Credenciais de Jesus: Suas obras - Raul Amorim

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22/03/2018 - 16:15

Jo. 10,31-42

Estamos chegando à Semana Santa, em que fazemos memória e atualizamos a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Os textos destacam o conflito entre a revelação que Jesus faz do Pai e o fechamento radical por parte das autoridades religiosas. O mais triste deste fechamento é que ele é feito em nome da “fidelidade a Deus” É em nome de Deus que eles rejeitam Jesus.

Jo. 10,31-32: Os judeus pegaram em pedras outra vez para atirar em Jesus. Então Jesus disse: “Eu mostrei a vocês muitas coisas boas que vêm do Pai. Por qual delas vocês estão para me apedrejar?

Jesus é mais uma vez ameaçado de linchamento. A liberdade com que Ele falava e agia provocava demais seus inimigos a ponto de partirem para a violência física. Jesus define sua condição de Messias, apresentando-se como Filho de Deus. Isso acirrava cada vez mais a fúria das autoridades. Mais do que nunca queriam que Jesus calasse a boca!

Naqueles corações insensíveis era impossível a idéia de um Deus que se fez presente na carne de um ser humano. Era uma grande blasfêmia! Hoje ainda temos esse problema, pois muitas pessoas são massacradas, humilhadas e mortas porque as “cabeças duras” não aceitam que o outro, que a outra é filho e filha de Deus.

Jo. 10,33-36: Os judeus responderam: “Não vamos apedrejar-te por causa de boas obras, mas por causa de blasfêmia: tu, que és apenas um homem, te mostras como se fosses Deus”. Jesus disse: “Não está escrito na Lei de vocês: “Eu disse: vocês são deuses”? Se são chamadas deuses aquelas pessoas par quem veio a palavra de Deus, e a Escritura não pode ser anulada, como é que vocês dizem estar blasfemando aquele que o Pai santificou e enviou ao mundo? Por eu ter dito que sou filho de Deus?

A Lei se torna um trunfo, uma carta marcada, que eles sabem manipular para legitimar a acusação e a violência: No livro do Levítico encontramos: “Quem blasfemar contra o nome de Javé deverá morrer, Será apedrejado por toda comunidade. Seja migrante, seja nativo, se blasfemar contra o nome de Javé , deverá ser morto” (Lv. 24,16)

Jesus rebate a acusação com a Sagrada Escritura, precisamente o salmo 82 onde o salmista se refere aos juízes daquele tempo e os de hoje: “Eu disse: Vocês são deuses. São todos filhos do Altíssimo. (Sl. 82,6) Os poderosos, aqui ironicamente chamados de “deuses”, não cumprem a vontade do Deus verdadeiro, que manifesta a verdade ao tomar defesa dos pobres.

O salmo lembra que esses poderosos participam da mesma condição humana, embora exerçam função que por natureza pertence ao Pai e por isso estão submetidos à vontade de Deus e não acima ou contra ela.

Jo. 10,37-38: “Mas se eu as faço, ainda que vocês não acreditem em mim, acreditem pelo menos nas minhas obras. Assim, saibam vocês e se convençam de que o Pai está presente em mim, e eu no Pai”. Tentaram outra vez prender Jesus, mas ele saiu do meio deles.

É pela contemplação e entendimento do sentido das obras de Jesus que se estabelece o compromisso com ele, e dessa forma o acesso ao Pai. Seguindo o evangelho de João vamos encontrar essas mesmas palavras dirigidas a Filipe:

“Você não acredita que eu estou no Pai, e o Pai está em mim? A palavra que estou dizendo a vocês, não as diz por mim mesmo. É o Pai que permanece em mim, ele é quem realiza as suas obras. Acreditem em mim: Eu estou no Pai e o Pai está em mi. Se não for por outra razão, acreditem por causa destas obras.” (Jo. 14,10-11)

As autoridades religiosas, preocupadas apenas com as afirmações doutrinárias, não são capazes de acolher o agir libertador de Jesus; pelo contrário, decidem prendê-lo, mas não conseguem. Outra vez ele escapa !

Jo.10, 39-42: Jesus partiu de novo para o outro lado do rio Jordão, para o lugar onde antes João ficava batizando. E aí ficou. Muitos foram ao seu encontro. E diziam: “João não realizou nenhum sinal, mas tudo o que ele disse a respeito desse homem é verdadeiro”. E nesse lugar muitos acreditaram em Jesus.

Jesus sai e atravessa o Jordão para o lugar onde João batizava. Assim mostra a continuidade de sua missão com a missão de João Batista. Ajuda o povo a perceber a linha de ação de Deus na história. A memória do testemunho de João reforça a convicção de que o caminho está em acreditar em Jesus, em vista dos sinais que veio realizando.

P/ CEBI (Centro Estudos Bíblicos)> Raul de Amorim Pires. raul4ap@gmail.com