O BEM DAS PESSOAS É O QUE IMPORTA...> Raul Amorim

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20/07/2018 - 00:00

Mt.12,1-8

Jesus conhecia a Sagrada Escritura de cor e salteado! Essa expressão pode ser estranha, mas a leitura de hoje retrata essa afirmação. Ele fazia memória dos textos sagrados para mostrar que os argumentos dos seus opositores não tinham fundamento. Se Jesus conhecia tão bem a Bíblia, é sinal de que ele participava ativamente da vida da comunidade do seu tempo onde todo o sábado se liam as Escrituras... Vamos ao evangelho:

Mt.12,1-2: Nessa ocasião, Jesus passou pelas plantações num sábado. Seus discípulos estavam com fome e começaram arrancar espigas e comê-las. Vendo isso, os fariseus disseram a Jesus: “Vê: teus discípulos estão fazendo o que não é permitido no sábado”.

Esse grupo de fariseus eram os “fiscais de plantão” que ficavam atentos para fiscalizar as pessoas que não cumprissem a Lei. Não precisa nem dizer que Jesus e seus seguidores recebiam uma atenção maior. A cena que eles observam é um “prato cheio” para mais um conflito. E questionam Jesus.

Eles recorrem à Bíblia para dizer que os discípulos de Jesus estavam cometendo uma transgressão da lei do sábado. Para eles os discípulos cometeram duas infrações: apropriaram-se do que não lhes pertencia, e fizeram isso no dia santificado.

Mt.12,3-4: Ele respondeu: “Vocês leram o que Davi e seus companheiros fizeram quando tiveram fome? Como entraram na Casa de Deus e comeram os pães oferecidos a Deus, coisa que nem ele nem seus companheiros era permitido comer, mas somente os sacerdotes”?

No primeiro livro de Samuel encontramos a seguinte questão: Fugindo da perseguição de Saul, Davi e seus companheiros chegaram famintos a um santuário, cujo sacerdote, na falta de outro pão, ofereceu aos fugitivos o pão consagrado, que só aos sacerdotes era permitido. Podemos conferir em (1Sam.21,2-7)

Jesus pega alguém muito importante da história de Israel, o rei Davi, e mostra-lhes que o próprio rei infligiu àquela lei. Jesus não diz que a lei não tem importância nem desvaloriza o valor do sábado. Absolutamente. O que ele argumenta é que na Bíblia há casos anteriores e que a lei é para libertar as pessoas e não para oprimi-las.

Mt.12,5-6:  E Jesus continua: “Ou vocês não leram na Lei que aos sábados, no Templo, os sacerdotes violam o sábado e ficam sem culpa? Pois eu lhes digo: Aqui está algo maior que o Templo”.

Jesus vai mais a fundo no problema e argumenta a partir das próprias autoridades que realizam as cerimônias no sábado. No Templo de Jerusalém, em dia de sábado, os sacerdotes trabalhavam muito mais que nos dias de semana, pois deviam sacrificar os animais para os sacrifícios. E ninguém dizia que isso era contra a lei. A própria Lei os obrigava... (Cf.Nm.28,9-10)

Mt.12,7-8: “Se vocês tivessem compreendido o que significa: Quero misericórdia e não sacrifício, não teriam condenado os inocentes. Porque o Filho do Homem é senhor do sábado”.

Jesus recorre às Escrituras e mostra que a própria Lei não é absoluta, e que é preciso compreendê-la partindo de uma postura de misericórdia. Aqui Jesus faz memória do livro do profeta Oséias: “Pois eu quero amor e não sacrifícios, conhecimento de Deus mais que holocaustos”. (Os.6,6)  

A interpretação da Lei deve ser sempre no sentido da misericórdia, no acolhimento.  O centro da obra de Deus é o ser humano, e cultuar a Deus é fazer o bem as suas criaturas. Jesus é o critério da interpretação da Lei de Deus.

Poderíamos pensar: Quais os conflitos em torno das práticas religiosas que, hoje, trazem sofrimento para as pessoas e são motivo de muita discussão e polêmica?

P/ CEBI (Centro Estudos Bíblicos) Raul de Amorim Pires> raul4ap@gmail.com