Romero da América, rogai por nós

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16/06/2015 - 15:30

Em uma tarde de sol quente, milhares de pessoas se reuniram, em 23 de maio, na praça do Salvador do Mundo, para a celebração da beatificação de Monsenhor Oscar Romero. O vermelho vestido naquela celebração não era por causa de Pentecostes, mas do sangue do martírio do pastor que deu a vida por seu rebanho. Afinal, é a isso que o Espírito conduz os pastores da Igreja. E o rebanho ali estava para celebrar seu defensor e protetor, aquele que deu a vida pelos pobres de seu país.

Sim, foi em 1980 que Oscar Romero foi assassinado. Seu processo de beatificação foi acelerado pelo Papa Francisco que reconheceu o martírio do Arcebispo, já que ele foi morto em ódio à fé. Quer dizer, aqueles que decidiram pela sua morte o fizeram porque enxergaram em seu comportamento o testemunho cristão, e não quiseram aceitá-lo. Assim como aconteceu com Jesus e com tantos outros mártires ao longo da história.

Francisco é claro ao reconhecer que Romero foi “bispo e mártir, pastor segundo o coração de Cristo, evangelizador e pai dos pobres, testemunha heróica do reino de Deus, Reino de justiça, fraternidade e paz”. Aí se encontra sua santidade e nisso ele é modelo para toda a Igreja latino-americana. O agora Beato sofreu oposição no interior e no exterior da Igreja, tanto durante seu ministério quanto depois de sua morte. Sempre houve alertas quanto à não motivação ideológica de suas opções pastorais, como se a mesma coisa não devesse ser dita de todas as pessoas e como se a vivência do Evangelho de Jesus não precisasse ser contextualizada.

Muitos obstáculos foram superados e agora se pode cultuar Romero sobre os altares. Se é bom tê-lo como intercessor, muito ainda resta a fazer na atualização de seu exemplo. A defesa dos fracos, a clara tomada de posição diante de um conflito político que nunca foi imaginário e a decidida opção pelos pobres, fatos que estão na raiz de sua santidade, ainda hoje têm sua validade questionada em não poucos setores eclesiais. Ainda há quem pense a espiritualidade separada da história e a relação com Deus prescindindo da encarnação, do Verbo e da Igreja. Ainda há quem rotule de comunista a Igreja que defende os direitos dos mais fracos e quer o estabelecimento da justiça, para além de toda tentativa de dominação. Existe mesmo quem brade gritos de excomunhão contra a Igreja e contra os santos que ela reconhece. Tudo por ideologia que nem sempre é denunciada ou desmascarada.

Os caminhos da Igreja para os próximos anos estão traçados na Evangelii Gaudium, e o sangue dos mártires continua sendo semente de Igreja nesse nosso continente. Um e outro são possíveis e estão na história, como comprova a vida e a beatificação de Romero. O papa latino-americano nos deu um modelo de santidade, para toda a Igreja latino-americana, e nos impulsiona para, efetivamente, sermos Igreja em saída de si e de suas preocupações, para alcançar as periferias onde os pobres sofrem e tentam continuar suas vidas. Pedimos a Romero da América que reze por nós.

Fonte: Edição nº 3055 do Jornal O SÃO PAULO – página 05