"Ajuda aos migrantes e refugiados"

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Cáritas Arquidiocesana de São Paulo
Publicado em: 13/08/2019 - 12:00
Créditos: Redação

Caritas Arquidiocesana de São Paulo

Por Nayá Fernandes em  09 de agosto de 2019

Centro de Referência para Refugiados ofereceu, de janeiro a julho de 2019, atendimento a quase 4 mil pessoas em situação de migração e refúgio

Nos seis primeiros meses deste ano, 3.837 pessoas, de 78 nacionalidades, foram atendidas pelo Centro de Referência para Refugiados da Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP). Os que procuraram a Caritas SP pela primeira vez no mesmo período representaram 43% do atendimento total, somando 1.661 pessoas.


Desde 1967, quando o Cardeal  Agnelo Rossi, então  Arcebispo de São Paulo, optou por trazer a Caritas Arquidiocesana para a administração direta da Arquidiocese, as atividades da Instituição começaram a priorizar, sobretudo, ações de promoção humana. 


O trabalho da Instituição, desde sua fundação, acontece em diferentes áreas. Hoje, devido ao contexto social e econômico, bem como aos novos fluxos migratórios mundiais, o Centro de Referência para Refugiados da Caritas realiza atendimentos diários para ajudar refugiados quando chegam ao País ou estão à procura de oportunidades de trabalho e moradia.

Uma história real

Quando chegou a São Paulo, Abdulbaset Jarour, 29, passou pela CASP. Abdulbaset está no Brasil há cinco anos e veio da Síria, País que atualmente sofre com uma guerra civil. 


“Nasci em uma família de empresários bem-sucedidos e, com os meus seis irmãos, levava uma vida tranquila, segura e feliz na cidade de Alepo. Tinha meu próprio negócio, casa própria, uma loja de celulares e produtos eletrônicos, um carro moderno e minha vida era de festas e encontros com amigos e muitas viagens”, contou Abdulbaset à reportagem do O SÃO PAULO.


Ao alcançar a idade exigida pelo governo, Abdulbaset se alistou como soldado e foi servir o Exército. “Nesse período, deixei minha cidade e minha família e fui viver em Damasco. A base onde eu servia foi bombardeada por Israel e, nesse dia, sofri vários ferimentos e fraturas. Muitos amigos morreram”, contou o Jovem.


Após cumprir o serviço obrigatório, com a Síria já em guerra, Abdulbaset foi morar no Líbano e procurou três consulados a fim de conseguir o visto para viver em outro País. Somente o Brasil lhe concedeu um visto de entrada. “Quando cheguei ao Brasil, não tinha muitas informações a respeito do País, da cultura, da língua e apenas sabia que aqui era um lugar de grandes belezas naturais e em que se jogava futebol, pois daqui saem os grandes nomes deste esporte”, disse o sírio, que, logo no início, usou o tradutor do celular para conseguir se comunicar e ter um local para morar.


Aos poucos, com seu jeito alegre, Abdulbaset foi conquistando as pessoas e fez muitos amigos, aprendeu o Português, trabalhou numa loja de manutenção de celulares, mas não recebia o salário regularmente. A questão financeira, então, passou a ser um grande problema, pois seu dinheiro já não era mais suficiente para pagar as despesas de aluguel da casa onde morava no bairro de Santo Amaro, na zona Sul.  


Preocupado com a situação da sua família, sobretudo da mãe e dos dois irmãos que ainda vivem em Alepo, Abdulbaset começou a contar sua história e acabou dando muitas entrevistas. Uma de suas irmãs teve a perna dilacerada devido a uma bomba que caiu em seu carro.


“Ela passou mais de um ano internada em um hospital na Turquia, contando com outras pessoas para cuidar dos filhos. Tentou a travessia para a Grécia em botes e, somente na segunda tentativa, conseguiu chegar à Croácia. Junto a outros refugiados, caminharam até a Áustria e chegaram à Alemanha”, contou Abdulbaset, que, devido às entrevistas, foi ficando mais conhecido. Atualmente, trabalha como coordenador-geral da Copa dos Refugiados e é vice-presidente da ONG África do Coração. Além disso, é educador social para os imigrantes e palestrante.


“O que mais desejo é ter meu próprio negócio e, num futuro próximo, construir minha vida aqui no Brasil, ter uma família, filhos e, quem sabe, a alegria de ver meus familiares vivendo bem e livres da guerra aqui ou em qualquer parte do mundo”, continuou Abdulbaset, que disse acreditar muito no trabalho da Caritas.

Acolhida 

Em 2019, 62% dos atendidos pela CASP são do sexo masculino e 38% do feminino, de acordo com os dados do relatório divulgado no fim do mês de julho. Essa diferença de percentual, no entanto, não se apresenta em todas as faixas etárias: entre 0 e 17 anos e entre pessoas acima dos 60 anos, a porcentagem dos sexos é equivalente. A predominância masculina ocorre entre 18 e 59 anos.


