ENSINAI-NOS A REZAR

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06/02/2019 - 10:15

Ensinai-nos a rezar

«Mesmo se rezamos há muitos anos, devemos aprender sempre!» e é possível fazê-lo olhando para Jesus, «mestre de oração», frisou o Papa, inaugurando — na audiência geral de quarta-feira, 5 de dezembro, na Sala Paulo VI — um ciclo de catequeses dedicadas ao Pai-Nosso

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje iniciamos um ciclo de catequeses sobre o “Pai-Nosso”.

Os Evangelhos transmitiram-nos alguns retratos muito vivos de Jesus como homem de oração: Jesus rezava. Não obstante a urgência da missão e a premência de tantas pessoas que o reivindicavam, Jesus sentia a necessidade de se afastar na solidão e de orar. O Evangelho de Marcos narra-nos este pormenor desde a primeira página do ministério público de Jesus (cf. 1, 35). O dia inaugural de Jesus em Cafarnaum concluiu-se de modo triunfal. Ao anoitecer, uma multidão de doentes chegou à porta onde Jesus estava: o Messias prega e cura. Realizam-se as antigas profecias e as expetativas de muitos sofredores: Jesus é o Deus próximo, o Deus que nos liberta. Mas aquela multidão ainda é pequena se for comparada a muitas outras multidões que se reunirão em volta do profeta de Nazaré; em certos momentos trata-se de assembleias oceânicas, e Jesus permanece no centro de tudo, o esperado pelo povo, o êxito da esperança de Israel.

E, no entanto, ele afastava-se; não permanecia refém das expetativas de quem o elegeu líder. Este é um perigo para os líderes: apegar-se demasiado às pessoas, não manter as distâncias. Jesus dá-se conta disto e não permanece refém do povo. Desde a primeira noite de Cafarnaum demonstra que é um Messias original. Na última parte da madrugada, quando já se anunciava a aurora, os discípulos procuravam-no mas não conseguiam encontra-lo. Onde está? Até que Pedro finalmente o encontra num lugar isolado, completamente absorto em oração. E diz-lhe: «Todos te procuram!» (Mc 1, 37). A exclamação parece ser a cláusula ligada a um sucesso plebiscitário, a prova do bom êxito de uma missão.

Mas Jesus diz aos seus discípulos que deve ir para outro lugar; que não é o povo que o procura mas, antes de tudo, é Ele que procura os outros. Por isso não pode ganhar raízes, mas permanece continuamente peregrino pelas estradas da Galileia (vv. 38-39). E peregrino também rumo ao Pai, isto é: rezando. A caminho em oração. Jesus reza. E tudo acontece numa noite de oração.

Nalgumas páginas da Escritura parece que principalmente é a oração de Jesus, a sua intimidade com o Pai, que governa tudo. Por exemplo, será assim sobretudo na noite do Getsemani. O último trecho do caminho de Jesus (absolutamente o mais difícil entre os que tinha percorrido) parece encontrar o seu sentido na escuta contínua que Jesus oferece ao Pai. Uma oração certamente não fácil, aliás, uma verdadeira “agonia”, no sentido agonístico dos atletas, e, no entanto, uma prece capaz de apoiar o caminho da cruz.

Eis o ponto essencial: ali Jesus rezava.

Jesus orava com intensidade nos momentos públicos, partilhando a liturgia do seu povo, mas procurava também lugares afastados, separados do turbilhão do mundo, lugares que permitissem entrar no segredo da sua alma: é o profeta que conhece as pedras do deserto e sobe aos cimos dos montes. As últimas palavras de Jesus, antes de expirar na cruz, foram palavras dos salmos, isto é da oração, da prece dos judeus: rezava com as orações que a mãe lhe ensinara.

Jesus orava como todos os homens do mundo. E no entanto, no seu modo de rezar, havia também um mistério, algo que certamente não escapava aos olhos dos seus discípulos, se nos Evangelhos encontramos aquela súplica tão simples e imediata: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11, 1). Eles viam Jesus rezar e tinham vontade de aprender a orar: “Senhor, ensina-nos a rezar”. E Jesus não se recusou, não era ciumento da sua intimidade com o Pai, pois veio precisamente para nos introduzir nesta relação com o Pai. E assim torna-se mestre de oração dos seus discípulos, como certamente quer sê-lo para todos nós. Também nós devemos dizer: “Senhor, ensina-me a rezar. Ensina-me”.

Mesmo se rezamos há muitos anos, devemos aprender sempre! A oração do homem, este anseio que nasce de maneira tão natural da nossa alma, talvez seja um dos mistérios mais impenetráveis do universo. E não sabemos sequer se as preces que dirigimos a Deus são efetivamente aquelas que Ele quer que lhe dirijamos. A Bíblia dá-nos inclusive testemunho de orações inoportunas, que no fim são recusadas por Deus: é suficiente recordar a parábola do fariseu e do publicano. Somente este último, o publicano, volta justificado do templo para casa, porque o fariseu era orgulhoso e gostava que as pessoas o vissem rezar e fingia que orava: o coração era frio. E Jesus disse: este não é justificado «porque quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado» (Lc 18, 14). O primeiro passo para rezar é ser humilde, ir ter com o Pai e dizer: “Olha para mim, sou pecador, débil, malvado”, cada um sabe o que dizer. Mas começa-se sempre com a humildade, e o Senhor ouve. A prece humilde é ouvida pelo Senhor.

Portanto, ao iniciar este ciclo de catequeses sobre a oração de Jesus, o melhor e mais correto que todos deveríamos fazer seria repetir a invocação dos discípulos: “Mestre, ensina-nos a rezar!”. Será bom, neste tempo de Advento, repetir: “Senhor, ensina-me a rezar”. Todos podemos ir além e rezar melhor; mas pedindo-o ao Senhor: “Senhor, ensina-me a rezar”. Façamos isto neste tempo de Advento e Ele certamente não deixará cair no vazio a nossa invocação.

Papa Francisco

(Fonte: Edição 50, do jornal “L’osservatore Romano”, de 11 de dezembro de 2018, p. 03).