COMUNIDADE, LUGAR DE ACOLHIDA E ESCUTA - RAUL AMORIM

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23/06/2017 - 08:00

Mt.11,25-30

Com exceção da oração de Jesus no jardim da agonia, esta é a única oração pessoal de Jesus ao Pai da qual Mateus guardou o conteúdo. Para a comunidade foi muito confortante lembrar as palavras de Jesus porque os mais pobres não se sentiam acolhidos e procuravam outro abrigo.

Mt. 11,25: Nessa ocasião, Jesus, começou a dizer: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas a sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos”.

Jesus agradece ao Pai pela revelação que Deus dá aos pequeninos: os pescadores, operários, e marginalizados que o acolheram e o seguem pela Galiléia. Agradecendo a Deus por ter escondido a sua verdade dos sábios e entendidos e torná-la acessível aos pequeninos e humildes, Jesus denuncia todo tipo de apropriação intelectual da verdade. Acabou-se o privilégio do escriba. Os seguidores de Jesus não precisam de doutores.

A autossuficiência dos privilegiados impediu que ela pudesse reconhecer a verdade de Jesus. Os pequeninos, com sua espiritualidade conseguiram em grande parte acolhê-Lo, mesmo sem compreender inteiramente a profundeza de sua identidade.

Mt. 11,26-27: “Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai. E ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.

É importante lembrar que Jesus não está querendo dizer que Deus se oculta para uns e se revela a outros, porque a exclusão é contrária à essência do Deus Amor. Jesus foi um apaixonado por Deus e por todas as pessoas.

O problema não está em Deus, mas nas pessoas a quem é dirigida a revelação divina. Elas têm a capacidade de acolhê-la ou rejeitá-la. Acolher Jesus como Messias, o enviado do Pai, é colocar-se em seu seguimento para fazer as mesmas coisas que ele fez. No tempo de Jesus os sábios e entendidos não aceitaram sua proposta.

O versículo 27 é a revelação de como Jesus vive uma relação única com o Pai: “Ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e a quem o Filho quiser revelar”. Ele quis revelar isso a todos seguidores do mundo que se abrem a justiça do Reino.

Mt.11,28: “Venham a mim, todos vocês que andam cansados e curvados pelo peso do fardo, e eu lhes darei descanso”.

Jesus convida a todos que estão cansados para ir até ele e assim obterem descanso. O povo andava cansado debaixo do peso dos impostos e das obrigações exigidas pelas leis da pureza.

Muitos cristãos vivem abatidos por suas consciências. Eles simplesmente foram ensinados  a sempre terem em conta seus pecados . Não ensinaram para eles a alegria do contínuo perdão de Deus. Há também cristãos cansados de viver a sua religião como uma tradição desgastada. Isto é “fardo” pesado. O seguimento de Jesus deve proporcionar alegria interior. Então vão seguir Jesus, não por obrigação, mas por atração.   

Mt.11,29-30: “Carreguem minha carga e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para suas vidas. Pois minha carga (jugo) é suave e meu fardo é leve”.

Muitas vezes a frase: “Aprendam de mim que sou manso e humilde de coração” foi manipulada para pedir ao povo submissão, mansidão e passividade. O que Jesus quer dizer é o contrário. Jesus, o novo mestre, sabe por experiência o que passa no e o que o povo sofre. Ele nunca oferece aos seus seguidores algo que não tenha vivido.

 “Carregar a carga” ou, em outras traduções bíblicas, “carregar o jugo” era expressão utilizada pelos rabinos e se referia ao jugo da Torá, dos preceitos. Mas a Lei “manipulada” não era para o povo fonte de vida, mas de escravidão, um fardo insuportável. Jesus não sobrecarrega ninguém. Ao contrário, propõe que vivamos nossas vidas mais humanos e dignos de tudo.

Nas primeiras comunidades os cristãos vindos do farisaísmo defendiam a observância “cega” da Lei. No livro de Atos encontramos: “Então, por que vocês agora tentam a Deus, impondo ao pescoço uma canga que nem nossos pais nem nós mesmos tivemos força para suportar”? (At.15,10). Paulo, mesmo tendo sido fariseu, defendia a liberdade cristã diante dessa Lei.

Pensemos: Qual o fardo que hoje cansa a comunidade? Qual o fardo que alivia?

 

P/ CEBI (Centro Estudos Bíblicos)

Raul de Amorim > raul4ap@gmail.com