Os títulos da Realeza de Maria

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21/09/2017 - 15:00

Os títulos pelos quais podemos chamar Nossa Senhora de Rainha, são os mesmos de Cristo Na ordem sobrenatural a graça coloca Maria tão acima de toda criatura, que não pode deixar de ser a Rainha natural do mundo (incluídos homens e Anjos).

A isto, porém, deve se acrescentar, como sempre, o título jurídico de sua maternidade, fonte de todas suas prerrogativas e funções. Maria é a Mãe do Rei e deve desfrutar das honras de Rainha-Mãe.

E ainda nos deteremos numa ideia: Cristo é Rei graças a Maria.

A arte medieval e, sobretudo, a bizantina, apresenta as figuras do Criador e do Pai com o atributo real da coroa. Com isso significa o poder. Porém, temos ouvido que se diga alguma vez: o Pai, Rei, o Filho ou o Espírito Santo Reis? Não. Este título se reservou a Cristo.

Por que? Porque é um absurdo jurídico ser rei de um país sem participar de sua nacionalidade. É certo que, por exceção, foram eleitos monarcas oriundos do estrangeiro, mas todos eles se nacionalizaram previamente no país em que haviam de reinar. Para ser rei dos espanhóis há que ser espanhol, para sê-lo dos franceses cumpre ser francês. Para ser rei dos homens, há que ser homem. Por isso não se diz nunca do Espírito Santo que seja Rei, e o mesmo Verbo necessitou fazer-se homem e chamar-se Cristo - nome do Verbo humanado - para receber tal título.

Ora Maria é a fonte da humanidade de Cristo, logo a Ela se deve o fato de uma das condições necessárias para o reinado de Cristo. (...)

Rainha por direito de conquista

Recordemos o segundo título de Cristo. Maria foi associada à Redenção.

A beatíssima Virgem foi tomada para auxílio na salvação e consorte no reino, pois só Ela compadeceu com Ele. (...) E, portanto, só Ela obteve o consórcio no reino (cfr. Santo Alberto Magno, Mariale, resp. ad qq. 26-43). Se a maternidade divina é o fundamento radical da realeza mariana, sua compaixão é o mérito da mesma.

Pensamento semelhante é o de outro ilustre mariólogo: Quando ouvimos Jesus prometer a seus apóstolos de os fazer - porque O seguiram se serviram - poderosos em seu reino celeste (Mt. XIX, 27-28), pensamos que Aquela da qual Ele recebeu, do berço à sepultura, do presépio do Calvário, um incomparável auxílio, em recompensa deve ser o primeiro personagem e a mais alta influência, depois d'Ele, nos céus. Compreendemos que Ela seja glorificada e exaltada com Ele, na proporção em que com Ele foi humilhada e martirizada. (...)

Maria participou estreitissimamente e de maneira muito especial, nas grandezas e nas humilhações de Jesus Cristo, para não ser com Ele coroada de glória e de honra, elevada com Ele acima dos próprios Anjos, partilhando sua soberania, Rainha-Mãe ao lado do Rei seu Filho.

De estirpe real

O outro título, ainda a Santíssima Virgem é verdadeiramente Rainha: pertence Ela a uma raça de reis. Ouçamos o Pe. Jourdain: Abundam, neste sentido, os mais autênticos testemunhos. A começar pelo historiógrafo divino (São Mateus, I, 1-17): Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão. Abraão era rei; foi o que deu origem a uma longa sequência de monarcas. Depois Isaac e Jacob até David, foram reis de fato embora não portassem este nome. A partir de David, houve numerosos reis de nome e de fato: reis escolhidos por Deus e postos por Ele sobre o trono. O próprio Abraão recebeu o cetro de suas mãos. As seguintes palavras do Gênese (XII, 2) exprimem bem a transmissão do poder soberano: "Farei sair de vós um grande povo e Eu o abençoarei. Tornarei vosso nome célebre e sereis abençoado. "

David e seus sucessores eram reis, não se o pode contestar. Ora, a Bem-aventurada Virgem Maria descende de David, como nos diz São Mateus. Ele não é o único a dizê-lo. Isaías profeta (XI, 1), igualmente o proclama, quando diz: Sairá um rebento do talo de Jessé, par de David, e uma flor nascerá de sua raiz. O rebento de Jessé é bem a gloriosíssima Virgem Maria; de sua raiz, quer dizer, de seu seio virginal, saiu Nosso Senhor Jesus Cristo, era flor divina de suave e incomparável odor. A Igreja admite esta interpretação, quando, no Ofício da Anunciação, ela aplica a Jesus e a Maria esse texto do Profeta. No Ofício da Natividade da Santíssima Virgem, encontramos essas palavras: "Natividade da gloriosa Virgem Maria, da raça de Abraão, descendente da trino de Judá e da célebre família de David. E pouco depois: "Maria, saída de uma raça real, brilha de um grande fulgor". Donde podemos concluir, sem receio de engano, que Maria descende do santo Rei David, que Ela provém da estirpe de Jessé.

E o Evangelho conforma os oráculos dos Profetas e os ensinamentos da Igreja Católica. As duas genealogias de Nosso Senhor, das quais uma pelo menos é a de Maria, remontam a David e O fazem descender deste Rei. Ora, não era suficiente, para que Jesus fosse efetivamente o Filho de David, que José pertencesse a esta família. Cumpria, sobretudo, e era absolutamente indispensável que Maria descendesse, como Ele, do Santo Rei, pois somente d'Ela tomou Jesus sua humanidade, e só Ela Lhe podia transmitir os direitos de David ao mesmo tempo que seu sangue real.

Fonte: CLÁ DIAS, JOÃO. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. Artpress. São Paulo, 1997, pp. 433-435

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