Obras de Tarsila do Amaral - até 28 de Julho

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Exposição "Tarsila Popular"- Obras de Tarsila do Amaral sobre religiosidade popular
Publicado em: 18/07/2019 - 09:00
Créditos: Redação

A religiosidade popular nas obras de Tarsila do Amaral

Pela primeira vez na Capital Paulista:

A exposição “Tarsila Popular”, em cartaz no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) até o dia 28 de julho, já recebeu milhares de visitantes e é um marco para a história da arte, uma vez que reúne, pela primeira vez na Capital Paulista, 92 obras da artista brasileira, tornando-se a mais ampla mostra já dedicada a Tarsila do Amaral. 


Entre obras famosas e mais conhecidas pelo público, como “Abaporu”, de 1928 – pintura a óleo, uma das obras símbolo do modernismo no Brasil – ou, “Operários”, de 1933, que retrata o grande número de imigrantes que vieram trabalhar nas fábricas do País, estão também obras que Tarsila dedicou à religiosidade popular, em especial às igrejas históricas de Minas Gerais.


“Religião Brasileira I”, de 1927, e “Procissão”, de 1941, são duas das principais obras que retratam diretamente elementos da religião cristã católica e que podem ser vistas na exposição do Masp. Ambas são parte do acervo da Sala Modernista da Pinacoteca da APM desde a década de 1950. Outras obras como “O vendedor de frutas”, de 1925, e “Tiradentes”, de 1924, possuem representações de igrejas em estilo barroco. Essa última obra faz parte da série “Viagem a Minas Gerais”, de 1924, com desenhos em nanquim sobre papel.

Fé e história

A referência direta à religiosidade popular, à arquitetura e a todo o conjunto da arte das igrejas do período barroco e colonial faz parte de um projeto do qual Tarsila participou, em que os artistas do modernismo brasileiro se propuseram a ajudar a preservar e retratar elementos da história do Brasil.


Carla Galdeano, historiadora responsável pela organização, pesquisa histórica e salvaguarda de acervos da Província Brasileira dos Jesuítas, afirmou, em entrevista ao O SÃO PAULO, que até mesmo a revalorização do triângulo das igrejas históricas de São Paulo – Nossa Senhora do Carmo, Mosteiro de São Bento e o Convento de São Francisco – começou a partir do movimento iniciado na Semana de Arte Moderna, de 1922.


“Houve a retomada dos traços característicos da nossa arquitetura, sobretudo do período barroco, arquitetura essa que estava desaparecendo por completo. A Semana de 1922 pretendia identificar esses prédios e preservá-los”, explica a Historiadora.

Um Brasil autêntico

Caion Meneguello, mestre em História, publicou, em 2007, um artigo intitulado “Mário de Andrade em Minas Gerais: em busca das origens históricas e artísticas da nação”. No texto, ele reconta os motivos que levaram os modernistas a Minas Gerais, projeto que inspirou muitas das obras de Tarsila sobre a religiosidade popular.


Caion conta que, compartilhando das inquietações de Mário de Andrade, em 1924, Oswald de Andrade, Olívia Guedes Penteado e outros artistas acompanharam o poeta Blaise Cendrars em viagem às cidades históricas de Minas Gerais. Entre eles, estava Tarsila do Amaral. Os artistas permaneceram em Minas entre os dias 15 e 30 de abril para pesquisar os fundamentos da brasilidade. 


“Nas Gerais residia esquecido o Brasil primitivo, o Brasil de Aleijadinho e do barroco mineiro, o País em suas primeiras manifestações identitárias e tradições históricas. Depois de passarem rapidamente pela Zona da Mata mineira, Juiz de Fora e Barbacena, os excursionistas chegam a São João Del Rei na noite de 16 de abril, onde permanecem até Sexta-feira da Paixão. De sexta-feira até domingo de Páscoa, os modernistas ficam em Tiradentes. A ideia era aproveitar em Minas as festividades da Semana Santa. Assim, os componentes da caravana pretendiam estudar as manifestações da religiosidade brasileira”, consta no artigo.

Sobre ‘Religião brasileira I’

“Ao retornar de uma de suas viagens à Europa, após o desembarque no porto de Santos (SP), Tarsila do Amaral foi até São Vicente (SP), também no litoral paulista, para comprar doce de banana. A casa da doceira exibia já na entrada uma mesa decorada com motivos religiosos: várias pequenas imagens da Virgem Maria com o Menino Jesus, rodeadas por arranjos florais de papel crepom. O conjunto todo se assentava sobre uma toalha branca de crochê. Era um altar doméstico, característico da fé católica de grande parte dos brasileiros.”
O texto acima foi publicado no Blog Humanarte e contém o comentário de Maria Isabel Ribeiro, publicado pelo Instituto Itaú Cultural, em 2013. A autora explica que a cena da doceira não passou despercebida ao olhar de Tarsila, que vivia a fase Pau-Brasil (leia mais abaixo). 


“Tarsila se apropria do arranjo popular e lhe dá um formato modernista, agradável e colorido. Com traços econômicos e linhas largas, apenas insinua o contorno dos objetos, dando origem a uma composição em muito inspirada nos movimentos rápidos e nas cores fortes. A religiosidade brasileira lhe dá o pretexto para reconstruí-la sob linguagem modernista”, continua o texto. 

Biografia

Tarsila do Amaral nasceu em Capivari (SP), em 1886, e morreu em 1973. Pintora e desenhista, estudou escultura com William Zadig e Mantovani, em 1916, na Capital Paulista. No ano seguinte, teve aulas de pintura e desenho com Pedro Alexandrino, quando conheceu Anita Malfatti.
Em 1920, viajou para Paris, na França, e estudou na Académie Julian e com Émile Renard. Ao retornar ao Brasil, formou, em 1922, em São Paulo, o Grupo dos Cinco, com Anita Malfatti, Mário de Andrade, Menotti del Picchia e Oswald de Andrade.

‘O Modernismo da Semana de 1922 caracteriza-se por atualizar o ambiente artístico brasileiro, colocando-o em contato com as diversas linguagens das vanguardas europeias e, ao mesmo tempo, voltar-se para apreensão do Brasil, em um projeto de criação de uma arte brasileira autônoma e autêntica’. 

A partir de 1924, Tarsila iniciou a chamada fase Pau-Brasil, em que mergulhou na temática nacional, utilizando as técnicas aprendidas no exterior para figurar elementos próprios da natureza e da cultura do Brasil.


Em 1925, ilustrou o livro de poemas Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, publicado em Paris. Em 1928, pintou “Abaporu”, tela que inspirou o movimento antropofágico, desencadeado por Oswald de Andrade e Raul Bopp. Em 1930, Tarsila conseguiu o cargo de conservadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo e deu início à organização do catálogo da coleção do primeiro museu de arte paulista. Em 1933, começou uma fase voltada para temas sociais com as obras como “Operários” e “2ª Classe”. 


Em 1936, colaborou como cronista de arte no jornal Diário de São Paulo e, a convite da Comissão do IV Centenário de São Paulo fez, em 1954, o painel “Procissão do Santíssimo”, que retrata a procissão com o Santíssimo Sacramento da Eucaristia em uma rua da cidade de São Paulo, em meados do século XVIII.

Fonte: www.enciclopedia.itaucultural.org.brhttp://www.osaopaulo.org.br/noticias/a-religiosidade-popular-nas-obras-d...

'Procissão', 1941, obra do acervo da Associação Paulista de Medicina