus estavam falando deles. Então procuraram prendê-lo, mas tiveram medo das multidões, porque elas o consideravam um profeta.
Caiu a ficha! Os sacerdotes e anciãos entenderam muito bem o significado da parábola, mas não se converteram. Pelo contrário! Mantiveram o seu projeto de matar de matar Jesus. Rejeitaram a pedra fundamental, mas não tiveram coragem de fazê-lo abertamente porque tinham medo do povo.


P/ CEBI (Centro Estudos Bíblicos) Raul de Amorim Pires>raul4ap@gmail.com