Reflexão de Raul de Amorim

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03/07/2015 - 04:15

Jo. 20,24-29

Tomé acredita

A simples leitura do nome do apóstolo Tomé leva muita gente a relacionar com uma mensagem sobre a dúvida e a falta de fé. Até a mídia da propaganda explora o sentido do “ver para crer” na apresentação de um produto. Todos conhecem a passagem em que Tomé manifesta a sua incredulidade. Poucos conhecem outras manifestações do apóstolo. Devemos conhecer melhor nosso personagem por ocasião de sua festa.

O evangelista João nos dá informações importantes a respeito desse nosso amigo. No capítulo 11 Jesus fica sabendo que Lázaro, seu grande amigo estava doente. Diante disso Ele resolve voltar à Judéia. Os discípulos alertaram: “Mestre, faz pouco tempo que os judeus quiseram apedrejar-te e vais de novo para lá?” (Jo.11,8). Embora os apóstolos estivessem preocupados com a sobrevivência, Jesus não desiste de visitar o amigo. Só havia duas soluções. Abandonar o Mestre ou ir ao encontro do grande desafio. Aqui aparece a fala de Tomé aos companheiros: “Vamos nós também, para morrermos com ele” (Jo.11,16).Grande ousadia! É nas ocasiões difíceis que se manifestam as grandes pessoas. Grande Tomé!

Mais uma experiência: Estamos na semana da crucificação. Jesus tinha realizado a ultima ceia e dava as ultimas instruções. Um discurso emocionante e consolador; “Que o coração de vocês não fique perturbado... (Jo 14,1ss) Jesus fala em partir, em deixá-los, e não compreendendo todo o significado das palavras de Cristo, uma preocupação os dominava. Para onde iria? Como poderiam segui-lo? Os apóstolos não compreendem e não tem coragem de interrogá-lo.

 Foi Tomé o primeiro a expor a dúvida, que era também de todos: “Senhor, nós não sabemos para onde vais; como podemos conhecer o caminho”? (Jo 14,5) Ele expõe a sua ignorância e aguarda o esclarecimento de Jesus. E para responder a Tomé, aos apóstolos e a todos nós o Mestre nos garante: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida... (Jo.14,6)  A coragem de Tomé nos proporcionou  a resposta consoladora de Jesus. Obrigado Tomé!

A leitura de hoje não diz onde Tomé estava por ocasião da aparição de Jesus depois da Ressurreição, no entanto sabemos que ele perdeu uma experiência maravilhosa junto com seus amigos. Como conseqüência, todos creram em Jesus ressuscitado menos Tomé. No trecho percebemos que houve uma discussão tentando convencer Tomé, mas foram mal sucedidos. Nós também temos muitas dúvidas.

Para uma pessoa realista como o nosso personagem não era uma conversa que iam convencê-lo. Parece que ele ficou agarrado à sua dúvida, acabando com a sua conhecida afirmação: “Se eu não vir a marca dos pregos nas mãos dele, se eu não colocar a minha mão no lado dele, eu não acreditarei”.(Jo20,25)  Foram palavras duras para os outros. Talvez se tivessem ofendido. Esqueceram-se de que eles próprios não acreditaram nas mulheres que foram privilegiadas pela aparição de Jesus.

Como podemos interpretar esta atitude de Tomé? Talvez o medo de se encontrar com Jesus depois de tudo que se passara. Ele que tinha declarado pronto para morrer com o Mestre, que encorajara os outros a segui-lo (Jo 11,16). A convivência com Jesus levara Tomé a um mundo que não era seu, e nesse momento, afastado do seu Mestre voltara à sua antiga natureza.

 A reação dele é como de alguém que não admite fazer a aposta da fé, não acredita no testemunho da comunidade. Jesus, porém se revela a Tomé dentro da comunidade. Como somos parecidos com Tomé! A experiência do apóstolo nos orienta  e nos alerta: Todas as gerações do futuro acreditarão em Jesus vivo e ressuscitado através do testemunho da comunidade cristã.