Muitas pessoas que solicitaram refúgio no primeiro semestre de 2019 apresentaram situações de vulnerabilidade: menores separados ou desacompanhados; mulheres grávidas; famílias monoparentais; pessoas sobreviventes de tortura, entre outras situações. O relatório registrou, também, o atendimento a um apátrida – indivíduo que por situações diversas não é cidadão de  país algum.


Como o trabalho do Centro de Referência para Refugiados é voltado para solicitantes de refúgio e refugiados, cerca de 10% dos atendidos, 384 pessoas, foram encaminhados para outras organizações de apoio a migrantes, por não preencherem os critérios da lei brasileira de refúgio.


Em comparação ao relatório de 2018, das dez nacionalidades com maior número de atendimentos no último ano, sete permaneceram entre as dez primeiras posições no semestre passado: Angola, Cuba, Nigéria, Paquistão, República Democrática do Congo, Síria e Venezuela.


A maioria das pessoas atendidas pelo Centro de Referência para Refugiados, segundo o relatório divulgado, chegou ao Brasil em Pacaraima (RR) ou Boa Vista (RR) por via terrestre, mas há outras nacionalidades que entram por essa fronteira e pelo Aeroporto de Guarulhos (SP). Em relação à moradia, as cidades mais procuradas foram São Paulo, Guarulhos, São Bernardo do Campo, Santo André, Osasco, Ferraz de Vasconcelos, Campinas, Carapicuíba e Itapevi.


Já em 2017, a CASP atendeu 6.397 pessoas, de 72 nacionalidades, como Angola, Síria, República Democrática do Congo, Guiné-Conacri, Nigéria e Mauritânia. O Centro de Referência para Refugiados contabilizou 67 pessoas atendidas vinda da Venezuela, a maioria com curso superior e alguns até com mestrado.


Atendido diretamente pela CASP, Prosper Sikabaka Diganga chegou ao Brasil em 6 de agosto de 2013, após deixar seu país natal, a República Democrática do Congo, como refugiado político. Ativista, sentia que ele e sua família sofriam perseguição.


“A Caritas me ajudou a providenciar minhas primeiras necessidades. Fui encaminhado para a Casa dos Migrantes, dos Missionários Scalabrinianos. Consegui revalidar meu diploma, pois sou formado em Relações Internacionais, e, hoje, trabalho no Centro de Referência como voluntário”, contou Prosper, que, profissionalmente, atua como recepcionista em um hotel.

O papel da Igreja na acolhida a migrantes e refugiados

Além do Centro de Referência para Refugiados da Caritas Arquidiocesana de São Paulo, outros serviços mantidos ou apoiados pela Igreja Católica em São Paulo realizam a missão de acolher e contribuir com a integração dos migrantes e refugiados que chegam ao País. O Amparo Maternal, por sua vez, atende mulheres gestantes e seus filhos até os 6 meses de vida e, entre as atendidas, tem aumentado o número de mulheres migrantes e refugiadas.

Missão Paz

A Missão Paz é uma instituição filantrópica de apoio e acolhimento a imigrantes e refugiados na cidade de São Paulo. Pertencente aos Missionários Scalabrinianos, ela atua em favor do público migrante desde os anos 1930. Ao longo de sua história, a Missão Paz se renovou, reestruturando-se a partir dos desafios apresentados pelos diferentes fluxos migratórios. Sua estrutura atual é formada por quatro grandes eixos: a Casa do Migrante, o Centro Pastoral e de Mediação dos Migrantes (CPMM), o Centro de Estudos Migratórios (CEM) e a Igreja Nossa Senhora da Paz.
A Casa do Migrante é o abrigo da Missão Paz e tem capacidade para acolher 110 indivíduos. Nela são oferecidos alimentação, material de higiene pessoal, roupas, aulas de Português, acompanhamento de assistentes sociais e apoio psicológico. A Casa disponibiliza uma sala de TV, uma biblioteca, uma brinquedoteca e uma lavanderia para uso coletivo entre os moradores.

Doações 
Casa do Migrante
Rua do Glicério, 225, Liberdade, São Paulo (SP);
De segunda-feira a sábado, das 9h às 12h; e de segunda a sexta-feira, das 13h30 às 17h.
Telefone: (11) 3340-6950
contato@missaonspaz.org
Fonte: Missão Paz

 

Sefras Migrante

O Sefras Migrante, fundado em 28 de agosto de 2014, funciona a partir de uma parceria com o poder público, por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. O Serviço acolhe refugiados e solicitantes de refúgio, provenientes de diversas partes do mundo. Oferece acolhimento 24 horas e dispõe de alimentação, banho e atendimentos psicológico, social e jurídico. Além disso, há oferta de direitos básicos e acompanhamento para o processo de saída da situação de rua, buscando o caminho da autonomia dos participantes. Há vagas para 110 pessoas com idades de 0 a 60 anos.

Centro de Acolhida Imigrante
Rua Japurá, 234, Bela Vista, São Paulo (SP).
Telefone: (11) 3112-0074

Fonte: Sefras.org.br e http://www.osaopaulo.org.br/noticias/caritas-arquidiocesana-de-sao-paulo