“ VIDAS A SERVIÇO DO MESTRE” - Pe. Reuberson Ferreira

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24/08/2017 - 10:00

QUINTA FEIRA DA 20ª SEMANA DO TEMPO COMUM

Leituras: Ap 21, 9-14; Sl:144; Evangelho: Jo 1, 45-51

Os passos dados na busca sempre constante da construção do Reino de Deus, como é proposto pela mística que secunda o tempo comum, não são dados sozinhos. Eles são feitos em comunidade, em fraternidade, em comunhão. Assim, nesse tempo litúrgico que ora celebramos, não raras vezes despontam o testemunho dos santos que, a seu modo e a seu tempo, foram capazes de emprestar força na edificação do Reino do Senhor.

Nesse espírito, a liturgia desta quinta feira da vigésima semana do tempo comum, apresenta-nos a figura de São Bartolomeu, por vezes chamado de Natanael. Ele foi Discípulo da primeira hora (Jo 1, 46), ardoroso apóstolo (Mt 10, 2) testemunha da ressureição(cf. Jo 20, 19 ) e da ascensão do Senhor (cf.At 1, 9-12). Ao fim da vida, depois de testemunhar o Reino de Deus na Índia e na Armênia, conta-nos várias tradições, foi martirizado tendo sua pele arrancada. Por essa razão a arte cristã, particularmente Michelangelo em sua pintura do juízo final na capela sistina, eternizou sua imagem como a de um homem que em sua mão esquerda tem a própria pele e na direita o instrumento de seu suplício, uma faca.

As leituras deste dia, portanto, reforçam a ideia de testemunho profético do Reino de Deus – incluso com martírio - e do seguimento fiel a Jesus. A primeira leitura, extraída do livro do apocalipse apresenta a descrição da nova Jerusalém. Uma cidade cheia da glória de Deus (v.11), fortificada por uma muralha e guardada por anjos(v.12), sustentada sobre doze alicerces onde se inscrevem o nome dos apóstolos do cordeiro(v. 14) Não obstante a multiplicidade de significados que secunda todo livro do apocalipse, pode-se dizer que a Jerusalém do céu, descrita nesse texto mimetiza projeto do Reino de Deus. Esse fato porque projeta a glória de Deus (A glória de Deus é o homem vivo, S.Irineu) e senta suas bases na mensagem anunciada por Jesus e propagada pelos apóstolos ( alicerce).

Contiguo a esse texto, despontam o salmo e o evangelho. O salmista, em métrica singular, anuncia o compromisso dos amigos (discípulos) do Senhor em proclamar o Reino e suas obras. O evangelho, por seu turno, extraído do texto de João, recobra o encontro entre Jesus e Bartolomeu (Natanael). Trata-se de uma relação iniciada sob a égide da incerteza, mas que se encerra sob o pálio da esperança. Nesse encontro, Filipe testemunha a Bartolomeu que Jesus é o Messias prometido (v. 45). O futuro apóstolo, inicialmente, descrer e reluta em aceitar, pois a lógica corrente não lhe permitia tal confirmação (v. 46). Em face de um diálogo profícuo e revelador com Jesus, Bartolomeu reconhece naquele homem de Nazaré, uma centelha de esperança. Um sinal de que ele era o Rei de Israel, o verdadeiro mestre(v. 49). Ensina-nos o texto, largos traços, que a lógica vigente não pode sustar a esperança num projeto diferente para humanidade. De igual modo acena que a proposta de Jesus é dínamo da esperança e força motriz de compromisso com a transformação da realidade, construção do Reino. Essa condição moveu Bartolomeu e fez com que ele entregasse a própria vida a serviço do seu mestre, o filho de Deus(v. 49).

A liturgia de hoje, em síntese, convida-nos a meditar sobre a vida de Bartolomeu. Desafia-nos de modo particular, a guiar nossa vida, história e opções pela apaixonante construção do Reino de Deus como fizeram e fazem tantos homens e mulheres, ainda hoje.

Pe. Reuberson Ferreira, mSC - Mestrando em Teologia na PUC-SP.

Trabalha na Paróquia S. Miguel Arcanjo, Arquidiocese de São Paulo.