Amparo Maternal - A primeira página do livro da vida

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<p><em>Fundado em 1939, o Amparo Maternal comemora 75 anos de portas abertas para mães e bebês</em></p>
Publicado em: 11/09/2014 - 14:45
Créditos: Edição nº 3015 do Jornal O São Paulo – página 11

Com 9 meses de gravidez, Lígia de Carvalho Fiochi chegou ao Amparo Maternal no dia 27 de junho. Lá, ela ganhou a Letícia, sua quarta filha. Aos 34 anos, a mãe foi transferida para o Amparo, após sair da rua, em situação de dependência química. “Minha mãe, da rua, me levou para o hospital. Eu tive uma recaída no último mês de gestação, pois não conseguia fazer abstinência do crack. Depois do parto, eles iriam levar minha filha para um abrigo e eu para uma clínica de recuperação. Mas, eu queria amamentar, porque senti que ela seria a força para sair da dependência”, contou Lígia.

Muito agradecida, a mãe falou da equipe médica, dos diferentes tipos de assistência física, psicológica e social que recebe. “Agradeço por poder ficar com minha filha. E agradeço a Deus porque mesmo tendo utilizado crack durante toda a gravidez, Letícia nasceu perfeita, sem nenhuma sequela. Está sendo um momento de encontro comigo mesma e com minha filha”, disse emocionada.

Lígia está com a filha no Centro de Acolhida que a Instituição mantém. “Fundado em 1939, por um grupo de pessoas lideradas pela franciscana Madre Marie Domineuc, pelo Doutor Álvaro Guimarães Filho e pelo então arcebispo de São Paulo Dom José Gaspar de Alfonseca e Silva, o Amparo Maternal nasceu para abrigar gestantes que não tinham lugar para dar à luz, muitas delas vivendo nas ruas, algumas rejeitadas pela família”, explicou Júnia Cordeiro, diretora executiva do Amparo. “Era um grande albergue e posteriormente foi construída a maternidade”, disse.

Ela explicou ainda que, no início, não havia funcionários contratados. “Eram doações, destacando-se a contribuição de Dom Paulo Evaristo Arns, que captou muitos parceiros na Alemanha.” Com o tempo, o Amparo começou o convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS), e outras parcerias. A atual é com a Associação da Congregação de Santa Catarina (ACSC), que começou em 2008.

“Em 1975, as Irmãs Vicentinas de Gysegem começam a coordenar as atividades voltadas à assistência social e hospitalar, contribuindo para o crescimento e permanente estruturação”, contou Júnia. No Hospital Amparo Maternal são realizados quase 8% dos partos SUS, sendo 25% deles feitos em adolescentes. Porém, a Diretora afirmou que o déficit da instituição, atualmente, é na ordem de R$ 1.300.000 (um milhão e trezentos mil reais mensais), coberto regularmente pela ACSC.

Trabalho humanitário
[Créditos: Divulgação] Silvia Maia Holanda, coordenadora médica da neonatologia do Amparo Maternal, trabalha na instituição há cinco anos e desenvolve um trabalho que, para ela é apaixonante. “Tenho a oportunidade de oferecer um serviço de muita qualidade a um público que nem sempre está acostumado a ser atendido com dignidade, segurança e excelência. Estamos todos lutando pelo mesmo ideal, que é o atendimento humanizado para mães e bebês.”

Silvia salientou que são 600 partos ao mês, sendo 76% de partos normais. “O parto normal permite que mãe e bebê fiquem juntos desde o primeiro momento. É nesse contato precoce, que eles se olham e se conhecem, que ocorre o ‘imprinting’, a paixão que nasce entre eles. Ali também se inicia a experiência única da amamentação precoce e exclusiva em seio materno”, disse.

Ela afirmou que trabalhar no Amparo Maternal é um privilégio. “Já trabalhei em instituições publicas e privadas reconhecidamente de excelência, mas, jamais, em nenhum outro lugar, tive a chance de fazer o que amo. Estou vivendo o meu sonho, desenvolvendo um trabalho amplo e humanizado, sem esquecer a excelência técnica”, enfatizou Silvia.

Marlene Beatriz, supervisora do serviço de atendimento ao usuário, trabalha no Amparo há 23 anos. ”Há um diferencial, que é a espiritualidade no atendimento. Mesmo tendo passado por dificuldades, atualmente, reformados o Berçário, o Centro Cirúrgico, a UTI neonatal e outras obras que asseguram a qualidade do trabalho. O mais importante é a continuidade da missão e do ideal dos fundadores, a luta pela justiça social e respeito pela dignidade humana.”

Show com Fafá de Belém e sua filha, Mariana
Na segunda-feira, 18, aconteceu um show beneficente com a cantora Fafá de Belém, em comemoração aos 75 anos do Amparo Maternal, no Bourbon Street Music Club, na capital paulista. “Tivemos como mestre de cerimônia a também cantora Mariana Belém, filha de Fafá e madrinha do Amparo Maternal. Todo o valor adquirido com a venda dos ingressos será revertido aos projetos sociais da instituição”, explicou Júnia Cordeiro.

Fafá de Belém afirmou que apoia o projeto “porque é sério e abraça com amor mulheres e crianças que necessitam de dignidade e cuidados profissionais decentes em um momento tão especial de suas vidas”. Ela enfatizou que “devemos estar atentos às necessidades do outro, estender a mão e o olhar para além do nosso ‘mundinho’ e de nosso umbigo”.

Mariana contou que conheceu a Instituição quando visitou a UTI Neonatal. “Quando digo que sou madrinha dos bebês e que ajudo o Amparo no que posso, recebo mensagens de muitas pessoas que tiveram seus bebês lá e que são muito gratas e felizes pela experiência que tiveram. O lema do Amparo Maternal: ‘Não Recusar Ninguém’, diz tudo”.

Questionada sobre a importância do Amparo para a sociedade, Mariana disse que “o momento da gestação e do parto são muito delicados para a mulher. É extremamente importante receber essa mulher com delicadeza e cuidar dela nesse momento tão especial da maneira como o Amparo Maternal faz. E os cuidados não terminam na sala de parto, seguem fortemente, e lindamente, com o Centro de Acolhida. Sou apaixonada pelo trabalho deles, do começo ao fim”.

Nayá Fernandes
(Colaboraram Mariana Lins Cremonini e
Marcelle Machado, assessoria de imprensa)