O seu sangue caia sobre nós! - Cônego Celso Pedro da Silva

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09/04/2017 - 00:15

Mt 21,1-11

Hoje celebramos a Paixão e Morte de Jesus e no próximo domingo, a sua Ressurreição. Ainda na antiguidade acrescentou-se à celebração de hoje a Procissão de Ramos em memória da entrada do Cristo vitorioso em sua cidade, que é, de fato, a Jerusalém celeste. Damos assim início à semana maior ou Semana Santa.

Jesus entra em Jerusalém. Entrada triunfal. O triunfo de Jesus se vê, não na montaria, que não é um cavalo de guerra e sim um jumentinho, nem tampouco nas indumentárias – não consta que estivesse de capa e coroa. O triunfo se vê na aclamação do povo e nas vestes estendidas pelo caminho. Este é o profeta, Jesus de Nazaré. Sua força está no povo que o segue e o reconhece como o filho de Davi, que vem em nome do Senhor. Juntando Isaias e Zacarias numa só citação, São Mateus mostra que em Jesus se realizam as profecias. Ele é o Messias esperado, o rei que vem montado num jumentinho. O primogênito da jumenta é o único animal que deve ser resgatado como o primogênito de um ser humano. Assim se lê em Êxodo 13,13: “Todo primogênito da jumenta tu o resgatarás com um cordeiro (...) todo primogênito do homem entre teus filhos, tu o resgatarás”. Segundo a tradição judaica, este é o jumento com o qual Moisés voltou com sua família para o Egito (cf Ex 4,19-20). Diziam os antigos judeus que “como o primeiro redentor, assim fará o último redentor”. O primeiro é Moisés na passagem citada. O último é o Rei, que vem a Jerusalém, “vitorioso e humilde, montado sobre um jumentinho,” como se lê em Zacarias (9,9). É o jumento do Redentor.

Repentinamente, muda-se o clima da liturgia. As aclamações de acolhida transformam-se em gritos de rejeição: “Seja crucificado!” “Que seu sangue caia sobre nós e nossos filhos!”. Entramos no drama da Paixão e Morte do Senhor ao lado de Judas, que melhor seria não ter nascido, dos sacerdotes que não aceitam para o tesouro do Templo o dinheiro de sangue, da mulher de Pilatos que recomenda ao marido não se envolver com o caso de inocente, com Pilatos que lava as mãos e se declara inocente do sangue de Jesus. O cenário se agita e o véu do santuário se rasga, a terra estremece, os túmulos se abrem e os santos ressuscitam. O Salmista nos faz ouvir o grito de socorro daquele cujos pés e mãos foram transpassados e Isaias nos coloca diante do Servo Sofredor, que tem no Senhor o seu auxílio e não se deixa abater. Judeus e romanos são atores na tragédia do pecado do mundo, o verdadeiro responsável pela Paixão e Morte do Senhor. Que seu sangue caia sobre nós e nos lave do pecado.