Inauguração do Santo Sepulcro relança unidade dos cristãos

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Conclui-se os trabalhos de restauração da Edícula que protege o sepulcro de Jesus.
Publicado em: 24/03/2017 - 14:00
Créditos: Redação com Rádio Vatiano

"Muitos aqui em Jerusalém pensavam que seria impossível. Quando falavam sobre isto perguntavam: Quando? E completavam: Certamente não chegaremos a ver". Ao invés disto, como diz o Anjo a Maria na Anunciação: nada é impossível para Deus". Foi o que afirmou o Administrador do Patriarcado Latino, Arcebispo Pierbattista Pizzaballa, ao pronunciar-se na cerimônia por ocasião da conclusão dos trabalhos de restauração da Edícula que protege o sepulcro de Jesus.

A cerimônia

A cerimônia, realizada na quarta-feira, 22 de março, reuniu, entre outros, o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, representantes das Igrejas cristãs, autoridades, diplomatas, os próprios arquitetos e professores que trabalharam intensamente para restituir a cor original ao mármore róseo da edícula. As lâmpadas votivas, ao menos temporariamente, também foram retiradas.

O rito que celebrou a operação coordenada pela equipe da National Technical University de Atenas, contou a participação, na primeira fila, do Premiê grego Tzipras.

O "brilho" atual não era visto desde que há dois séculos, em estilo barroco-otomano, havia sido construída a edícula no centro da basílica para proteger o sepulcro vazio de Jesus, local visitado anualmente por milhões de peregrinos. Com a reforma, foram retiradas as armações de metal feitas pelos ingleses em 1947 para remediar os danos provocados por um terremoto, tendo permanecido por tanto tempo pela dificuldade das Igrejas em chegarem a um acordo sobre como resolver os problemas estáticos da estrutura.

Entraram juntos na tumba vazia os líderes das comunidades greco-ortodoxas, latinas e armênias - as três Confissões cristãs responsáveis pela custódia do lugar mais importante para a cristandade. Cada um cantou seus próprios hinos pascais, sendo a oração do Pai Nosso rezada conjuntamente.

Renovação do testemunho comum

O acordo entre as três Confissões cristãs que permitiu os trabalhos de restauração ultrapassa o resultado material obtido: "Não renovamos somente uma estrutura - explica o Patriarca Greco-ortodoxo de Jerusalém Teófilo III. Renovamos o nosso comum testemunho do Evangelho de Cristo Ressuscitado. E é um dom não somente para a Terra santa, mas para toda a humanidade".

Assim, passa-se a respirar um novo ar de colaboração entre os cristãos, após recentes rixas entre armênios e ortodoxos que macularam o clima de fraternidade dentro do complexo.

Custódio da Terra Santa

"Nestes meses, a confiança recíproca permitiu encontrar as soluções adequadas para não interromper as celebrações e as peregrinações durante os trabalhos", observa o Custódio da Terra Santa, Padre Francesco Patton. O religioso franciscano recorda ainda que, "por uma feliz e providencial coincidência", a inauguração realiza-se a poucas semanas da Páscoa, que neste anos será celebrado no mesmo dia pelas Igrejas.

Para o Custódio da Terra Santa, “o sepulcro vazio é o lugar onde, também fisicamente, iniciou uma nova criação, um mundo novo no instante de luz em que Cristo ressuscitou”.

Ampliar espectro ecumênico

Mas é do Patriarca Armênio de Jerusalém, Nourian Manougian, que parte uma proposta inusitada: "Nós somos custódios deste local - explica, dirigindo-se aos greco-ortodoxos e latinos. Mas existem outras Confissões cristãs (os siríacos, os coptas, os etíopes), cuja história garantiu somente algumas prerrogativas dentro desta basílica. E em Jerusalém estão também os anglicanos, os luteranos, até hoje totalmente excluídos deste local. Por que não considerar a possibilidade de garantir a todas estas cinco Confissões de celebrarem sua liturgia na Edícula do santo Sepulcro ao menos uma vez ao ano, no tempo da Páscoa?".

Caso aceita, a proposta significaria um ulterior sinal de esperança para todos os cristãos do Oriente Médio, cristãos estes recordados pelo Cardeal Leonardo Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, na mensagem enviada em nome do Santo Padre e lida durante a cerimônia no Santo Sepulcro pelo Núncio Apostólico Giuseppe Lazzarotto.

Túmulo da morte tona-se ventre da vida

“O túmulo da morte – escreve o Cardeal – tornou-se o ventre da vida”. “Este lugar santo ilumina os corações e a vida de milhões de peregrinos provenientes de todo o mundo e os convida a viver com esperança em meio aos muitos sofrimentos e dores”. Juntos, a celebração cotidiana, nos diversos ritos, junto à rocha deste sepulcro vazio, infunde sempre nova coragem às populações do Oriente Próximo e Médio”.

O Cardeal Sandri também destacou “a colaboração e a generosidade dos responsáveis dos países da Terra Santa, do Oriente Médio e de todo o mundo para a restauração deste lugar venerado por todos os cristãos”.