Alarme para a Amazônia

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10/10/2019 - 11:00

O episcopado brasileiro reunido em Belém

Alarme para a Amazônia

Enquanto as chamas continuam a devorar a floresta (a fumaça chegou até ao Uruguai e Argentina), os bispos brasileiros da Amazónia decidiram reunir-se de 28 a 30 de agosto em Belém, capital do estado do Pará, para responder à emergência do incêndio e também para preparar o sínodo para a Amazónia que terá lugar em outubro no Vaticano. A Assembleia foi promovida pela Comissão episcopal especial para a Amazónia da Igreja brasileira, juntamente com a Rede eclesial pan-amazônica do Brasil e o Regional Norte 2 da Conferência episcopal. Participam os bispos das 56 circunscrições eclesiásticas do território amazónico brasileiro.

Nos últimos dias, o episcopado manifestou-se através de uma mensagem na qual se considera «urgente que os governos dos países amazónicos, em particular o Brasil, tomem medidas sérias para salvar uma região-chave para o equilíbrio ecológico do planeta». Depois de uma série de «desentendimentos e escolhas erradas», afirmam os prelados, é necessária uma grande sensibilização face à «gravidade da tragédia e de outras situações irracionais e gananciosas, com grandes impactos locais e planetários». Recentemente foi adotado o plano do governo para acabar com os incêndios com a mobilização de mais de 44 mil soldados flanqueados por meios aéreos, navais e terrestres. No contexto dos 72 mil incêndios deste ano (+84% em relação a 2018), persiste uma ameaça constante de desmatamento, usado para conquistar novos terrenos aráveis. O Mato Grosso, onde mais de 45.000 focos de incêndio foram registados, é a região mais atingida. «Se este compromisso não for assumido — foi a admoestação — todos sofrerão perdas irreparáveis». O povo brasileiro, os seus representantes e os seus servidores, afirma a presidência do episcopado, são «os principais responsáveis pela proteção e preservação da inteira região amazónica».

Mas todos os bispos sul-americanos levantam as suas vozes: A nossa casa comum está em chamas é o título do documento publicado pela Igreja boliviana na conclusão da recente assembleia pré-sinodal dedicada à Amazónia. No texto, os bispos dizem que se sentem «consternados, indignados e quase impotentes» diante dos incêndios deflagrados no país, especialmente nas regiões orientais da Chiquitanía e do Chaco. «Cerca de um milhão de hectares da nossa floresta amazónica são consumidos pelo fogo; o dano é enorme, ainda incalculável, e afeta a saúde humana, as formas de vida das comunidades indígenas, a biodiversidade, os recursos ambientais», ressaltam, acusando que «esta catástrofe é o resultado da ação humana».

A declaração menciona, entre outras coisas, o recente decreto 3973 do governo de Evo Morales, que em julho passado autorizou «incêndios controlados» de terrenos, para incentivar o avanço do espaço para a criação de gado, incrementando assim mais fogos ilegais. Apesar da orientação do governo, os participantes da assembleia afirmam que também no seu país se obedece à «lógica dominante» do «capitalismo tecnocrático e agressivo contra a sua irmã e mãe terra e de um modelo de desenvolvimento consumista e destruidor da natureza, que se manifesta em grandes projetos hidroelétricos e de exploração de hidrocarbonetos, na expansão das áreas agrícolas, na construção de estradas com forte impacto ambiental e na antiga lógica do extrativismo». Essas escolhas «minam os direitos dos povos indígenas». O documento do episcopado boliviano conclui-se anunciando que a Igreja pretende «unir-se na solidariedade», também com a ajuda material e as doações às populações atingidas pelos incêndios, enquanto pede ao governo para destinar recursos a fim de extinguir os incêndios e evitar que as chamas se propaguem.

Neste contexto, o papel do próximo sínodo representa «um sinal de esperança e uma fonte de importantes indicações sobre o dever de preservar a vida, a partir do respeito pela criação». Construamos juntos — concluíram — uma nova ordem social e política, à luz dos valores do Evangelho de Jesus, para o bem da humanidade, da Pan-amazônica, da sociedade brasileira, especialmente dos pobres desta terra».

O apelo à proteção da floresta também foi lançado pelos bispos peruanos reunidos em assembleia plenária: «Estamos preocupados com a Amazónia, fonte de vida que inclui dois terços do território nacional», disseram os bispos, esperando que o sínodo «ofereça contribuições importantes para descobrir novos caminhos para uma ecologia integral». Os bispos argentinos e paraguaios também participaram no debate, apoiando as posições recentemente tomadas pelo Conselho episcopal latino-americano e manifestando a sua proximidade às pessoas atingidas pela devastação dos incêndios que, segundo os bispos, estão a causar danos em escala mundial. Em particular, os bispos do Paraguai recordam a importância que tem no nosso planeta a cultura do descarte: «Estamos convictos — concluíram numa nota — como autoridades do CELAM, de que a unidade e a solidariedade dos governos dos países amazónicos, especialmente do Brasil e da Bolívia, das Nações Unidas e da comunidade internacional, devem tomar medidas urgentes para salvar o pulmão do mundo».

Por fim, do México, a Comissão para a pastoral social da Conferência episcopal exorta a «unir os esforços» e sublinha que a catástrofe na Amazónia nos recorda «que o nosso território está em perigo, porque na nossa casa comum tudo está interligado», lançando um sincero apelo ao mundo inteiro para que «corrija as atitudes egoístas e destrutivas» ligadas ao modelo tecnocrático.

(Fonte: Edição 035, do jornal “L’osservatore Romano”, de 27 de agosto de 2019, p. 12).