Ensino religioso: "é preciso gostar de gente"

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21/07/2015 - 13:45

O TRANSCENDENTE: Como e por que passou a atuar com Ensino Religioso (ER)? E o que isso significa para a sua vida pessoal e profissional?

Janice Schmitt: Por não ter profissional habilitado, a direção da minha escola lançou-me ao desafio de ministrar as aulas de Ensino Religioso, considerando minha participação significativa na comunidade de fé. Inicialmente, eu me baseava nas sugestões da Igreja Católica, pois a maioria dos alunos pertencia a essa confissão religiosa. No entanto, com o passar dos anos, comecei a perceber que o fenômeno religioso estava mudando o cenário da nossa escola. Timidamente, alguns alunos começavam a manifestar crenças diferentes cujos questionamentos mereciam ser contemplados no currículo. A legislação veio para fortalecer a mudança de olhar para o ER.

OT: Quais os principais tipos de dificuldades você enfrenta na atividade de Ensino Religioso? Como procura enfrentá-las?

Janice: A primeira grande dificuldade foi a minha falta de conhecimento para desenvolver os conteúdos específicos de ER. Era preciso buscar formação por meio de cursos de extensão, pois não havia graduação na minha região. Pelo que se constata, ainda não há, tendo em vista a falta de interessados para completar uma turma. Outra dificuldade é romper com o paradigma de proselitismo que interfere no diálogo inter-religioso. O radicalismo, independentemente do credo religioso, não contribui para o enriquecimento das aulas. É preciso ter uma postura dialógica, respeitando as diferentes manifestações religiosas.

OT: E quais as principais conquistas que obteve nessa área?

Janice: Foram experiências incríveis e emocionantes. É lindo você perceber que os alunos sentem necessidade de falar sobre o transcendente, sobre experiências de vida, sobre o conhecimento de outras religiões. Afinal, o ser humano vai muito além do racional, do individualismo, dos aspectos físicos, econômicos. Entre inúmeros momentos, quero destacar a manifestação de um jovem da EJA (Educação de Jovens e Adultos) que se mostrou contrário a participar das aulas de ER, porque não queria ouvir falar de Deus. Não me dei por vencida e continuei planejando com seriedade as aulas e procurava estabelecer pontes com outras disciplinas. No final do ano, fui surpreendida com uma carta deste jovem relatando seu enriquecimento pessoal e sua melhor referência ao respeito pelo diferente. Isso, definitivamente, não tem preço.

OT: O que julga mais importante o professor de ER ter em mente no exercício de sua atividade?

Janice: Como diz um amigo meu, em primeiro lugar, "é preciso gostar de gente". Somado a isso vem o conhecimento do fenômeno religioso, a legislação vigente, o efetivo planejamento, o trabalho interdisciplinar para realizar um trabalho em equipe. É preciso correr em busca de formação continuada e, se possível, lutar por uma graduação nesta área do conhecimento.

OT: E suas perspectivas para o futuro?

Janice: Continuo esperançosa e lutando para que o ER seja abraçado com amor e competência pelos professores. Acredito na importância desta disciplina e, oxalá, que os colegas professores, sejamos movidos pela transformação que o ER pode provocar no coração e nas atitudes das pessoas.

Fonte: Edição nº 34 – Ano IX do Jornal O Transcendente – página 12