CIDADES INGRATAS - Raul Amorim

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06/10/2017 - 15:30

Lc. 10,13-16

A leitura dá continuidade à leitura de ontem quando Jesus envia os setenta e dois discípulos e discípulas em missão. No final deste envio orientava em sacudir a poeira das sandálias quando não fossem recebidos. O trecho de hoje acentua e amplifica...

Lc. 10,13-14: “Ai de você, Corazin! Ai de você, Betsaida! Porque, se em Tiro e Sidônia tivessem sido feitos os milagres realizados em vocês, há muito tempo teriam feito penitência com pano de saco, sentando-se sobre cinza”. Portanto, no julgamento haverá menos rigor...

Jesus lamenta que cidades de Israel que puderam contar com sua presença tenham rejeitado a mensagem da Boa Nova. Corazim, Betsaida permaneceram na rigidez das suas crenças, tradições e costumes e não aceitaram a proposta de Jesus. A expressão: “Ai de você” é mais lamento e pena do que condenação violenta, mas contém a denuncia do mal que virá como consequência da injustiça, do pecado.

 É bom lembrar que foi em Betsaida que Jesus realizou a multiplicação de pães e peixes e alimentou cinco mil pessoas. (Lc. 9,10-17) Mais adiante o evangelista vai dizer: “A quem muito foi dado, muito será pedido. E a quem muito foi confiado, muito mais será exigido (Lc.12,48)

Tiro e Sidônia cidades pagãs que no passado, foram inimigas de Israel. Por isso foram amaldiçoadas pelos profetas: Isaías (Is. 23,1); Jeremias (Jr. 25,2); Ezequiel (Ez. 26,3); Amós (Am. 1,10)  Jesus diz que estas cidades, símbolos da maldade feita ao povo no passado, já teriam se convertido se nelas tivesse acontecido o que aconteceu em Corazim e Betsaida.

Lc. 10, 15: “E você, Cafarnaum, por acaso será elevada até o céu? Você há de cair no fundo do abismo”!

Mais uma advertência. Desta vez para a cidade de Cafarnaum capital do ministério de Jesus. Foi nessa cidade que Ele deu a demonstração do seu poder mais do que em outra cidade. Cafarnaum foi a cidade que Jesus habitou (Mt.4,13) Foi lá que seus adversários, escribas e fariseus de maneira mais feroz o perseguiram e rejeitaram o seu projeto. Eles ouviram a pregação do Evangelho e testemunharam os sinais que Jesus fazia. Mesmo assim, não atenderam seu chamado.

 Jesus faz memória da condenação que o profeta Isaías lançou contra a Babilônia. Orgulhosa e prepotente, Babilônia imaginava: “Vou subir até o céu. Vou colocar o meu trono acima das estrelas de Deus. Vou sentar-me na montanha da Assembleia, no cume da montanha celeste. Subirei até as alturas das nuvens e me tornarei igual ao Altíssimo” (Is.14,13-14)  Pensava! Mas enganou-se. Aconteceu o contrário.

O profeta conclui: “E agora aí está você precipitado na habitação dos mortos, nas profundezas do abismo”. (Is. 14,15) Isaías descreve a queda da Babilônia e a morte deprimente do seu rei arrogante que será rebaixado à profundeza do mundo inferior. Jesus compara Cafarnaum a esta terrível Babilônia.

Muitos de nós, que somos católicos desde criança temos tantas convicções consolidadas que ninguém é capaz de nos converter. E em muitos lugares, o cristianismo, em vez de ser fonte e mudança e de conversão, tornou-se o reduto das forças mais reacionárias da política do país.

Lc.10, 16: “Quem escuta a vocês, escuta a mim. Quem despreza vocês, despreza a mim. E quem me despreza, despreza aquele que me enviou”.

No final, Jesus se identifica com os discípulos e discípulas, que são rejeitados no seu trabalho de levar a justiça do Reino: “Quem rejeita vocês, rejeita a mim”!  

Vamos pensar: Nossa cidade, nosso país, nossa comunidade merecem a advertência de Jesus  feita contra Cafarnaum, Corazim e Betsaida?

 

P/ CEBI (Centro Estudos Bíblicos)> Raul de Amorim Pires> raul4ap@gmail.com