Ouvir... Escutar e Acolher - Pe. Reuberson Ferreira, mSC

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23/03/2017 - 00:15

Leituras: Jr. 7, 23-28 / Sl: 94 / Evangelho: Lc 11, 14-23

Com passos pressurosos caminhamos rumo à celebração central da fé Cristã: a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. A caminhada quaresmal nos desafia ao  longo de quarenta dias ou mais, a nos prepararmos para celebrar com um profundo sentimento de transformação interior o mistério da Páscoa, nutridos por um verdadeiro espírito de cristãos convertidos e plenamente identificados com o Senhor ressuscitado.

A liturgia desta quinta-feira da terceira semana da quaresma nos convida a  ouvir a voz de Deus, guardar seus mandamentos e a acolher seu projeto de libertação. Todos eles plenamente revelados em Jesus Cristo.

A primeira leitura, retirada do Livro de Jeremias, apresenta-nos o apelo insistente do Senhor  para que o povo O escute e assim encontre a felicidade e a liberdade. O profeta diz claramente que o povo que ouve a voz de Deus a Ele pertence e é feliz (v.23). As más inclinações, por vezes, levaram o povo escolhido, em momentos da  história, a perder-se no caminho e não ouvir sua voz (v.26). A conclusão lógica dessas ações foi a extinção da própria fé. Portanto, o exercício de colocar-se em posição de escuta, discernimento da vontade do senhor,  apresenta-se como a seiva que nutre a fé. A fé alimenta-se do escutar, meditar e viver a palavra do Senhor buscando colocá-la em prática.

O Salmo e o evangelho acentuam essa dimensão de escuta e acolhida da palavra do Senhor. O Salmista exorta o povo a não fechar o coração como no episódio de Meriba em que, com sede, “murmurou” contra  Deus (Ex 17, 1ss).  Antes, convida-os a ouvir no imediato da vida a voz do Senhor. O Evangelho, por sua vez, acresce um passo maior ao exercício de ouvir. Ele propõe, além de ouvir, que acolham a palavra de Deus  encarnada (Jo 1, 14).

O texto de Lucas apresenta Jesus curando um mudo dito endemoniado.  Diante disso, o sequito que o acompanhava em suas caminhadas, duvida que sua ação seja feita em nome de Deus, antes em nome do “Belzebul” e por isso tenta desacreditar o Filho de Deus (v.15). Jesus contra-argumenta dizendo que um reino dividido tende a ruir. Como pode, então, o demônio expulsar a si mesmo (v.17ss)? Assim, Jesus só pode estar agindo em nome de Deus, que é como “o Homem mais forte” (cf.v.22). O texto, portanto, ensina que, mesmo caminhando com Cristo e ouvindo-o, não se tem a garantia de estar escutando-o. Deve-se, por isso, dar um passo maior. Deve-se acolher sua palavra, aceitar seu projeto de libertação para os frágeis e aceder com toda alma e entendimento a construção do seu Reino onde os frágeis são resgatados, os mudos falam e os coxos andam (Lc 4, 16ss).

Assim, as leituras da liturgia desta quinta-feira, nos ensinam que devemos ouvir a voz de Deus. Tendo claro que a escuta implica em acolhida de sua mensagem e compromisso com a construção com o Reino do Senhor, com a nova civilização onde todos os males serão extintos pela ação de Deus e participação consciente da humanidade.