Igreja fiel ao Senhor, Igreja fiel ao Amor! - Pe. Reuberson Ferreira, mSC

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18/05/2017 - 08:00

Leituras: At 15, 7-21 - 28; Sl: 95; Evangelho: Jo 15, 9 -11

O tempo pascal, que agora celebramos, ajuda-nos a compreender o mistério da ressurreição. Esse tempo litúrgico testifica a presença de Cristo Ressuscitado entre os homens. Presença essa que forja a Igreja, forma a comunidade e a conduz pelas sendas da história, na busca da construção do Reino por Ele Anunciado. Da ressurreição de Cristo, pela ação do Espírito Santo, brota um mundo novo, uma nova comunidade: seguidores do Ressuscitado.

Nesse sentido, a liturgia desta quinta-feira da quinta semana da Páscoa, exorta-nos a perceber a presença do Ressuscitado na vida e na história da Igreja. Revela-nos que o Espírito de Cristo, vivo e vencedor, é quem deve mover a comunidade para acolher sempre mais aqueles que aderem à fé e perceber que a fidelidade aos mandamentos do senhor – mandamento do amor – é o caminho mais lúcido para a comunhão com Deus.

A primeira leitura desta liturgia é extraída do livro dos Atos dos Apóstolos. Ela apresenta, após os esforços missionários de Paulo entre os pagãos (v.12), um problema doutrinal a ser resolvido pela comunidade dos seguidores do Ressuscitado, a Igreja. Tratava-se da questão da necessidade ou não de circuncisão dos pagãos (At, 15 1-6). Pedro argumenta que eles não precisam da circuncisão, pois Deus serviu-se do próprio apóstolo para anunciar o Evangelho aos pagãos. Não fez distinção entre eles e lhes conferiu o Espírito Santo (v.8-9) pela fé em Jesus Cristo, sem exigência de práticas religiosas estritas (v.9). Frente a esse argumento, Tiago (v.13), em nome da assembleia reunida pontifica que eles não devem importunar os pagãos. Antes, acolhe-los na comunidade dos seguidores de Jesus imputando-lhes apenas algumas normas tangíveis a todos (v.20). Depreende-se dessa passagem o ensinamento de que a comunidade dos seguidores de Cristo (Igreja) deve, em todos os tempos, colocar-se em discernimento ante desafios que lhe são apresentados. De igual modo, nenhuma norma eclesiástica pode ou deve afastar de Cristo aqueles que O buscam de coração sincero. Apontam-nos, por fim, a importância do diálogo, do olhar fito no Senhor, para distinguir o que é essencial e o que é acidental no seguimento de Jesus.

O Salmo e o Evangelho acentuam a necessidade do anúncio da mensagem de Jesus a todos os povos e a fidelidade aos mandamentos do Senhor como caminho de comunhão e alegria em Deus. O Salmista exorta a todos com força vibrante que anunciem as maravilhas do Senhor entre todas as nações e finaliza seu canto suplicando, a vinda do Reino do Senhor. O Evangelho, por seu turno, escrito por João, exorta os discípulos, membros da sua comunidade, a manterem-se fieis ao mandamento do Senhor – mandamento do amor. Trata-se de um convite conciso e profundo. Para Jesus, os discípulos são exortados, assim como Ele, a permanecerem unidos a Deus. Tal união dá-se pela via do amor. Tal sentimento é entendido nos mesmo moldes daquele que Cristo testemunhou à humanidade, ou seja, a entrega sem reservas e limites em favor do próximo (Jo 15, 13). Portanto, todo discípulo que deseja permanecer no Senhor (fidelidade), deve ter como meta o amor extremo que se entrega, que serve e acolhe os que de coração sincero buscam a Deus.

As leituras da liturgia desta quinta-feira, portanto, nos apresentam um modelo de discernimento para as questões que se impõem à comunidade dos seguidores do Ressuscitado. Tal critério sempre será o mandamento do amor. A Igreja será tão mais fiel ao Senhor quanto o for ao amor, a justiça e a caridade. Esse elemento tem que ser a régua com a qual mensuramos vida, história e decisões de fé. Afinal, como já dizia, um místico do século XVI, no crepúsculo da vida, seremos julgados pelo amor.